Segundo explica à Lusa o presidente do Comité Paralímpico de Portugal (CPP), José Manuel Lourenço, Portugal até se fez representar primeiro nos Jogos de Stoke-Mandeville, um precursor dos Paralímpicos, na sua oitava edição, em 1959 na cidade britânica com o mesmo nome.
“Estiveram dois militares da Força Aérea, José Correia Frade e Orlando Silva, no tiro com arco”, recorda.
Jorge Carvalho, antigo professor na Faculdade de Motricidade Humana (FMH) e coordenador do Desporto da Conferência de Ministros da Juventude e Desporto (CMJD) da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, baliza a participação em entrevista à Lusa.
“Na altura, eram deficientes de guerra, muitos do Ultramar. Estavam no Centro de Reabilitação do Hospital de Alcoitão e no Hospital Ortopédico de Santana. Um deles teve a lesão na Guiné, António Vilarinho. Mantém-se ativo no desporto”, recorda.
O antigo chefe de missão em cinco participações em Jogos Paralímpicos, de resto, destacou Vilarinho como um dos exemplos mais notórios daquela seleção – além da longevidade no desporto.
Vilarinho foi baleado na Guiné, durante a Guerra Colonial, mas isso não o impediu de continuar a jogar basquetebol até aos setentas, dando visibilidade à reivindicação das pessoas com deficiência na sua cidadania plena em sociedade.
Aqueles 11 atletas chegaram aos Paralímpicos num contexto de utilização do desporto em programas de reabilitação física no pós-guerra, seja após a I Grande Guerra e depois a II Guerra Mundial, destacando-se o trabalho de Ludwig Guttman, que “foi convidado para estar em Portugal e dar o parecer da construção do Centro de Medicina de Reabilitação de Alcoitão”, aberto em 1966.
“Em Stoke-Mandeville, recebeu profissionais do setor de saúde, que foram fazer lá estágio. Foi esta combinação, por um lado Guttman, que esteve em Portugal, e depois Stoke-Mandeville, que levou a que Portugal integrasse o desporto no programa de reabilitação, e depois participasse nos Jogos”, frisa Jorge Carvalho.
O setor da saúde teve, assim, “um peso importante” para esta seleção pioneira, contando com António Botelho e Vilarinho, e que venceu um dos quatro jogos que disputou, com a Suíça, cedendo ante Espanha, Bélgica e Canadá.
Numa reportagem da Super Interessante, citada no portal “É Desporto”, Vilarinho lembrava o mundo diferente que encontrou em Heidelberg, onde as pessoas com deficiências não eram tratadas como “o coitadinho”.