Entrevista Flashscore a Javi Rodríguez: "Do 50.º ao 150.º do mundo, sobrevivemos"

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Entrevista Flashscore a Javi Rodríguez: "Do 50.º ao 150.º do mundo, sobrevivemos"

Javi Rodríguez abordou as condicionantes da participação nos circuitos profissionais de padel
Javi Rodríguez abordou as condicionantes da participação nos circuitos profissionais de padelHermanos Peragallo
O Flashscore falou com Javi Rodríguez, número 128 do ranking World Padel Tour (WPT). O jogador integra a Associação de Jogadores (Profissional Padel Association, PPA) e falou-nos sobre a importância de que, nesta altura de disputa entre os dois circuitos principais, todos as partes cheguem a acordo para que os profissionais da modalidade - cada vez mais popular - possam ganhar a vida de forma digna a praticá-la.

Javi Rodríguez já se estreou na temporada 2023 do WPT, não tendo ido além da qualificação para o Master de Abu Dhabi. Mas a presença no evento já foi satisfatória para o jogador, que, no pior momento da batalha entre o WPT e a Premier Padel, não tinha a certeza se o primeiro dos circuitos o deixaria participar esta época, por não ter contrato com ele, como aconteceu com outros atletas.

A resposta positiva finalmente chegou e Rodríguez pode dedicar-se à preparação para encarar o desafio da melhor forma possível. "Os dois primeiros torneios foram bastante bons. Ao dia de hoje, entram muito menos duplas e, por isso, tudo está mais igualado", conta, acerca do início do ano.

No padel, é complicado encontrar estabilidade, sobretudo para aqueles que não integram as primeiras 20 duplas do ranking mundial. "Comecei o projeto com um rapaz argentino, mas as pessoas querem resultados rápidos e, por vezes, os projetos que tens acabam rapidamente. Deixei de jogar com ele e, agora, estou à procura de um projeto sério para poder melhorar. São os valores que me representam: ter uma boa equipa de trabalho e apontar ao crescimento juntos", explica.

Javi Rodríguez com a App do Flashscore
Javi Rodríguez com a App do FlashscoreMiguel Baeza (Flashscore)

É importante abordar a nova configuração dos torneios. Até 2022, o normal era que numa prova do WPT entrassem cerca de 90 duplas. Com isto, o equilíbrio da competição ficava condicionado e os jogadores com menor ranking eram obrigados a jogar uma quantidade considerável de encontros até poderem ver o seu esforço recompensado em termos económicos

"Esperamos que, ao entrarem menos duplas nos torneios, aqueles que os disputem tenham alguma remuneração simplesmente por fazerem o seu trabalho e jogarem. Não como até agora, no WPT, em que tínhamos de ganhar quatro ou cinco jogos para termos algum tipo de benefício. O 125.º do mundo, ou até o 100.º, perdia dinheiro por jogar 25 torneios por ano. Pelo menos que não se registem perdas", diz  Javi Rodríguez, esperançado com a nova realidade da modalidade.

Viver, não sobreviver

Em muitos casos, especialmente acima dos 50 no mundo, os jogadores profissionais de padel têm de fazer um trabalho extra para poderem pagar as suas carreiras. É comum, que quando têm um torneio no estrangeiro, viajem para o local vários dias antes para darem workshops ou aulas particulares e, assim, poderem ganhar dinheiro extra que lhes permita continuar a lutar pelo seu sonho.

Para o nosso entrevistado, é fundamental que o padel permita aos atletas uma vida digna, sem que estes tenham de recorrer a outras dinâmicas. Rodríguez acredita que, dessa forma, o desporto crescerá e será muito mais competitivo. "O que procuramos é não ter de sobreviver. Posso dizer que do 50.º ao 150.º do mundo, sobrevivemos, à exceção de um ou outro caso", expõe.

"Tanto no WPT como na Premier Padel entram 72 duplas nos torneios. No final, isto pressupõe que são cerca de 150 jogadores que se dedicam à competição a 100%. Os 150 primeiros", revela. 

Um número alto de atletas que, para além da competição, tem de fazer trabalho extra para poder continuar.

