Roberto Martínez: "Para ganhar um torneio precisas de sonhar alto"

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Roberto Martínez: "Para ganhar um torneio precisas de sonhar alto"
Roberto Martínez, selecionador nacional de Portugal
Roberto Martínez, selecionador nacional de PortugalFPF
Roberto Martinez, selecionador de Portugal, foi esta segunda-feira o protagonista do programa 'Futebol Total', no canal 11, da Federação Portuguesa de Futebol, onde passou em revista o ano ao serviço da Seleção Nacional, que completou a 9 de janeiro de 2024.

Rúben Dias e Bernardo Silva no onze do ano da FIFA: "É uma satisfação e orgulho, mas é difícil para um selecionador, porque no futebol os prémios individuais são subjetivos. É boa memória para eles. Estão a trabalhar muito bem. O Bernardo tem 10 épocas fora de Portugal. O Rúben tem sido dos melhores centrais do futebol mundial."

Escolha por Portugal: "Foi uma chamada telefónica do diretor desportivo, o senhor José Couceiro. Estava em Inglaterra com a minha família e estava preparado para treinar um clube. Depois do Mundial e depois de sete épocas em seleções. Foi uma chamada de sentimentos. Deu-me oportunidade de conhecer as pessoas atrás do projeto. O nosso presidente Fernando Gomes é uma pessoa com muita visão. Deu-se tudo em quatro ou cinco dias."

Apuramento para o Euro-2024: "Foi um apuramento onde todos os jogadores deram tudo. Nós conhecemos o talento. O talento só não ganha jogos consistentemente, mas sim a atitude, compromisso, clareza. A paixão pela Seleção é muito grande. No primeiro dia, lembro-me de estar no aeroporto e os adeptos a mostrarem o amor pela Seleção. Vi e senti o afeto nos estádios. Gostei muito do ambiente. O adepto da Seleção sente-se parte da equipa. Precisamos disso para continuar a crescer. É uma paixão muito positiva."

A pessoa por trás do jogador: "É importante conhecer o homem por detrás do jogador. Precisamos de ter qualidades humanas que ajudem o talento. Os jogadores são fáceis de analisar, mas a pessoa é uma avaliação subjetiva. Estar com eles e falar de futebol, da vida. O que está na cabeça faz a diferença no relvado. Gosto de treinar jogadores e pessoas. É uma sorte para mim, como selecionador, ajudar um jogador quando tem um momento mau. Eu não tenho que pensar na valorização do jogador. Posso ser honesto. Acontece de uma forma natural."

Portugal candidato ao Euro-2024? "Para ganhar um torneio precisas de sonhar alto. Depois há um grupo de seleções que podem ganhar. Portugal tem jogadores nos melhores balneários do futebol mundial. Um jogo num Europeu é feito de detalhes e sorte. Se trabalhares muito e bem ajuda à sorte."

Jogadores portugueses que mais impressionaram: "Conhecia muito os jogadores portugueses. Jogámos contra eles em diferentes. Não foi um jogador. Sabia que o balneário era muito competitivo, porque o jogador português sabe ganhar e comeptir. A surpresa foi que também gosta de ter clareza e informação tática. É difícil encontrar isso. João Neves chega à seleção aos 19 anos. Mostrou uma personalidade e maturidade que me surpreendeu muito. A melhor forma de medir um jogador é olhar para o balneário. Diretamente dá ou não dá respeito. É como na escola, a minha filha tem 4 anos e não tem filtro. Nos balneários temos filtros, mas é a forma de demonstrar o respeito. Há coisas claras que um jogador ganha o respeito diretamente ou não ganha. E o João, aos 19 anos, nunca vi uma situação na minha carreira, que em dois dias ganhou o respeito do balneário. É marcante."

João Neves: "Vi o João a primeira vez. Era importante não queimar etapas na formação. Achava que era melhor jogar nos Sub-21. Com o Rui Jorge foi muito importante ele no seu crescimento, analisar onde devia jogar. O João Neves podia ter ido antes à Seleção A. Foi uma boa decisão esperar e dar oportunidade de ter um papel no Europeu. Marcar um golo, mostrar uma atitude que ajudou muito na sua evolução, até para o clube. Ver o jogo com o FC Porto mostra muito onde um jogador pode estar. O João Neves foi o homem do jogo. É quando o João Neves chega ao balneário da Seleção. Mas agora tem a mesma dificuldade de todos os outros de entrar na lista."

Jogos particulares de março: "Temos oportunidade de dar chances a outros jogadores. Vou aproveitar março para isso. É jogar jogos diferentes, com ideia para preparar a equipa e ver outros jogadores para entrar. É muito importante analisar a situação individual dos jogadores. Antes do Europeu precisamos de ter 3 jogos, sentir os adeptos e Portugal antes de ir para a Alemanha."

Sistema tático da Seleção: "A evolução é constante. É importante ter em conta o momento de forma dos jogadores. Tivemos um momento em que Guerreiro e Nuno Mendes não estavam aptos. Podíamos chamar outros jogadores, mas sabemos que eles são importantes para o futuro. Ou podíamos acrescentar mais um atacante, colocando um jogador como o Rafael Leão, João Félix ou Jota. E aí temos um jogador mais. É importante ter Cancelo e Dalot, que podem jogar nos dois lados. Temos de ter flexibilidade tática, mas não podemos fazer sempre tudo de novo. Os jogadores, o adversário e momento do jogo definem a estratégia."

