Aposta na experiência
Vencedora da última Copa América e sem perder há 36 jogos, a Argentina de Lionel Scaloni apresenta-se com um onze cada vez mais firmado e na entrada no Mundial-2022 o selecionador optou por não fazer grandes mudanças.
Se tivermos em conta a equipa que venceu o Brasil, há um ano na Copa América, apenas fez três alterações: Nahuel Molina e Nicolás Tagliafico entraram para os lugares de Montiel e Acuña, nas faixas laterais, com Papu Gómez, a fazer o primeiro Mundial aos 34 anos, a ficar com o lugar do lesionado Giovani Lo Celso, ausente da convocatória.
Na Arábia Saudita, Hervé Renard apostou nas principais figuras, com Al Dawsari a ser o responsável por inserir alguma criatividade no conjunto saudita.
Jogar no risco
Teoricamente inferior, poderia pensar-se que a tendência da Arábia Saudita seria entrar com um bloco baixo para limitar a criatividade da Argentina. Nada disso. Com uma estratégia arriscada, Hervé Renard subiu a linha defensiva e foi assim que conseguiu condicionar os artistas do lado albiceleste.
Foi um plano praticamente perfeito, não fosse o VAR alertar Slavko Vincic para uma queda de Leandro Paredes na área, antes de um livre. Assinalado o penálti, Lionel Messi foi chamado a converter e não desperdiçou, tornando-se no primeiro jogador argentino a marcar em quatro Mundiais diferentes (2006, 2014, 2018 e 2022) e igualou Pelé, Uwe Seeler, Miroslav Klose e Cristiano Ronaldo ao apontar golos em quatro Campeonatos do Mundo.
A vantagem da Argentina até podia ter sido maior, mas a equipa de Lionel Scaloni terminou a primeira parte com três golos anulados – o bis de Messi (22 minutos) e dois a Lautaro Martínez (27 e 34 minutos) – numa etapa inicial em que a Albiceleste foi apanhada em fora de jogo em sete ocasiões.
Reveja aqui as incidências da partida
Reviravolta Saudita com um toque de magia
A imagem deixada na primeira parte por parte da Arábia Saudita devia ter servido de aviso para a Argentina e para o que viria a acontecer durante os primeiros 10 minutos da segunda parte.
Novamente pressionantes, os sauditas viram a audácia ser recompensada com uma reviravolta iniciada aos 48 minutos: Al Buraikan recuperou a bola na zona do meio-campo e lançou no imediato Al Shehri que na frente de Romero não se encolheu e bateu Emiliano Martínez.
Cinco minutos depois aconteceu o momento da partida. Num lance de insistência, Al Dawsari recebeu a bola no lado esquerdo, tirou um adversário do caminho e rematou em arco, para o fundo das redes da Argentina. Golpe de teatro em Lusail e com nota artística por parte da Arábia Saudita.
O fim da invencibilidade
Surpreendida e em desvantagem, a Argentina sentiu dificuldades para voltar a entrar no bloco defensivo da Arábia Saudita. Foi de Tagliafico a oportunidade que causou maior frisson, mas o guarda-redes saudita mostrou reflexos apurados os 63 minutos, quando defendeu o desvio do defesa à boca da baliza. Aos 84 minutos voltou a mostrar atenção após cabeceamento de Messi.
O apito final de Slavko Vincic significou o ponto final numa sequência de 36 jogos consecutivos sem perder da Argentina, que ficou a um de igualar o recorde da Itália (37 partidas entre 2018-2021). Desde 1990 que a Albiceleste não começava um Mundial a perder, sendo que na altura era a campeã do Mundo e foi surpreendida pelos Camarões (0-1).
Quanto à Arábia Saudita somou a quarta vitória em Mundiais, esta diante do adversário mais sonante (bateu Marrocos e Bélgica em 1994, e o Egito em 2018). Mais um feito a acrescentar à lista do treinador Hervé Renard que ganhou a alcunha de feiticeiro branco (pelo facto de utilizar sempre uma camisa branca) depois de levar a Zâmbia à conquista do Campeonato Africano das Nações, em 2012.
Homem do jogo Flashscore: Al Dawsari (Arábia Saudita)