Entrevista Flashscore a Bernardo Tavares, o globetrotter português que é líder na Indonésia

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Entrevista Flashscore a Bernardo Tavares, o globetrotter português que é líder na Indonésia

Entrevista Flashscore a Bernardo Tavares, o globetrotter português que é líder na Indonésia
Entrevista Flashscore a Bernardo Tavares, o globetrotter português que é líder na IndonésiaFlashscore
Aos 42 anos, Bernardo Tavares já vai no nono país como treinador. Depois de ter passado pela formação dos três grandes, e de ter aprendido com nomes como José Mourinho, Paulo Fonseca, Carlos Queiroz, Paulo Bento e José Peseiro, já esteve em Barém, Omã, Tanzânia, Maldivas, Macau, Índia e Finlândia. É, agora, o líder do campeonato da Indonésia, ao comando do histórico PSM Makassar.

- Para quem não conhece, quem é, afinal, Bernardo Tavares?- Bom, o Bernardo Tavares tem 42 anos, é treinador UEFA Pro desde 2013, com o grau IV do IPDJ. E também ex-jogador. Tenho mais de 20 anos de experiência como treinador e, felizmente, tenho tido sucesso em todos os sítios por onde tenho passado.

- Como foi o início de carreira como treinador?

- De início trabalhei em todas as camadas jovens, passei por Benfica, FC Porto e Sporting. Trabalhei como treinador assistente, preparador físico, treinador de guarda-redes, até scouting nas equipas profissionais. Tenho experiência em várias funções, o que me permite agora saber o que quero dos membros da minha equipa técnica.

- E, pelo meio, aprendeu com alguns dos melhores…

- Sim, é verdade. Comecei com o José Mourinho em 2001, na União de Leiria. Mal eu sabia que ele seria o fenómeno que é. Depois fiz estágios com Carlos Queiroz e José Peseiro, em 2004, com o Paulo Bento em 2008, com o Paulo Fonseca em 2014… acompanhei também todas as seleções nacionais quando elas trabalhavam em Rio Maior, onde me formei.

- E agora, sucesso lá fora, apesar de desconhecido cá dentro…- Já tenho experiência como treinador principal na Europa, na Ásia e em África. E são já nove troféus conquistados, como a Liga de Goa, a Liga de Elite de Macau, a Liga e a Taça das Maldivas… e quatro anos de experiência em competições internacionais na Confederação Asiática de Futebol, incluindo este ano, quando atingimos a final da Taça AFC, equivalente à Liga Europa, pelo PSM Makassar, o que é a melhor classificação de sempre de um clube da Indonésia.

Bernardo Tavares chegou à final da Taça AFC
Bernardo Tavares chegou à final da Taça AFCFlashscore

- E porquê a Indonésia?- Pelo desafio. O clube, antes da pandemia, tinha ganho a Taça da Indonésia, daí estarem qualificados para a Taça AFC, o equivalente, na Ásia, da Liga Europa. Poder jogar mais uma competição internacional convenceu-me. O PSM Makassar é considerado o clube mais antigo da Indonésia, tem 107 anos. Comemorou o 107.º aniversário no dia 2 de novembro. Apesar de ter vencido a taça ficou em 14.º lugar, quase que descia, antes da minha chegada.

- E quais os objetivos?

- Bem, o objetivo traçado é a manutenção mas felizmente as coisas estão a correr bem, até acima das expectativas… estamos em primeiro! Além disso conseguimos chegar à final da Taça AFC, a melhor classificação de sempre de uma equipa da Indonésia. Quando peguei na equipa as outras já tinham os plantéis fechados, já tinham conseguido os melhores jogadores. Acabei por só contratar em equipas secundárias e aproveitei alguns atletas da Academia do clube. O trabalho tem sido construído em cima disso, o que tem dado ainda mais notoriedade ao nosso trabalho. Fui considerado o treinador do mês em agosto e setembro, o que só aconteceu agora porque a competição esteve parada em outubro e novembro.

- Foi essa paragem, por motivos trágicos, que deu notoriedade mundial à Liga da Indonésia.- Sim, é verdade. A tragédia aconteceu a 1 de outubro, no jogo do Arema com o Persebaya. No estádio só estavam adeptos da casa, do Arema, eles proibiram logo adeptos da equipa visitante. Estavam cerca de 42 mil pessoas, o Arema perdeu em casa por 2-3 e no fim do jogo, quando os jogadores foram cumprimentar os adeptos, eles conseguiram invadir o campo. Foi o caos, a polícia ripostou, segundo dizem houve gás lacrimogéneo, pessoas atropeladas por outras, enfim… uma tragédia. Os números apontam para mais de 170 mortos e o mesmo número de feridos. O Abel Camará, com quem já trabalhei, joga no Arema e contou a sua versão da história.

“Estamos num sistema de bolha, como era com o Covid”

- O que foi feito pelas entidades competentes desde essa tragédia até agora?

- O campeonato parou, recomeçou agora em dezembro e para terminarmos na data prevista estamos a jogar de três em três dias. É muito cansativo, uma autêntica tareia aos jogadores, mas foi a solução que encontraram. A federação e o Governo estão a fazer uma vistoria intensiva a todos os estádios, então os jogos estão concentrados em três ou quatro estádios com as condições consideradas ideais. Estamos num sistema de bolha, como era com o Covid, sem adeptos nos estádios.

