50 anos do 25 de Abril: Seleção em contraciclo com clubes em plena revolução

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50 anos do 25 de Abril: Seleção em contraciclo com clubes em plena revolução
Chalana foi uma das maiores figuras da seleção portuguesa no pós-25 de abril
Chalana foi uma das maiores figuras da seleção portuguesa no pós-25 de abrilProfimedia
A seleção portuguesa de futebol evoluía em contraciclo com os clubes nacionais e passou despercebida pela agitação sociopolítica do 25 de abril de 1974, descredibilizando-se na opinião pública com lutas de poder e resultados discretos.

“Havia um futebol muito competente nos clubes e incompetente a nível de seleções, para não dizer completamente anedótico. Isto faz com que as pessoas se afastem da seleção. Não me parece que esta tivesse ficado associada ao antigo regime, mas a sua realidade era antagónica à dos clubes. O caso Saltillo (com rebelião e uma greve dos jogadores no Mundial 1986) é paradigma disso”, avaliou à agência Lusa o historiador Ricardo Serrado.

Afastado da fase final do Mundial 1974, realizado na então Alemanha Ocidental, Portugal cumpriu três partidas nesse ano e alinhou pela última vez no período pré-democrático em 03 de abril, num particular frente à Inglaterra (0-0), no antigo Estádio da Luz, em Lisboa.

Os lusos voltariam à ação com uma derrota na Suíça (0-3), em 13 de novembro, mais de seis meses depois da queda do Estado Novo e uma semana antes da estreia no Grupo 1 da fase de apuramento para o Euro 1976, tendo uma noite icónica do guarda-redes Vítor Damas imposto um inédito empate em jogos oficiais com os ingleses em Wembley (0-0).

Ricardo Serrado caracteriza uma “seleção em rejuvenescimento”, que tinha acabado de perder Eusébio, António Simões ou José Torres, os últimos resistentes do terceiro lugar logrado no Mundial 1966, após uma derrota perante a anfitriã Inglaterra nas meias-finais.

“Não é por acaso que a imprensa da altura fala em profundo sentimento de decadência a partir dos anos 70. Percebeu-se que essa fortíssima geração tinha terminado e que seria necessário substituí-la”, apontou, sobre o aparecimento de um conjunto de internacionais jovem, descentrado dos grandes clubes e sem representantes das ex-colónias africanas.

Depois de ter cimentado o Vitória FC com presenças regulares no pódio da Liga e prestações europeias acima da média, José Maria Pedroto sucedeu ao magriço José Augusto como selecionador, mas Portugal foi irregular a seguir ao nulo em Wembley e falharia o acesso ao Euro 1976, ficando a dois pontos da futura campeã Checoslováquia.

“Os países europeus estavam a crescer ao nível do profissionalismo e das condições de treino e jogo, mas o futebol português ficou um bocadinho atrasado por vários motivos e isso manifestava-se ao nível dos clubes e da seleção”, observou, face ao nível ditado na década anterior por Benfica, com duas vitórias em cinco finais da Taças dos Clubes Campeões Europeus, em 1960/61 e 1961/62, e Sporting, detentor da Taça dos Vencedores das Taças, em 1963/64.

Se Pedroto ainda conciliou passagens por Boavista e FC Porto até deixar as funções de selecionador, em 1976, os conflitos clubísticos entre norte e sul tornavam o conjunto das quinas num “terreno minado”, com raras conversas entre futebolistas dos três grandes.

“Quando olhamos para essa geração dos anos 70, lembramo-nos facilmente de António Oliveira, Chalana e João Alves. Se, como historiador, tivesse de dizer de cabeça 10 dos jogadores mais habilidosos da história do futebol português, esses vinham de imediato à mente. Havendo técnica, faltava organização e competitividade”, notou Ricardo Serrado.

Depois de ter fracassado consecutivamente em oito qualificações para fases finais desde 1966, Portugal interrompeu esse hiato de 18 anos em 1984, ao evoluir até às meias do Europeu, em França, seguindo-se a queda na primeira fase do Mundial 1986, no México.

A maior abertura do país ao exterior já tinha começado a viabilizar no final dos anos 70 a saída de referências da Liga para campeonatos europeus de elite, casos de Humberto Coelho (Paris Saint-Germain), João Alves (Salamanca e PSG), Jordão (Saragoça), Vítor Damas (Racing Santander), António Oliveira (Betis) e Fernando Gomes (Sporting Gijón).

“Com exceção do João Alves, que deixou marca na Liga espanhola, eram raros aqueles que singravam noutro país, pois as condições, as exigências e o profissionalismo eram muito mais elevados lá fora”, salientou, vendo na seleção um palco de lutas pelo estatuto profissional de jogadores e técnicos, que revitalizaram os clubes nas décadas seguintes.

Se o Benfica perdeu cinco finais europeias desde então, o FC Porto venceu sete em 11 possíveis, logrando uma Taça dos Campeões Europeus, uma Liga dos Campeões, uma Taça UEFA, uma Liga Europa, uma Supertaça Europeia e duas Taças Intercontinentais.

A Federação Portuguesa de Futebol (FPF) “só ganhou maior estabilidade” com a eleição presidencial de Gilberto Madaíl em 1996 e nunca mais falhou uma fase final desde 2000, atingindo o seu auge com os inéditos êxitos no Euro 2016 e na Liga das Nações de 2019.