O Vietname vai disputar o seu primeiro Campeonato do Mundo - masculino ou feminino - depois de ter chegado aos quartos de final da Taça Asiática do ano passado. O selecionador Mai Duc Chung é uma figura muito respeitada no país e ficou célebre pelas inúmeras conquistas ao serviço de clubes e seleções. No feminino conquistou cinco medalhas de ouro nos SEA Games e a cereja no topo do bolo foi precisamente a qualificação para o Mundial.
Sem grandes ambições, mas sem medo
No plano teórico, o Vietname é a seleção mais fraca de um grupo que conta ainda com Estados Unidos (campeã mundial), Países Baixos (vice-campeã) e ainda Portugal, que tem qualidade mais do que suficiente para assumir-se como favorito no duelo contra a equipa vietnamita. Ainda assim, a derrota pela margem mínima frente à poderosa Alemanha (2-1), no mês passado, mostrou que as jogadoras vietnamitas não desem ser subvalorizadas em demasia.
"Não temos grandes ambições, mas não temos medo", assegurou Mai Duc Chung, em declarações recentes à FIFA, em vésperas da participação histórica no Mundial-2023.
O selecionador de 72 anos é consciente das dificuldades que tem à sua espera e as limitações que sua equipa apresenta face aos principais opositores europeus, ainda assim a sua capacidade e ética no trabalho contagiaram uma geração de jogadoras. Mai Duc Chung não é, de todo, rígido no sistema e poderemos ver uma seleção do Vietname a alternar entre uma linha defensiva de quatro ou cinco elementos, ajustada mediante os desafios propostos pelos adversários.
Huynh Nhu, o principal perigo
A liga portuguesa coloca 23 jogadoras no Campeonato do Mundo e Huynh Nhu é uma delas. A avançada é um autêntico fenómeno de popularidade no seu país e tornou-se na primeira jogadora originária daquele país do sudeste asiático a jogar na Europa.
Dentro da estratégia da equipa vietnamita ela acrescenta muito ao jogo. Consegue criar várias situações de perigo porque é muito inteligente na forma como se posiciona e no foco que tem ao longo do jogo, estando sempre muito ativa a procurar os espaços. Além disso, a sua qualidade no passe, receção e finalização são decisivos no jogo ofensivo do Vietname. Nhu é um exemplo para as suas companheiras de equipa.
"Estamos muito orgulhosas e felizes por estarmos no Campeonato do Mundo. Vamos representar o Vietname no maior evento de futebol do Mundo e isso deixa-nos muito emocionadas. (...) Tenho a sorte de ter a experiência de jogar futebol em Portugal e muitos anos na seleção e isso permite-me transmitir todo esse conhecimento às mais novas", admitiu Nhu, em declarações ao portal Fútbol Portugués desde España.
Um treinador português que conhece bem o Vietname
Para muitos uma seleção completamente desconhecida, a verdade é que o Vietname guarda poucos segredos para Daniel Pacheco, elemento da equipa técnica do Länk Vilaverdense. O treinador de 43 anos teve a oportunidade de trabalhar com Huynh Nhu no emblema de Vila Verde e nos primeiros tempos ficou surpreendido com o "fenómeno".
"Estamos a falar de uma seleção forte no seu contexto (sudeste asiático) e de uma equipa que é muito acarinhada no seu país. Está a haver uma expectativa muito grande em relação ao Mundial no Vietname e acredito que vão ter muita gente a ver os jogos", introduz Daniel Pacheco, em conversa com o Flashscore.
O treinador reconhece que a seleção vietnamita está "habituada a outro nível competitivo (mais baixo)", mas acredita que vamos assistir a um Vietname "muito organizado, seja em 5-4-1 ou 5-3-2". Para Daniel Pacheco, Portugal vai ter de "manter o foco no seu jogo e ideia" e "não pode deixar que as vietnamitas acreditem", acrescentando que o "ponto-chave passa por manter o respeito e ter os níveis de concentração no máximo".
Sobre as referências, Nhu é a "figura maior", mas há mais: "Posso apontar a Nguyễn Thị Tuyết Dung, que ganhou a Bola de Ouro do Vietname em 2014 e 2018, que conta com mais de 50 golos pela seleção, e a jovem Nguyễn Than Nhã, que se destaca pela velocidade e que está a ganhar o seu espaço na seleção, sendo vista no país como um dos maiores talentos da nova geração".
Daniel Pacheco não esconde o orgulho por ver uma jogadora do Länk Vilaverdense na maior prova de seleções do planeta e descreve Nhu como uma pessoa "muito humilde" e "sempre disponível para aprender".
"É uma das 10 mulheres mais influentes do país. A sua dimensão não tem só a ver com desporto. Tem muitos seguidores nas redes sociais e é sempre recebida por dezenas de milhares de pessoas no Vietname. Nós fomos sentindo também um pouco dessa força através das nossas redes sociais. Havia uma página que fazia vídeos com os momentos principais dela em jogo e aquilo atingia milhões de visualizações. Em comparação, é o nosso Cristiano Ronaldo. É surreal", anota o treinador.
"Apesar disso, a Nhu é uma pessoa muito humilde que cedo percebeu que a competição (liga portuguesa) era exigente para o nível a que estava habituada e mostrou-se sempre disposta a aprender. É um orgulho muito grande para nós termos uma jogadora presente no Mundial, ainda para mais sendo a capitã, e tenho a certeza que todas as jogadoras estão a tocer por ela", completa.
Por fim, o treinador português acredita que o Mundial "pode ser de surpresas, devido à evolução de muitas seleções, entre elas Portugal" e não ficaria "nada surpreendido" se a equipa das quinas passasse a fase de grupos.