É bom que não consigamos arranjar muito dinheiro para a equipa, mas não vamos conseguir arranjar muito dinheiro para a equipa.

Quando lançamos um primeiro olhar à chave dos play-offs, esta série aparecia como uma das mais desequilibradas. Entre os Boston Celtics, que fizeram uma excelente época regular, e os inconsistentes Atlanta Hawks, que tiveram de passar pelo play-in, o suspense parecia baixo. Mas os C's, apesar de dominantes, vão jogar pelo menos seis jogos.

Enquanto os 76ers, futuros adversários de qualquer uma das equipas, estão qualificados desde sábado. Nos playoffs, a energia conservada é fundamental para chegar ao título. E os Celtics estão a desperdiçá-la, apesar de parecerem estar muito à frente dos seus adversários. Sinal de complacência, excesso de confiança ou de perda de direção?

Oportunidade perdida

Quando se tem a vantagem de jogar em casa nos playoffs, o objetivo é simples: ganhar os dois primeiros jogos em casa e pelo menos um jogo no campo do adversário para terminar a série com o jogo 5 em casa. O cenário estava a correr na perfeição para os Boston até terça-feira à noite, quando os Hawks conseguiram ir ao TD Garden - sem Dejounte Murray - e voltar a relançar a série.

Claro que o esplêndido game-winner de Trae Young é a imagem que fica deste jogo 5. Mas não nos podemos esquecer que os Boston dominaram o jogo no geral e estavam a ganhar por 10 pontos no início do último período. Para uma equipa com tanta experiência, de recordar que foram finalistas na época anterior, foi uma verdadeira trapalhada.

Porque para além de "Ice Trea", o C's falharam. Apenas 6 pontos nos últimos 5 minutos. A dupla Jaylen Brown - Jayson Tatum? 0/3 de lançamentos e 2 bolas perdidas neste intervalo de tempo. Quando é suposto os líderes carregarem a sua equipa, no clutch time (momento decisivo), os Jay brothers não conseguiram poupar a equipa a um jogo 6.

Como resultado, estão de volta a Atlanta. É claro que, mesmo com uma derrota no jogo 6, terão ainda uma hipótese em casa. Mas um jogo 7 é muito especial e demasiado arriscado para qualquer equipa. Pouco importa a confiança que se tem e o talento que abunda. Basta perguntar aos Phoenix Suns de 2022.

Líderes inquietos

"Esta é por minha conta." Foi o que Jayson Tatum disse ao The Athletic após a derrota no jogo 3. Apesar de ter marcado 29 pontos, os seus 9/22 lançamentos, incluindo 4/11 de três pontos , foram de facto uma das causas da derrota. É certo que os Boston reagiram no jogo 4 em Atlanta. Mas, apesar dos 31 pontos, as percentagens de Tatum continuaram a ser muito baixas. E no jogo 5, foi ainda pior. 19 pontos, 8/21 em lançamentos, incluindo 1/10 de longa distância!

Isto traz más recordações aos adeptos de Boston: as finais de 2022 de Tatum. Claro, os números são melhores do que contra os Warriors, mas o adversário também é teoricamente mais fraco. No ano passado, na primeira final da NBA, Tatum foi perdoado depois de uma longa temporada e inexperiência no evento. Mas quando se fala, é preciso assumir. Não foi o caso neste jogo 5. E o seu discurso foi banal.

"Não podemos necessariamente mudar nada e foi isso que aconteceu, quer tenha sido bom ou mau. Só temos de fazer um bom trabalho ao seguir em frente. É tão simples quanto isso".

Mas há outro aspeto preocupante para os Celtics. O discurso de Joe Mazzulla, novamente no The Athletic, depois desse jogo pode ser interpretado de várias maneiras.

"Não sei se tentámos demasiado. Apenas perdemos a calma e não executámos bem".

Os otimistas dirão que não quer entrar em pânico. Outros dirão que não tem consciência do perigo. O treinador tem de marcar o ritmo e esse não é o caso aqui.

Suficiente?

Com 2-0, os Atlanta estavam atónitos. Com 3-1, parecia que o bilhete para as férias já está reservado pelos Hawks. Mas recusaram-se a morrer e tiraram vantagem da complacência dos Celtics. Não só os Boston lideravam por 10 pontos no último período, mas também a 5 minutos do fim. Nessa altura, ninguém teria apostado uma moeda nos Hawks. E mesmo assim...

Esta complacência foi vista em várias ocasiões esta época. Nomeadamente após um mês de competição, quando Tatum disse ao Yahoo Sports o seguinte.

"Acho que sou o MVP. A temporada é longa. Sempre que entro em quadra, sinto que sou o melhor jogador. Mas há muitos tipos talentosos nesta Liga".

Como resultado, Tatum não estará sequer no pódio de MVP. Depois de um forte início, abrandou o ritmo, apesar de a sua época ter sido notável em todos os aspetos. Mas este tipo de conversa fiada tem muitas vezes um preço elevado.

No entanto, o próprio Tatum já tinha acalmado a poeira em dezembro, dizendo ao Boston Globe: "Tudo isto não significa nada se não pendurarmos uma faixa (de campeões no pavilhão".

Isto depois de uma vitória categórica contra os Phoenix. Conseguiu acalmar o assunto, mas não reduzir as expetativas.

Jogo 6 crucial

Se Boston ganhar o jogo 6, há várias lições a tirar. Primeiro, comprovam a capacidade de reação aos desaires, uma vez que não sofreram duas derrotas seguidas. Depois, as pequenas adversidades podem ajudar a equipa a unir-se antes de um confronto quente com os 76ers, uma espécie de final de Conferência antecipada.

Mas se Atlanta conseguisse levar os Boston a um jogo decisivo, então... Mesmo que haja um jogo 7, as dúvidas vão assolar os Celtics, independentemente do cenário de jogo, mesmo no evento de um blowout (vitória por grande margem). Atlanta tem uma equipa de qualidade, não há dúvida. Mas claro, quem é que algum dia pensou que esta série chegaria aos sete jogos? Já eram poucos os que previam 6...

A impressão geral é que Boston massacrou Atlanta na primeira metade do jogo 1, liderando por 30 pontos ao cabo de 24 minutos. Nessa altura, parecia que a série ia durar apenas quatro jogos. Desde então, Boston tem estado a viver das suas conquistas, da equipa perfeitamente afinada, e esperava que os Hawks acabassem por atirar a toalha ao chão.

Mas isso seria esquecer que os Atlanta eliminaram os ultra-favoritos 76ers há dois anos. E acrescentaram Dejounte Murray e o treinador Quin Snyder à equação.

O que dá o último aspeto a assinalar: os Celtics chegaram aos playoffs como seria de esperar, favoritos, com a ambição de vencer a Conferência Este, ao contrário do ano passado, em que o objetivo era chegar o mais longe possível. O que aconteceu. Desta vez, o objetivo é o título, é admitido, assumido e declarado.

Mas com os objetivos vem também a pressão. E agora que os Hawks responderam, é altura de mostrar quem manda. Mal podemos esperar para ver.