14 dos 26 convocados de Marrocos para o Mundial-2022 nasceram fora do país. Um recorde entre as 32 seleções que participara no Campeonato do Mundo e que concedeu a Walid Regragui uma mistura eclética de jogadores que cresceram em variadas comunidades migrantes na Europa.
Para já, tudo parece estar a funcionar, uma vez que os Leões dos Atlas se tornaram na primeira seleção africana a atingir as meias-finais de um Mundial, ao vencerem Portugal (1-0), nos quartos de final.
Bono (nasceu no Canadá) tem sido um esteio defensivo na baliza e sofreu apenas um golo, Hakimi (Espanha) é um dos grandes perigos na equipa quando sobe pelo flanco direito, Amrabat (Países Baixos) é o farol do meio-campo marroquino e Boufal (França) tem deslumbrado com a qualidade técnica, com Ziyech (Países Baixos) a surgir no outro lado.
"Os meus pais são marroquinos, os meus avós também. Cada vez que visito o país desperta um sentimento dentro de mim que não consigo descrever, sinto-me em casa. Os Países Baixos também são a minha casa, mas Marrocos é especial", explicou Amrabat quando decidiu representar os Leões do Atlas.
É o resultado de uma mudança de paradigma que começou em 1998 quando pela primeira vez Marrocos chamou jogadores que nasceram fora do país. Desde então, a federação local tem trabalhado na procura de jogadores elegíveis em países como Alemanha, Bélgica, Espanha, França, Itália ou Países Baixos. E matéria-prima não falta.
De acordo com Conselho para a Diáspora de Marrocos, uma agência criada pelo executivo de Rabat, existem cinco milhões de migrantes marroquinos em solo Europeu, sendo que desses 61 por cento visita o país pelo menos uma vez por ano, mantendo assim a ligação.
"Falamos com estes jogadores muito cedo, para os fazer mudar para Marrocos. Não forçamos nada, temos uma conversa sincera com o atleta e a família", explicou Noureddine Moukrim, treinador de clubes formação na Bélgica que faz prospeção para Marrocos.
Contudo, esta transição não foi simples. E após o feito histórico alcançado no domingo, o Walid Regragui deixou um desabafo.
"Antes deste Mundial tivemos muito problemas com os que nasceram na Europa e não em Marrocos. Vi muito jornalistas a perguntar porque não jogávamos só com jogadores daqui. Acho que mostrámos que todos são marroquinos e que quando chegam à seleção estão dispostos a morrer a lutar. Eu também nasci em França, mas há um único país que tem o meu coração", explicou.
Não é caso único
De resto, mais do que uma exceção esta situação está a tornar-se uma norma. Das 32 seleções que disputaram o Mundial do Catar, 28 levaram pelo menos um jogador que não nasceu no país. Marrocos é recordista com 14, seguida de Tunísia e Senegal, ambos com 12, sendo que o anfitrião Catar tinha 10 jogadores estrangeiros (um dos quais é Pedro Miguel Correia, nascido em Algueirão Mem-Martins).
Portugal levou sete atletas que não nasceram em solo nacional: Pepe, Matheus Nunes e Otávio (Brasil); Diogo Costa (Suíça); Danilo Pereira (Guiné-Bissau); Raphael Guerreiro (França); e William Carvalho (Angola).
O dinamarquês Robert Skov (nasceu em Marbella, Espanha), o francês Marcus Thuram (registado em Parma, Itália, onde pai jogava), ou o neerlandês Luuk de Jong (Aigle, Suíça) são alguns dos casos menos conhecidos.