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O antigo futebolista de 45 anos é um dos 300.000 coreanos étnicos que vivem no Japão, conhecidos como Zainichi. Trata-se de uma comunidade numerosa, com pessoas oriundas tanto do norte como do sul da península vizinha, e um grupo que há muito sofre de discriminação em matéria de emprego ou de proteção social no arquipélago.
Educado no Japão, numa escola pró-Pyongyang, foi convocado 40 vezes pela Coreia do Norte e com essa seleção disputou o Mundial-2010, na África do Sul, ombreando com vultos do futebol internacional, como o português Cristiano Ronaldo, o brasileiro Kaká e o costa-marfinense Yaya Touré.
Quinta-feira vai ser um dia especial para muitos Zainichi, que sublinham a sua identidade ao torcerem pela equipa Coreia do Norte.
"Joguei contra o Japão no Estádio de Saitama (subúrbio de Tóquio) durante as eliminatórias para o Campeonato do Mundo de 2006. Eles marcaram um golo nos descontos e nós perdemos", embora acrescente que "apertaram as mãos" depois e até foram "todos juntos cumprimentar os adeptos japoneses", recorda An Yong-hak.
"Foi um grande jogo, que foi para além do resultado. Espero que seja assim também desta vez", disse o antigo jogador à AFP, numa entrevista numa escola pró-Pyongyang em Yokohama, perto da capital.
Grande receção em Pyongyang
Os membros da comunidade Zainichi são, na sua maioria, descendentes de imigrantes civis coreanos, muitas vezes deslocados como trabalhadores forçados durante os anos de colonização japonesa da península (1910-1945).
Tal como acontece com An Yong-hak, um coreano de terceira geração no Japão, alguns são escolarizados em instituições apoiadas por organizações pró-norte-coreanas e financiadas por Pyongyang.
As nações em causa não têm relações oficiais, mas Tóquio autoriza o funcionamento destas escolas, embora não lhes conceda os mesmos subsídios que as outras.
"Para ser sincero, no início conhecia melhor os nomes e as caras dos jogadores japoneses que via na televisão do que os dos norte-coreanos", admite o antigo jogador, que começou a sua carreira na J-League, o campeonato nipónico.
"Mas eu sou de origem coreana e o meu nome é An Yong-hak. Considerava a República Popular Democrática da Coreia (nome oficial da Coreia do Norte) como a minha seleção nacional e sempre trabalhei arduamente com isso em mente", apontou.
Durante as viagens escolares a Pyongyang em que participou em criança, diz que foi sempre muito bem recebido.
Motivos de orgulho
Apesar de os seus colegas de equipa na seleção nacional não terem sido inicialmente muito acolhedores com os jogadores provenientes do Japão, "acabámos por ser como uma família", disse.
"Vivemos em países diferentes (...), mas trabalhei arduamente em campo para criar um clima de confiança", afirmou.
An Yong-hak defendeu a Coreia do Norte em solo africano na última vez que o país se qualificou para um Campeonato do Mundo de seniores masculinos.
Nessa equipa havia outros coreanos nascidos no Japão, incluindo o avançado Jong Tae-se, apelidado de "Rooney do Povo", numa alusão a Wayne Rooney, antigo avançado inglês.
A diminuição do número de zainichi nos últimos anos não favorece o aparecimento de talentos desta comunidade e, na quinta-feira, a seleção coreana só terá um jogador nascido no Japão, assinalou An Yong-hak, que sonha que a escola de futebol que dirige contribua para o desenvolvimento de uma nova geração de internacionais norte-coreanos.
"O número de crianças pode estar a diminuir, mas ainda há quem queira jogar", sublinha o antigo futebolista, que se reformou em 2017 e treinou uma equipa de coreanos no Japão durante um Mundial alternativa em que participaram nações não reconhecidas.
Em 2006, tornou-se o primeiro internacional norte-coreano a jogar na K-League da Coreia do Sul, apesar das dificuldades ligadas ao facto de os dois países da península coreana continuarem oficialmente em guerra.
Graças ao futebol, os zainichi têm motivos para estarem orgulhosos, confia.
"Não quero que as crianças cresçam a pensar que ser de origem coreano é algo negativo" no Japão, atirou.