Olheiros de clubes europeus na RDCongo: uma esperança para o futebol num país devastado

Publicidade
Publicidade
Publicidade
Mais
Publicidade
Publicidade
Publicidade

Olheiros de clubes europeus na RDCongo: uma esperança para o futebol num país devastado

O Stade de l'Unité em Goma encheu para receber as partidas
O Stade de l'Unité em Goma encheu para receber as partidasAFP
Alexis está comovido. Carrega orgulhosamente o troféu do torneio da Future Pro League. A noite cai em Goma, no leste da República Democrática do Congo, e os olhos do jovem futebolista brilham.

Na noite de domingo, ao fim de quatro dias de competição perante olheiros do AS Monaco, do KAA Gent e do Hertha Berlim, o capitão de 18 anos da equipa GOAL (Goma Academy of Leaders) estava radiante: "A medalha, a taça, é a recompensa pelo meu esforço!".

Para Alexis Isese Chuma, tal como para os rivais das melhores equipas do leste da República Democrática do Congo, uma região devastada por quase 30 anos de conflitos armados e crises humanitárias, jogar perante olheiros internacionais "é uma oportunidade que não aparece duas vezes na vida".

O GOAL celebrou a conquista do troféu
O GOAL celebrou a conquista do troféuAFP

A convite de Ugo Kasuku, fundador da academia de futebol GOAL, em Goma, e organizador desta primeira edição da Future Pro League, três olheiros sentaram-se nas bancadas do Stade de l'Unité, no centro de Goma, a capital da província do Kivu do Norte:

Michel Dinzey, que tem nacionalidade alemã e congolesa, é um antigo médio da Bundesliga e da seleção do Zaire (agora RD Congo), é agora olheiro do Hertha Berlim; Harry Varley, olheiro do Gent, primeiro classificado da Liga belga; e o ídolo dos jovens deste torneio, Distel Zola, antigo internacional congolês e olheiro do Mónaco.

"É um terreno fértil para o talento", disse Zola à AFP, antigo médio defensivo e natural da movimentada capital congolesa, Kinshasa. Como "filho do país", é importante "mostrar a beleza", para destacar "a paz e a alegria" nesta região dilacerada pela violência.

Mas será que encontrou algumas pepitas de ouro durante os quatro dias que passou em Goma? A resposta é afirmativa. "Vi muita maturidade no capitão do DC Virunga, apesar da sua tenra idade". Com apenas 18 anos, Cedric Balingene Salumu lidera a equipa de sub-20 deste famoso clube do leste do país.

"Dar tudo para ser escolhido"

Com a camisola número 4, Salumu conquistou não apenas Distel Zola, mas também Michel Dinzey. "Depois de falar com os dois olheiros, sinto-me orgulhoso de mim próprio", afirma um pouco emocionado após a competição. "Quando um olheiro deixa a Europa para vir a Goma, é preciso dares tudo para teres uma hipótese de ser escolhido", diz o jovem capitão.

Ugo Kasuku, por sua vez, insiste que "apesar do que está a acontecer, temos de continuar a avançar", apesar de a linha da frente da rebelião do M23 - que tomou à força grandes áreas do Kivu do Norte no último ano - estar a menos de 30 quilómetros do estádio.

O estádio encontra-se perto de uma linha de conflito
O estádio encontra-se perto de uma linha de conflitoAFP

Há oito anos, lançou a sua escola de futebol para compensar a "falta de acompanhamento" dos jovens desportistas. Atualmente, acolhe entre 150 e 200 aprendizes de futebol de todo o leste do país. E para além do desporto, quer "formar jovens congoleses com qualidades que ajudem o país" a ultrapassar as dificuldades.

Com esta primeira edição da Future Pro League, o objetivo não era apenas fazer com que os grandes clubes descobrissem jogadores talentosos, mas também mostrar aos pais que as crianças "não perdem o seu tempo a jogar futebol". Depois de vários dias em Goma, Harry Varley, do KAA Gent, descreveu a visita ao Congo como "uma experiência extraordinária", embora considere que "é preciso trabalhar mais" para preparar estes jovens "para o mais alto nível".

O seu clube, acrescenta, já se comprometeu a "voltar para a próxima edição" do torneio. Ao contrário do que o jovem Alexis pensava, é possível que Goma tenha outras oportunidades de atrair os maiores clubes do mundo.