Javier Rodríguez revela que em cerca de três anos pouco ganhou em prémios
Javier Rodríguez revela que em cerca de três anos pouco ganhou em prémiosHermanos Peragallo

A sua avaliação ao tempo que leva profissionalmente neste desporto, que a pandemia se transformou num fenómeno de massas, pode surpreender muitos, mas é o cenário habitual de muitos jogadores. "Há dois ou três anos que estou a competir. No primeiro ano tive de ensinar para investir em mim próprio. No segundo, tive bons patrocinadores e perdi menos do que pensava que iria perder. Este ano, penso que vou perder um pouco menos, mas ainda continuarei a registar perdas. No próximo ano, com a fusão dos dois circuitos, espero que comecemos a ganhar algum dinheiro a jogar", lamenta.

Isso leva-nos a perguntar-lhe sobre quanto dinheiro gerou através do seu desempenho nos torneios que disputou durante estas temporadas no circuito. "Muito pouco", responde, de pronto. "O meu melhor lugar no ranking foi o 118.º e terei ganho, em prémios, cinco ou seis mil euros", acrescenta.

Valores baixos para aproximadamente três anos de carreira e que motivaram críticas à WPT, especialmente depois da criação da Premier Padel, que chegou em força, oferecendo valores económicos muito superiores. É estranho, até, que uma competição tão bem montada como o WPT, que cada vez gera mais dinheiro - chegando a pedir 300 mil euros por um pequeno patrocínio -, não cuide devidamente das principais figuras do espetáculo.

Uma nova era

Perante a possibilidade de que o mais antigo circuito, que celebra o seu 10.º aniversário em 2023, pudesse deixar muitos atletas sem jogar, os jogadores uniram-se na Profissional Padel Association (PPA). Para Javi Rodríguez, este novo núcleo de resistência é muito importante para promover as melhorias esperadas. "Graças à Associação de Jogadores, por estarmos todos unidos e pelos de cima olharem para os de baixo, e vice-versa, atualmente já melhoraram muito as condições e acreditamos que ainda o farão mais", aponta, com orgulho.

Esta organização foi, sem dúvida, determinante para que o WPT tenha baixado as suas exigências e tentado encontrar pontos de acordo que beneficiem todas as partes. "O que queríamos, enquanto jogadores, era que chegassem a um acordo entre os dois circuitos. Acreditamos que o fizeram. Estão a alinhar detalhes. Em pouco tempo, teremos notícias, mas acreditamos que serão boas. Estarem unidos é o melhor para os jogadores e para o crescimento do padel", garante.

Javier Rodríguez integra a Associação de Jogadores
Javier Rodríguez integra a Associação de JogadoresHermanos Peragallo

Um dos objetivos principais da PPA é que o número de atletas profissionais cresça. Nem workshops, nem aulas particulares, nem outro tipo de dinâmicas. Só padel.

Para alcançar esta meta, é esperado que, a partir de 2024, o calendário tenha mais torneios, para que os jogadores possas escolher a qual ir em função do seu ranking, tendo assim maior facilidade de gerar receitas em prémios. "A ideia é que todos vão a um torneio diferente de acordo com a sua classificação, para que todos possamos ganhar algum dinheiro", explica Rodríguez.

Um 2023 ocupado

A temporada de 2023 será a mais internacional da história do padel. O programa do WPT conta com 27 provas, seis delas longe do velho continente, o que aumenta o gasto em viagens. Um esforço maior para os bolsos dos jogadores.

Às quase três dezenas de torneios, há que acrescentar os oito do circuito Premier Padel, impulsionado pelo fundo de investimento catari Qatar Sports Investments (QSI), que detém, por exemplo, o Paris Saint-Germain (PSG). Uma acumulação de compromissos que pode diminuir a longevidade competitiva dos jovens jogadores que começam a surgir no padel.

Javier Rodríguez espera que o próximo ano traga mais torneios e diferente possibilidade de escolha
Javier Rodríguez espera que o próximo ano traga mais torneios e diferente possibilidade de escolhaHermanos Peragallo

"A minha motivação é grande. Sou jovem e acho que posso viver muito tempo do padel se mantiver o crescimento dos últimos anos. Mas também te digo: se continuarmos a ter entre 28 a 35 provas anuais, aos 42 anos, como têm Bela (Fernando Belasteguín) ou Pablo Lima, não seremos competitivos", antevê Javi Rodríguez 

"Este ano vai viajar-se muito, porque continua a haver WPT e Premier Padel, mas esperamos que no ano que vem tenhamos muitos mais torneios e os jogadores possam escolher a quais ir", sustenta.

A terminar, de forma humilde e realista, Rodríguez só pede uma coisa para o futuro: "Os melhores vão sempre ganhar mais dinheiro que os piores, é a lei da vida. Mas que possamos ganhar todos alguma coisa", conclui.