Inteligência do jogador português: "Não sei quantos dias precisamos de treino para executar um plano tático, mas foi uma surpresa saber que posso preparar um jogo sem treino. Os nossos jogadores são inteligentes taticamente para ganhar a ideia com vídeos e trabalhar fora do campo. Isso foi uma surpresa, porque não é normal. Num clube precisas de 50 treinos para ter uma boa sintonia numa linha defensiva, na pressão, no ataque... Visualmente o jogador tem muita inteligente. Estão sempre a ver jogos, o nível da Champions ajuda a isso. Os jogadores treinam menos agora."

Votos nos prémios The Best: "Os prémios individuais são subjetivos. Representa uma equipa. O Brozovic fez uma boa época, o detalhe de não ganhar foi mínimo. Teve uma época interessante. Ele representa uma forma de jogo, que para uma equipa como a Croácia, durante o Mundial foi para guardar em vídeo e mostrar em gerações a seguir. É isso. Representa uma geração da Croácia, o que fez no Mundial, e no Inter."

Juntar numa seleção vários clubes: "É o desafio maior dos jogos de seleções, dar clareza. É priorizar, não podemos falar de tudo. Não podemos trabalhar tudo. Precisamos de trabalhar o que será importante e dar clareza. Todos têm de saber o que têm de fazer. Depois, a inteligência e compromisso permite preparar o jogo. Dar clareza na ideia de jogo é o mais importante. Todos os jogadores têm hábitos e precisamos de dar um hábito novo na Seleção. Vi uma mudança importante no segundo e terceiro estágio. Para um treinador, quando está a ver hábitos no relvado é um momento muito importante. Agora estamos a crescer, precisamos de jogar jogos em que sofremos primeiros. Não quero mas vai acontecer. Precisamos de preparar isso."

Favoritos ao Euro-2024: "Acho que há sete seleções na Europa. O futebol europeu é muito forte. O que a Champions tem feito acelerou o futebol europeu. Espanha, Inglaterra, França, Bélgica, Itália e agora Alemanha, porque está a jogar em casa e tem jogadores de um nível para ganhar torneios, são as seleções que podem ganhar um torneio."

Cristiano Ronaldo: "Defrontei o Cristiano em 2013, pelo Everton. E foi incrível. Mas depois tive oportunidade de falar com todos antes da primeira convocatória. E foi muito importante ver uma pessoa com muita fome e respeito pela Seleção. Com compromisso para ajudar. Foi uma surpresa positiva, porque foi o começo de criar um grupo novo. Para a maioria dos jogadores, o corpo falha e a cabeça aceita. No Cristiano, parece acontecer o contrário. O corpo só vai parar quando a cabeça disser que tem de parar. Ele faz tudo para estar a um nível ótimo. É incrível quando um jogador tem 38 anos, tem uns hábitos e vontade de quem tem 18. É uma capacidade incrível de repetir excelência. Tem um cérebro de elite, mas não tem limite. Foi um jogador com 53 golos. É agora olhar para o próximo objetivo. Foi importante ter o compromisso, essa fome."

Legado de CR7: "20 anos na Seleção. São dados e estatísticas, não há nada assim. Cria um legado, sem dúvida. E acho que precisamos de utilizar isso. Mas o que um jogador jovem, quando entra no balneário e o que ganha ao estar com Pepe, Cristiano, Bernardo Silva, isso é criar um legado. Mais importante do que ganhar jogos."

Jogadores fora dos três grandes: "Todos os jogos há detalhes que mostram o talento. Depois é preciso consistência. Gostei muito de ver o Gustavo Sá, que tem papel importante. Gosto de ver isso. João Marques do Estoril. Rodrigo Gomes... Jogadores que têm talento para jogar na Seleção. Mas o caminho é difícil. Tem que dar tudo para chegar. Não é fácil. Gosto de todos os jogos de Portugal. Equipas B e Sub-19. A Liga Jovem tem muitos jogos bons. É ver os jogadores com exigência máxima numa idade jovem."

Patamar atual de Portugal: "No Europeu temos três jogos. É muito importante crescer no torneio para estar preparado para todos. Os nossos jogadores estão ao mesmo nível das mesmas equipas. Vai ser difícil, mas estamos no grupo das melhores seleções."

Diferença entre Bélgica e Portugal: "Na Bélgica fomos terceiros no Mundial e os detalhes foram mínimos. Ganhar ao Brasil não foi suficiente. Portugal ganhou o Euro. Quando uma seleção vai a um torneio com dúvidas, 'por que vamos ganhar, se ninguém antes ganhou?' Aqui está presente que ganhamos. Há uma cultura de muitos exemplos, de muitos anos. Na Bélgica trabalhei a melhor geração da história. Não é fácil trabalhar para uma novidade. Mas o nível dos dois balneários é muito semelhante".