Análise: Roberto Martínez e Fernando Santos - é mais o que os une que aquilo que os separa

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Análise: Roberto Martínez e Fernando Santos - é mais o que os une que aquilo que os separa

Análise: Roberto Martínez e Fernando Santos - é mais o que os une que aquilo que os separa
Análise: Roberto Martínez e Fernando Santos - é mais o que os une que aquilo que os separaAFP
A Federação Portuguesa de Futebol apresentou Roberto Martínez como novo selecionador nacional. O treinador espanhol, que chega a Portugal depois de um Mundial-2022 abaixo das expectativas com a Bélgica, é dono de experiência internacional já que liderou o conjunto belga durante os últimos sete anos, mas trará consigo uma proposta tão diferente da que foi sendo apresentada por Fernando Santos? 

O Flashscore fez uma viagem pelo passado de ambos os treinadores ao serviço das respetivas seleções e procurou algo claro que os diferenciasse. Contudo, são mais as semelhanças do que os contrastes no trabalho de ambos, exceção feita às conquistas, ponto em que o português se destaca.

E começamos precisamente por ele. Fernando Santos chegou ao cargo em setembro de 2014, na ressaca de uma derrota de Portugal diante da Albânia (1-0), em Aveiro, no primeiro jogo de qualificação para o Euro-2016. O “Engenheiro” assumia o leme do conjunto luso e, apesar de uma derrota na estreia, num amigável contra a França (2-1), levou a bom porto a campanha de acesso ao Europeu, somando sete triunfos nos restantes jogos.

Desde então e até à eliminação no Mundial-2022, nos quartos de final contra Marrocos, Fernando Santos orientou Portugal em 109 jogos, tendo somado 67 vitórias (61.5%), 23 empates (21.1%) e 19 derrotas (17.4%).

Com um futebol nem sempre atrativo - quem não se lembra da célebre fase de grupos do Euro-2016, na qual a seleção se apurou como um dos melhores terceiros classificados após três empates? - o técnico não reunia consenso, mas a verdade é que guiava Portugal aos momentos de decisão e parecia estar alinhado com as necessidades dos jogadores que juntava em torno de um objetivo comum, revelando - porventura até à "questão Ronaldo", no Catar - uma forte capacidade de gestão dos grupos que tinha à disposição.

Roberto Martínez chegou ao comando técnico dos diabos vermelhos depois de uma desapontante campanha daquela seleção no Euro-2016, no qual, sob as ordens de Marc Wilmots, a Bélgica não foi além dos quartos de final, caindo perante o País de Gales. O espanhol era treinador livre, depois de ter deixado o Everton, e enfrentou um grande desafio internacional, reforçado pelo facto de ter à disposição uma das mais entusiasmantes gerações de futebolistas daquele país.

À semelhança de Fernando Santos, arrancou com o pé esquerdo, ao perder um amigável frente à Espanha, mas daí partiu para uma qualificação praticamente imaculada para o Mundial-2018, fase em que somou nove vitórias e apenas um empate nos 10 jogos disputados.

No total, Roberto Martínez liderou a Bélgica em 80 ocasiões, contabilizando 56 triunfos (70%), 13 empates (16.2%) e 11 desaires (13.8%). Números que, como se percebe - e tendo em conta a diferença no total de jogos de cada um -, não diferem muito entre os dois treinadores.

Marrocos defrontou Portugal e Bélgica… e venceu ambos

No passado recente, Fernando Santos e Roberto Martínez defrontaram-se enquanto líderes das seleções de Portugal e da Bélgica. Aí, sorriu o espanhol, que eliminou o português - e Portugal - nos oitavos de final do Euro-2020, num jogo com pouca história para contar para além do golo de Thorgan Hazard, que o definiu.

Mas é no final de 2022 que encontramos aquele que pode ser um ponto de comparação entre ambos. Portugal e Bélgica defrontaram Marrocos, ambos perderam e, ainda que tenham sido jogos diferentes, aquilo que mostraram foi muito semelhante.

O primeiro dos dois jogos foi o dos diabos vermelhos ainda na fase de grupos do Mundial-2022. Marrocos venceu por 2-0, num encontro em que rematou tanto quanto a Bélgica (10), visando a baliza uma vez mais que o adversário (quatro remates contra três). A posse de bola, essa, foi indiscutivelmente dominada pelos belgas, que tiveram o esférico durante 67% do tempo do encontro, tendo realizado 577 passes entre a equipa, o que contrasta com os 274 de Marrocos, dono de um futebol mais direto e não tão associativo.

As principais estatísticas do encontro entre Marrocos e Bélgica
As principais estatísticas do encontro entre Marrocos e BélgicaOpta by Stats Perform

Contra Portugal, os marroquinos encontraram ligeiras diferenças. A seleção lusa rematou mais (12 contra nove), mas o mesmo número de vezes à baliza (três). Na posse de bola foi ainda mais forte que os belgas, registando 73%, conseguindo 567 passes contra apenas 176 de Marrocos. O resultado também não foi o mesmo, mas pendeu novamente para Marrocos, que venceu por 1-0.

