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Os "reforços" que Marrocos descobriu na comunidade migrante

Os "reforços" que Marrocos descobriu na comunidade migrante
Os "reforços" que Marrocos descobriu na comunidade migranteAFP
A grande surpresa do Mundial-2022, Marrocos chega às meias-finais do Campeonato do Mundo com vários jogadores nascidos na diáspora que vieram reforçar as opções já existentes. Uma mudança de paradigma que começou em 2018.

14 dos 26 convocados de Marrocos para o Mundial-2022 nasceram fora do país. Um recorde entre as 32 seleções que participara no Campeonato do Mundo e que concedeu a Walid Regragui uma mistura eclética de jogadores que cresceram em variadas comunidades migrantes na Europa.

Para já, tudo parece estar a funcionar, uma vez que os Leões dos Atlas se tornaram na primeira seleção africana a atingir as meias-finais de um Mundial, ao vencerem Portugal (1-0), nos quartos de final.

Bono (nasceu no Canadá) tem sido um esteio defensivo na baliza e sofreu apenas um golo, Hakimi (Espanha) é um dos grandes perigos na equipa quando sobe pelo flanco direito, Amrabat (Países Baixos) é o farol do meio-campo marroquino e Boufal (França) tem deslumbrado com a qualidade técnica, com Ziyech (Países Baixos) a surgir no outro lado.

"Os meus pais são marroquinos, os meus avós também. Cada vez que visito o país desperta um sentimento dentro de mim que não consigo descrever, sinto-me em casa. Os Países Baixos também são a minha casa, mas Marrocos é especial", explicou Amrabat quando decidiu representar os Leões do Atlas.

É o resultado de uma mudança de paradigma que começou em 1998 quando pela primeira vez Marrocos chamou jogadores que nasceram fora do país. Desde então, a federação local tem trabalhado na procura de jogadores elegíveis em países como Alemanha, Bélgica, Espanha, França, Itália ou Países Baixos. E matéria-prima não falta.

De acordo com Conselho para a Diáspora de Marrocos, uma agência criada pelo executivo de Rabat, existem cinco milhões de migrantes marroquinos em solo Europeu, sendo que desses 61 por cento visita o país pelo menos uma vez por ano, mantendo assim a ligação.

"Falamos com estes jogadores muito cedo, para os fazer mudar para Marrocos. Não forçamos nada, temos uma conversa sincera com o atleta e a família", explicou Noureddine Moukrim, treinador de clubes formação na Bélgica que faz prospeção para Marrocos.

Contudo, esta transição não foi simples. E após o feito histórico alcançado no domingo, o Walid Regragui deixou um desabafo.

"Antes deste Mundial tivemos muito problemas com os que nasceram na Europa e não em Marrocos. Vi muito jornalistas a perguntar porque não jogávamos só com jogadores daqui. Acho que mostrámos que todos são marroquinos e que quando chegam à seleção estão dispostos a morrer a lutar. Eu também nasci em França, mas há um único país que tem o meu coração", explicou.

Não é caso único

De resto, mais do que uma exceção esta situação está a tornar-se uma norma. Das 32 seleções que disputaram o Mundial do Catar, 28 levaram pelo menos um jogador que não nasceu no país. Marrocos é recordista com 14, seguida de Tunísia e Senegal, ambos com 12, sendo que o anfitrião Catar tinha 10 jogadores estrangeiros (um dos quais é Pedro Miguel Correia, nascido em Algueirão Mem-Martins).

Portugal levou sete atletas que não nasceram em solo nacional: Pepe, Matheus Nunes e Otávio (Brasil); Diogo Costa (Suíça); Danilo Pereira (Guiné-Bissau); Raphael Guerreiro (França); e William Carvalho (Angola).

O dinamarquês Robert Skov (nasceu em Marbella, Espanha), o francês Marcus Thuram (registado em Parma, Itália, onde pai jogava), ou o neerlandês Luuk de Jong (Aigle, Suíça) são alguns dos casos menos conhecidos.