- Sente-se essa diferença?- Claramente. Retira a paixão do jogo. Uma das coisas boas que o futebol aqui da Indonésia tem é a paixão dos adeptos. Os estádios estão sempre cheios, eles transmitem uma enorme alegria ao jogo. Sempre que jogamos em casa é estadio cheio. Nos seis jogos em casa tínhamos cinco vitórias e um empate, e esse aconteceu contra a equipa mais rica da liga, o Persija. Tem jogadores da seleção da República Checa e é orientada pelo Thomas Doll, um alemão que já ganhou muita coisa. Há aqui equipas com um poderio financeiro enorme como o Persib, orientado pelo Luís Milla, que já foi campeão europeu sub-21 pela Espanha. Há aqui vários treinadores de renome, e jogadores também.

De Abel Camará a Zé Valente e Éber Bessa

- Portugueses também, claro, e alguns outros nomes que já passaram por cá.- Exacto. Além do Abel Camará o Arema também tem o Sérgio Silva, que jogou na Oliveirense e no Feirense. Eu na minha equipa tenho o Yuran Fernandes, central que fui buscar ao Torreense, e também o Éverton, avançado brasileiro que passou pelo Marítimo. O Zé Valente, que jogou no Aves, no Paços, no Vizela, no Estoril e no Penafiel, por exemplo, está no Sleman, e depois há muitos outros como o Éber Bessa, que está no Bali United.

- E os adeptos vão voltar aos estádios?

- Estamos a aguardar. Os clubes estão a fazer de tudo para voltarmos a ter público e voltarmos a jogar no nosso estádio. As receitas de bilheteira são uma grande fonte para financiar os clubes. E os patrocinadores, sem adeptos, estão menos suscetíveis a patrocinar. Vamos ver o que vai acontecer. Agora em janeiro começa a segunda volta e como a Indonésia vai receber o Mundial sub-20 o campeonato tem mesmo de terminar até final de abril.

Bernardo Tavares já leva vários títulos na Ásia
Bernardo Tavares já leva vários títulos na ÁsiaFlashscore

- Como é o futebol indonésio?

- Infelizmente agora nota-se uma grande quebra. Com jogos de três em três dias é impossível manter a intensidade, os jogadores não são máquinas, não são robôs. Mas os jogos aqui, normalmente, são muito intensos. O jogador indonésio é muito rápido. Eles gostam muito de partir o jogo a meio da segunda parte, com muitas transições. Faz lembrar aquele futebol brasileiro, antigamente… não tem tanta técnica mas é aquela intensidade, aquele ataque e contra-ataque.

“Vou a Portugal passar alguns dias”

- Depois de tantos países diferentes, a Indonésia vai permitir ao Bernardo passar o Natal em Portugal?

- Não vou conseguir chegar a tempo do Natal, porque tivemos jogo, mas vou a Portugal passar alguns dias, aproveitar para ver a família e os amigos. A Indonésia tem agora jogos da seleção, pelo que paramos alguns dias. Em outras experiências que tive, nomeadamente no mundo árabe, devido à religião, onde é quase tudo muçulmano, não passei nenhum Natal em casa, tínhamos sempre competição. Aqui, com várias religiões e com a prova das seleções, felizmente vai dar para alguns dias em Portugal.

- E para quando uma passagem em Portugal… para ficar? Nunca teve convites para treinar cá?

- Quando regresso de férias, ou quanto termino algum projeto, há sempre um ou outro convite, mas nunca surgiu nada que valesse a pena. Muitas vezes aceitar convites, como já aceitei, só acabam por me prejudicar, porque são clubes sem projeto.

“Ordenados de 50 euros e ainda ficaram a dever”

- Quer concretizar?- Estive no Tourizense, onde gostei muito de trabalhar, sobretudo pelas pessoas. É um clube com história, chegou a ser equipa B do FC Porto e da Académica. Tinha regressado de Omã, fui o quarto treinador da época, já em janeiro. Eles estavam em penúltimo. Saíram uns três jogadores, dos que estavam há mais tempo na equipa, com a promessa que iam buscar um jogador que eu queria. No último dia de inscrições disseram-me que afinal ele não vinha. Essa competição, na altura, tinha 80 equipas, a minha tinha uma média de idades de 18 ou 19 anos, no onze inicial. Conseguimos a manutenção com jogadores que tinham ordenados absurdos de 50 euros. E ainda ficaram a dever! São coisas com as quais não me identifico. Ou há condições para se trabalhar ou não vale a pena…

Bernardo Tavares e o futuro como treinador
Bernardo Tavares e o futuro como treinadorFlashscore

- Mas gostava de poder mostrar o seu trabalho em Portugal, num clube estável.

- Claro que gostava. Mas como sei que será muito difícil, vou continuando a trilhar o meu caminho e a fazer as minhas gracinhas cá fora. Tenho 42 anos, já participei em qualificações da Liga dos Campeões asiática, Taças AFC, tenho alguns títulos na Ásia e, quanto não podemos trabalhar na nossa zona de conforto, temos de trabalhar fora. Estarmos fora da nossa zona de conforto faz com que nos superemos. Temos de nos adaptar a uma nova cultura e melhorar o nosso know-how. Quando vens de fora tens de ser muito bom. Se fores igual rapidamente te põem a andar…