De bandeirinhas na mão, camisolas da seleção francesa de futebol e cartazes com o símbolo dos Jogos Olímpicos, centenas de pessoas encheram hoje as praças e ruas de Évreux, na Normandia, para assistir à passagem da tocha olímpica.
“Faz-me lembrar quando eu era pequena. Vi a tocha olímpica em Grenoble (nos Jogos Olímpicos de Inverno de) 1968. Já foi há muito tempo”, diz à Lusa Sylvie, de 67 anos, que tinha nove na última vez que viu a tocha olímpica passar e que, ainda assim, recorda o espírito de união que o evento provocou no país.
“Havia muita gente nas ruas, uma grande fraternidade. O desporto provoca isso: sabe bem, estamos com os outros e há partilha”, diz Sylvie. Quase 60 anos depois, a aldeia voltou a vestir-se a rigor para o evento: de mensagens nos ecrãs dos autocarros, a cartazes nas montras das lojas, “não havia como escapar ao acontecimento”, diz à Lusa Myriam, de 60 anos.
Na véspera da segunda volta das eleições legislativas francesas - que, segundo as sondagens, deverão ser ganhas pela União Nacional (Rassemblement National, em francês, de extrema-direita) - os habitantes de Évreux esperam que os Jogos Olímpicos possam ser um “momento de união” após a tensão que têm sentido no país.
Francis, de 67 anos, decidiu fazer hoje os 30 quilómetros desde o lugar onde mora, perto de Neubourg, só para vir ver a tocha olímpica, salientando que um evento assim só acontece a cada 100 anos (os últimos Jogos Olímpicos de verão realizados em França foram em 1924).
“É agora que temos de dar a nossa melhor imagem: juntar toda a gente, todas as nacionalidades e garantir que vai ser um belo evento desportivo. Estamos a precisar, tendo em conta a situação um bocadinho tensa”, refere o sexagenário.
Esta vontade de união parece ser partilhada pela organização dos Jogos Olímpicos, pelo menos aqui em Évreux. Das 16 pessoas que foram hoje escolhidas para transportar a tocha pelo centro da aldeia - num percurso que durou cerca de 40 minutos -, estão personalidades de várias modalidades desportivas e profissões, e até pessoas de outras nacionalidades.
Foi por uma delas que Fabiani, de 29 anos, veio a Évreux. Com uma camisola da seleção brasileira, veio manifestar apoio ao seu amigo Thiago, do Comité Olímpico do Brasil, que transportou a tocha durante uma curta parte trecho do trajeto. Agora, só tem elogios para a organização.
“Esta galera entendeu tudo do espírito dos Jogos. É a união, entender que todo o mundo está fazendo uma coisa super legal pelo mundo, por todos os atletas. É uma celebração. Os Jogos Olímpicos são a celebração da união”, salienta a jovem, que vive há um ano em Paris, vinda do Rio de Janeiro, onde se realizaram os Jogos Olímpicos de 2016.
Durante o trajeto, as pessoas aplaudiram a passagem da tocha, tirando muitas fotografias e ‘selfies’. Num dia que consideram de união, a maioria rejeita mesmo falar de política, mas concordam todos na ideia que uma eventual mudança de Governo não vai afetar em nada a organização dos Jogos Olímpicos.
“O Governo não vai mudar nada. Quer esteja lá o Pedro ou o Paul, vai ser igual: isto já está previsto há muito tempo e acho que estão todos a par. Quer dizer, nunca se sabe, mas pelo menos espero que ninguém se tenha esquecido”, graceja Pierrot, de 66 anos, à Lusa.
Hoje, antes de irem votar no domingo, a mensagem que ficou em Évreux foi sobretudo de fraternidade: entre gerações, nacionalidades e pessoas, sem olhar para cores políticas. Philippe, de 58 anos, fez questão de vir mostrar ao filho a passagem da tocha para que o jovem de 8 anos não se esqueça dos valores que representa.
“Representa o desporto, mas também a união, a fraternidade, a solidariedade. São valores de que precisamos atualmente e eu quis mostrar-lhe que o povo francês também se consegue unir”, salienta Philippe, que espera que os Jogos Olímpicos tragam uma “mensagem de paz” para o país e para o mundo.
Os Jogos Olímpicos começam em 26 de julho em Paris e terminam em 11 de agosto. A tocha olímpica tem atravessado o país desde 08 de maio, tendo também estado nos chamados “territórios ultramarinos” franceses, como a Polinésia Francesa ou a ilha da Reunião.