Bastou uma mudança de treinador e, de um dia para o outro, a cara do Marselha mudou completamente. Com Gennaro Gattuso ao leme, os Olympiens estavam completamente fora de forma há várias semanas: com a última vitória a remontar a 17 de dezembro (2-1 contra o Clermont), o Marselha tinha passado seis jogos seguidos sem vencer na Ligue 1, uma eliminação da Taça de França sofrida nos oitavos de final contra o Rennes e um empate contra o Shakhtar na primeira mão dos oitavos de final.
Foi neste contexto que a direção do Marselha decidiu mudar de treinador pela terceira vez esta época. O italiano saiu e Jean-Louis Gasset, que acabara de deixar o cargo na Costa do Marfim, foi escolhido para assumir interinamente até o final da temporada. Desde o primeiro dia, o treinador de 70 anos adaptou-se aos jogadores. O método de Gasset, que tem sido um grande sucesso até ao momento, permitiu que o balneário se unisse em torno de um objetivo comum.
Quem disse que idade e tática não se misturam?
"É preciso ser um híbrido, essa é a palavra mágica, é preciso poder dominar ou recuar 30 metros para jogar em transição", resumiu o treinador do Marselha antes da partida contra o Nantes. E se há uma palavra que melhor define Jean-Louis Gasset no Marselha, ela é híbrida. Depois de voltar ao famoso 3-5-2 contra o Montpellier, antes de mudar novamente para o 4-3-3, Gasset não tem medo de mudar de tática de uma partida para outra, ou de um minuto para o outro. Dependendo do que acontece durante o jogo, o Marselha tem de fazer de camaleão e não hesita em adaptar-se ao adversário se um momento de fraqueza o exigir.
O exemplo perfeito disso foi a utilização de Ismaïla Sarr no domingo passado contra o Nantes, quando o Olympiens, jogando e 4-3-3, teve que apertar os parafusos no segundo tempo. Posicionado como lateral-direito na ficha de jogo, foi obrigado a recuar para o centro do campo à medida que os períodos de fraqueza do Marselha aumentavam. Foi nessa altura que o internacional senegalês teve também de aumentar o seu esforço defensivo, transformando-se numa espécie de lateral. De facto, o segundo golo do Marselha, aos 79 minutos, surgiu após o antigo jogador do Watford ter recuperado os seus últimos 20 metros na direita.
Outro exemplo surgiu na quinta-feira, quando os responsáveis do Marselha montaram - mais uma vez - um 3-5-2, uma tática pensada para conter um Villarreal que se esperava conquistador. Foi uma boa leitura, mesmo que o clube tenha estado com os nervos quentes durante 90 minutos, antes do golo de libertação de Clauss, aos 90+4 minutos, sinónimo de qualificação para os quartos de final da Liga Europa.
Para simplificar, Jean-Louis Gasset mudou de um 4-3-3 para um 3-5-2 durante o jogo, antes de admitir sem convicção ao Prime Vidéo que esperava que a sua equipa sofresse contra o FC Nantes: "Como me sinto depois deste jogo? Aliviado. Era o nosso quinto jogo em 18 dias, sabia que íamos sofrer fisicamente. Contra o Villarreal (4-0) na quinta-feira, pressionámos durante uma boa parte do jogo, por isso é muito difícil voltar a fazê-lo três dias depois. Especialmente porque hoje tivemos muitos jogadores lesionados, pelo que tivemos de voltar a colocar os mesmos jogadores. Mas nunca desistimos! Não estivemos muito bem, mas aguentámos", disse.
Sair do fundo do abismo
Desde Jean-Louis Gasset, alguns jogadores foram explorados ao máximo, enquanto outros recuperaram a sua antiga forma. Ismaïla Sarr, por exemplo, tem sido monstruoso nos últimos seis jogos. Reposicionado no flanco esquerdo, Pierre-Emerick Aubameyang faz lembrar o Pierre-Emerick Aubameyang dos seus tempos de glória. Em suma, tudo está a funcionar como um relógio e os adeptos do Marselha finalmente começam a entender as escolhas esportivas que fizeram no verão passado em suas contratações.
Com a reputação de ser um treinador próximo dos seus jogadores a nível humano, o técnico de 70 anos estabeleceu como principal tarefa restaurar a confiança dos seus jogadores. Com a comunicação e o diálogo como principais ferramentas, ele e o adjunto, Ghislain Printant, passam muito tempo a explicar o que esperam de cada jogador. E em dia de jogo, seja qual for a equipa, os jogadores são rigorosos na sua abordagem. Nos treinos, a palavra de ordem é uma só: intensidade. É isso que o antigo assistente de Laurent Blanc e a sua equipa exigem. Assim, os corpos estão prontos para a rotina de domingo-quinta-domingo
Por fim, a "ecologização" da Commanderie na véspera de cada jogo no Stade Velodrome foi retomada, com o objetivo de reforçar os laços entre todos. Embora isso possa ter efeitos negativos na vida pessoal dos jogadores, especialmente quando se joga a cada três dias - porque se passa menos tempo com a família -, esse método claramente ajudou a unir o que havia se rompido com Gattuso. A relação entre todos é muito mais forte e isso nota-se em campo, nomeadamente na forma como gerimos os nossos esforços e os recuos defensivos.
Em suma, depois de seis jogos sob o método Gasset, o Marselha reencontrou um rosto que voltou a fazer sorrir os seus adeptos. O objetivo de se qualificar para a Europa na L1 é alcançável, e quem diz que não será surpreendido na Liga Europa... Dada a sua confiança atual, os jogadores de Marselha parecem poder tentar a sua sorte contra qualquer um. Resta saber em que condições eles voltarão após a pausa internacional.
