Foi um momento suspenso. Quando Thibaut Pinot chegou sozinho às últimas rampas do Petit Ballon, onde todos os seus fervorosos adeptos o esperavam, já não havia mais desníveis, nem classificação geral, nem camisola amarela. Havia apenas um homem em cima de uma bicicleta, a fazer uma última prova à sua imagem, extravagante e sozinho, num esforço que tinha de ser sublime porque era em vão. Cartazes, lenços, bandeiras e o seu nome escrito vezes sem conta no asfalto: Pinot despediu-se de França em casa, como campeão, com brio.

De Porrentruy ao Tourmalet, passando pelo Alpe d'Huez, sem esquecer a reviravolta do destino em 2019, a terrível retirada quando estava tão perto de conquistar o Graal absoluto, Pinot emocionou os seus adeptos e fê-los chorar, sem nunca fazer batota.

Talvez pudesse ter ganho mais, com mais astúcia ou estratégia. Mas quantos ciclistas se podem gabar de ter vencido nas três grandes voltas, de ter ganho o Giro di Lombardia a pedalar sobre Vincenzo Nibali e até de ter sido campeão francês de contrarrelógio? Mas para além das linhas de uma lista de prémios, ele fez muito melhor e muito mais: conquistou as multidões. Nem mesmo Richard Virenque dispunha de um comité de apoio deste tipo, apesar de o ciclista da região do Var, em França, ser um rei da popularidade. Pinot construiu uma verdadeira igreja, acolhendo cada vez mais devotos e exuberantes seguidores. Fê-lo sem cálculos, simplesmente sendo ele próprio, exigente e ambicioso, mas sem nunca perder de vista o prazer. Afinal, que francês não quer acreditar num homem cujo nome é vinho?

Quando ele se lançou sobre a multidão, não havia mais nada para além de um homem que tinha marcado um encontro com o seu público e que não traiu a sua palavra. Mesmo que isso significasse perder tudo depois, mesmo que isso significasse ver os foguetes voltarem para ele e o deixarem cair. Experimentar tudo, não se arrepender de nada e escrever memórias que passarão de geração em geração. Pinot grand cru bebido da garrafa, até à última gota.