Leia aqui a crónica da partida
Olá, França
O caminho já se sabia que não era fácil e depois das dificuldades da Eslovénia, espera agora um novo cabo das tormentas: A França. Portugal vai medir forças com os gauleses em pelo terceiro europeu consecutivo. Em 2016 ganhou na final (1-0), em 2020 empatou na fase de grupos (2-2).
Será o primeiro encontro nos quartos de final, sendo que nos outros dois jogos a eliminar, a equipa das quinas acabou por ser sempre eliminada pelos franceses – meias-finais dos Europeus de 1984, 2000 e do Mundial-2006.
Precisamos de falar, Ronaldo
Começou no Mundial-2022 com a decisão de Fernando Santos no jogo dos oitavos de final com a Suíça, foi um pouco abafada com a brilhante campanha de Portugal na qualificação, mas este jogo voltou a trazer à tona o assunto. Aos 39 anos, qual é o papel de Cristiano Ronaldo em Portugal?
Ninguém lhe pode negar uma carreira estratosférica, com registos que provavelmente nunca serão alcançados, a ética de trabalho que lhe permitiu transfigurar-se de um franzino extremo num exímio goleador, as inúmeras alegrias que deu aos portugueses. Mas o tempo não perdoa e aos 39 anos, a efetividade não é a mesma e o enquadramento não pode ser o mesmo do herói que deu muitas alegrias aos portugueses ao longo dos anos.
Contra a Eslovénia notou-se um Cristiano Ronaldo sôfrego para marcar. Um misto de vontade de ajudar a equipa, o recorde de se tornar no mais velho de sempre e o colocar para trás a primeira fase de grupos em que não conseguiu colocar a bola no fundo das redes.
Livres esbarraram nas mãos de Oblak ou foram por cima. Um penálti acabou defendido de forma exímia por Rúben Neves. Lutou muito, mas nem sempre foi bem servido e não conseguiu dar à equipa o que precisava. Podia ter sido um dos nomes substituídos durante a segunda parte, mas o estatuto pareceu impedir Martínez de tomar a decisão.
As lágrimas após o penálti falhado (quem não recordou o menino a chorar em pleno relvado do Estádio da luz em 2004?) mostraram um descontrolo emocional raro, na máquina competitiva que Ronaldo nos habituou. E voltam a levantar a pergunta: Aos 39 anos, qual é o papel de Cristiano Ronaldo em Portugal? (E continua a fazer sentido após o penálti convertido no desempate)
Diogo Costa
O desempate por penáltis tem o condão de criar heróis inesperados. E em Portugal os guarda-redes tem aproveitando muito bem esse papel. Ricardo em 2004, Rui Patrício em 2016 e agora Diogo Costa em 2024.
Depois de uma partida esteve sempre bem quando foi chamado, sobretudo no frente a frente com Sesko no prolongamento, o guarda-redes do FC Porto voltou a mostrar porque é um dos melhores da Europa.
No desempate por penáltis defendeu os remates de Ilici, Balkovec e Verbic. Não sofreu um único golo da marca de 11 metros e todas as paradas foram de um grau assinalável. Uma noite épica para o guardião que pode agora assumir o lugar no panteão dos guarda-redes portugueses que brilharam em competições continentais.
A ala esquerda
Depois dos três centrais com a Geórgia, Portugal voltou de forma inesperada a uma defesa a quatro (sempre que se vê confrontado com dois centrais tem optando por usar três no centro da defesa), e isso permitiu novamente libertar uma das melhores dinâmicas de Portugal: a ala esquerda.
Depois de um ano menos conseguido no PSG, muito devido a questões físicas, Nuno Mendes apresentou-se a grande nível neste Europeu. Quer a ajudar na construção como terceiro elemento da defesa, quer a dar profundidade pela faixa, o lateral de 22 anos vai combinando bem com Rafael Leão.
O extremo do AC Milan chega ao Europeu com o estatuto de titular e está a aproveitar. Vertical, mas com capacidade de fletir para dentro, foi um verdadeiro quebra-cabeças para a defesa da Eslovénia e conseguiu sacar dois amarelos a defesas. Acabou pro cair de rendimento na segunda parte.
Manter o lume constante
É certo que Portugal se viu poucas vezes em dificuldades durante a qualificação e como tal Roberto Martínez nunca teve a oportunidade de testar convenientemente um plano B. Porque o que foi preparado para este Europeu começa a levantar mais dúvidas que certezas.
Em cenários diferentes, mas com objetivos semelhantes, o selecionador nacional fez o mesmo perfil de substituições que no jogo com a República Checa (que Portugal chegou aos minutos finais empatado). Fez entrar um homem para a frente e retirou Vitinha do meio-campo. No fundo, partiu a equipa na tentativa de encontrar o golo.
Desta feita foi Diogo Jota a entrar para o lugar de Vitinha aos 65 minutos e a partir desse momento a equipa das quinas acabou por perder o controlo do meio-campo. A partida ficou no fio da navalha e um lance poderia ser decisivo para qualquer lado (não é por acaso que a Eslovénia ganha mais ascendência nessa etapa).
Às vezes não é preciso espalhar brasas, mas manter o lume constante.