As principais estatísticas do encontro entre Marrocos e Portugal
As principais estatísticas do encontro entre Marrocos e PortugalOpta by Stats Perform

Com um modelo de jogo semelhante, de posse e tentativa de domínio, tanto Fernando Santos como Roberto Martínez foram incapazes de contornar a capacidade e coesão defensiva dos marroquinos, mesmo tendo ao seu dispor alguns dos melhores executantes do futebol mundial atual.

Duas diferenças que fazem toda a diferença

Em traços gerais, a principal diferença - e que muito conta - estará nos títulos conquistados. Fernando Santos conduziu Portugal ao Euro-2016, em França, e pese embora o início periclitante, fez história para o desporto nacional, com a inédita conquista da prova. Pelo meio, os corações da nação lusa tremeram, com novos empates diante da Croácia e da Polónia na fase a eliminar, jogos apenas decididos no prolongamento e nos penáltis, respetivamente, mas aos quais se seguiram triunfos contra o País de Gales e a França, numa final em que o golo de Éder foi marcado… no prolongamento.

À vitória em 2016 seguiu-se a Taça das Confederações no ano seguinte. A seleção nacional passou a fase de grupos em primeiro lugar, em igualdade pontual com o México, mas cedeu nas meias-finais frente ao Chile, no desempate por grandes penalidades, tendo assegurado o terceiro lugar contra o México… no tempo extra.

Ainda assim, Portugal vivia um momento pródigo e partiu à descoberta da primeira edição da Liga das Nações, em 2018/2019, cuja final four se jogou no nosso país. Os comandados de Fernando Santos passaram a fase de grupos, na qual se superiorizaram à Itália e à Polónia, enquanto a Bélgica ficou pelo caminho, terminando em segundo com os mesmos pontos da Suíça, que se apurou e marcou encontro com o conjunto luso. Um hat-trick de Cristiano Ronaldo abriu o caminho da final, decidida ante os Países Baixos com tento solitário de Gonçalo Guedes, que confirmava mais um título para a vitrine da Cidade do Futebol.

O Mundial-2018, para o qual se apurou em primeiro lugar, não foi de boa memória para a seleção lusa, que se ficou pelos oitavos de final ao perder com o Uruguai, prestação idêntica à conseguida no Euro-2020, para o qual se apurou também como líder na qualificação e no qual caiu diante da Bélgica… de Roberto Martínez.

Para além disso, Portugal falhou o apuramento para a final four das duas últimas Ligas das Nações e, pelo meio, um golo da Sérvia, ao minuto 90 do último jogo de qualificação para o Catar gelou o Estádio da Luz e Portugal inteiro, obrigando à disputa dos play-offs com Turquia e Macedónia do Norte. A seleção lusa venceu ambos os encontros, carimbou o acesso ao Campeonato do Mundo, mas não foi além dos quartos de final, prestação que resultou na saída de Fernando Santos.

Apesar da reta final menos positiva, o treinador português conseguiu aquilo que o seu sucessor não alcançou com a Bélgica: títulos. Depois da fantástica fase de qualificação para o Mundial-2018, os diabos vermelhos viveram na Rússia o seu mais belo capítulo em competições internacionais. Aos três triunfos no mesmo número de jogos na fase de grupos, diante de Inglaterra, Tunísia e Panamá, seguiram-se vitórias sobre o Japão e o Brasil, nos oitavos e quartos de final, respetivamente, ambas pela margem mínima. Contudo, o sonho terminou na ronda seguinte, com uma derrota por 1-0 frente à França, que se sagraria campeã mundial. 

Ainda assim, a Bélgica voltou a casa com o bronze, fruto de novo triunfo perante a Inglaterra no jogo de atribuição do terceiro lugar, o que abria boas perspetivas para o futuro, principalmente tendo em conta os recursos à disposição.

A Liga das Nações de 2018/2019 não foi, por detalhes, de boa memória, como acima referimos, mas os belgas pareciam fortes e comprovaram-no na qualificação para o Euro-2020, tendo vencido todos os jogos do Grupo I, marcando 40 golos e sofrendo apenas três. Um registo estrondoso de uma seleção que ocupava já o primeiro lugar do ranking FIFA, posição que manteve entre outubro de 2018 e fevereiro de 2022, fruto do bom trabalho então desenvolvido.

Pelo meio, os diabos vermelhos garantiram a qualificação para a final four da Liga das Nações 2020/2021, com cinco vitórias e um empate nos seis jogos disputados, terminando em quarto lugar depois de perderem com França, nas meias-finais, e Itália, na atribuição do terceiro lugar.

Ainda assim, a expectativa era alta, mas não foi concretizada em 2021, ano em que se disputou o Europeu devido à pandemia de COVID-19. A Bélgica ficou-se pelos quartos de final, cedendo perante a Itália, que se sagrou vencedora, mas voltou à carga na qualificação para o Mundial do Catar, com um primeiro lugar que lhe valeu acesso direto à prova. 

Antes da viagem para o Golfo Pérsico, novo desaire na Liga das Nações, na qual ficou pelo caminho num grupo vencido pelos Países Baixos, com a machadada final no trabalho de Roberto Martínez a ter sido dada na mais importante competição mundial de seleções, na qual a Bélgica não foi além da fase de grupos, num mês marcado ainda por divisões internas e declarações polémicas no seio do grupo de trabalho.