50 anos do 25 de Abril: Manuel Sérgio lembra abertura do desporto mas critica “Deus-lucro”

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50 anos do 25 de Abril: Manuel Sérgio lembra abertura do desporto mas critica “Deus-lucro”
Manuel Sérgio, professor catedrático aposentado
Manuel Sérgio, professor catedrático aposentadoLUSA
O professor catedrático aposentado Manuel Sérgio, um dos grandes pensadores do desporto após o 25 de Abril de 1974, lembrou que com o fascismo se abriu o país ao mundo mas criticou o “Deus-lucro” que domina o futebol profissional.

Em entrevista à Lusa, Manuel Sérgio recordou o passado enquanto professor no ISEF e na Direção-Geral dos Desportos, antes do 25 de Abril, e a forma como o país, e o setor desportivo com ele, se abriram a outras formas de trabalhar.

“Vinham perguntar-me, no estrangeiro, porque é que o país estava metido naquela guerra... os métodos de treino mais recentes não chegavam a Portugal. Não é por acaso que o nosso futebol progrediu tanto a partir de determinada altura”, afirmou.

Além de deixar elogios ao atual presidente da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), Fernando Gomes, Manuel Sérgio notou como Portugal melhorou drasticamente as prestações internacionais, os métodos de treino e a competitividade ao tornar-se “hoje uma nação aberta”.

“Isto faz com que haja um contacto permanente entre Portugal e os outros países, e são assim conhecidos métodos de treino que não assim eram quando estávamos fechados ao mundo. As pessoas não entendem isto”, explicou.

Viveu num país em que tinha “medo de falar, porque o outro tipo podia ser informador da PIDE”, e depois do 25 de Abril sentiu uma mudança no setor em que trabalhava, apresentando de seguida vários elementos de uma visão crítica do país e do setor desportivo.

“O facto de um país ter determinadas características aparece também na prática desportiva. Era assim na ditadura, e é assim agora, quando temos uma liberdade que não tínhamos”, contou.

Foi com essa liberdade que o filósofo e educador, nascido em 1933 e que foi também deputado e dirigente desportivo, pôde assinar várias obras que o colocaram como um dos principais pensadores em Portugal.

“Para uma nova dimensão do desporto” e “Para uma renovação do desporto nacional” foram publicados em 1974, seguindo-se “Desporto em Democracia”, em 1976, e uma série de obras filosóficas sobre motricidade humana e desporto, culminando em “Para uma epistemologia da motricidade humana”, em 1987.

Olhando para o futebol atual, mantém o encanto “pelo bonito espetáculo desportivo”, mas alerta para uma tendência que sente que tem vindo a acentuar-se.

“O desporto atual tem um Deus, o Deus-lucro. Obriga o jogador a dar mais do que a saúde permite. Faz algum sentido dois jogos por semana, sempre a dizer às pessoas que se vai dar o máximo e ganhar? Isto não faz bem à saúde, física ou psicológica. Isto estoira com um tipo”, critica.

De resto, lembra uma velha máxima do seu trabalho, de que “ninguém faz desporto de alta competição para ter saúde, faz porque tem saúde”, para apontar para a necessidade de colocar em primeiro plano “o respeito pelo jogador”.

“O dinheiro não deve valer mais do que uma lágrima humana. Defendo um desporto de alta competição em que haja respeito pelo jogador, e por vezes este tem de subordinar-se, aos imperativos dos media ou dos homens da televisão... tem de ser respeitado em todas as circunstâncias, como qualquer ser humano”, remata.

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