Opinião: Pim pam pum, cada ano retira-se mais um!

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Opinião: Pim pam pum, cada ano retira-se mais um!
Benfica e Sporting lutam pelo título na Liga Feminina
Benfica e Sporting lutam pelo título na Liga FemininaAFP/Flashscore
O futebol praticado por mulheres tem crescido de forma exponencial nos últimos anos. O Campeonato do Mundo de 2023 veio reforçar essa trajetória ascendente, com o interesse do público a ser cada vez maior. O Flashscore não passa indiferente ao movimento e passa a contar com a treinadora Joana Oliveira para abordar os assuntos mais prementes da modalidade, sempre com o foco muito virado para a Liga Feminina.

Fosse possível o título desta publicação ser levado à letra e consideraríamos que a cada época que passa temos menos uma equipa a disputar a Liga Feminina, e esta vai ficando cada vez mais restrita. Embora esta afirmação não seja totalmente precisa, na época 2020/21, por razões que a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) considerou mais justas, vimos a Liga Feminina aumentar o número de equipas na competição para 20 e a partir daí foi sempre a reduzir. 

Na época 2021/22 reduziu-se o número de equipas para 16, ou seja, caíram quatro equipas para a segunda divisão e decidiu-se criar uma terceira para aumentar a competitividade nas duas principais competições. 

Mais uma época terminada, mais uma época a reduzir, e ficam apenas 12 equipas na primeira divisão para disputar a Liga Feminina no ano 2022/23. 

Começamos a época 2023/24 sem alterações no número de equipas face à época anterior. No entanto, a FPF comunica que teremos vídeo-árbitro (VAR) e seremos assim a primeira principal liga feminina na Europa a utilizar esta ferramenta. Uma ferramenta que não era urgente e havia a necessidade de priorizar outros investimentos.

Agora, o nosso órgão máximo do futebol em Portugal anunciou que a época 2025/26 terá apenas 10 equipas a disputar a Liga Feminina. Ou seja, em cinco anos retiraram-se 10 equipas da competição. Afinal é mais Pim pam pois: Cada ano retiram-se dois!”

Anunciaram também que todos os jogos serão disputados em relva natural. Construímos a casa pelo telhado ao apressar o VAR e, agora, percebemos que o nosso futebol tem muito menos qualidade em relvados sintéticos (ignorando todos os malefícios que existem para uma atleta feminina ao jogar neste tipo de piso)? 

Tabela classificativa da presente edição da Liga Feminina
Tabela classificativa da presente edição da Liga FemininaFlashscore

Sustentabilidade e competitividade da Liga 

A minha preocupação com o investimento financeiro na Liga Feminina levanta questões importantes sobre a sustentabilidade e competitividade da Liga. É crucial que os clubes tenham uma base financeira sólida para proporcionar condições mais do que semi-profissionais às suas equipas. São constantemente anunciados novos investimentos por parte da FPF, mas grande parte é atribuído à Seleção Nacional. Neste momento um grande número de clubes depende exclusivamente de investidores externos, algo que cria instabilidade e inconsistência no rendimento dos clubes, como observado nos casos do Amora e do Länk Vilaverdense. 

Uma abordagem mais estruturada por parte da FPF para garantir um investimento mínimo necessário e um controlo mais rigoroso sobre os clubes poderia ajudar a estabilizar a competição e promover uma maior igualdade de oportunidades entre as equipas. Isso pode incluir a implementação de regulamentos financeiros mais rigorosos, exigindo que os clubes mantenham um certo nível de investimento para garantir condições adequadas para as jogadoras. 

Quanto ao investimento no VAR em comparação com outras áreas, foi uma questão de prioridades mal geridas. Se o objetivo é aumentar a competitividade da Liga Feminina e garantir um padrão de qualidade consistente, era essencial investir em áreas que promovessem o desenvolvimento dos clubes e a melhoria das condições de jogo, como a obrigação de utilizar relvados naturais.  

Onde fica a jogadora no meio de todas estas mudanças?  

Naturalmente, as medidas que serão implementadas terão os seus resultados na competitividade, positivos com certeza, mas a forma irresponsável como se tem tratado a jogadora, que procura sucessivamente alguma estabilidade em clubes de meio da tabela para baixo, é também consequência de todas estas mudanças que não permitem assinar um contrato a longo termo e descansar no final da época. Se cada vez se torna mais difícil para um clube manter-se na primeira divisão, imaginem o quão difícil será voltar a investir para subir. 

Algumas jogadoras passam períodos que se estendem por três, quatro ou até cinco épocas, num contínuo movimento entre clubes, adaptando-se a novas localidades e realidades, com o intuito de progredir e alcançar os seus objetivos pessoais. Verificam-se situações em que estas jogadoras se destacam no final de uma temporada, no entanto, os seus clubes enfrentam desafios relacionados com desinvestimento ou organização tardia para a época seguinte, motivados pela escassez de investidores. Este cenário conduz a uma diminuição do desempenho quando ocorre a mudança de clube, dando assim início a um ciclo repetitivo. 

Espaço de opinião de Joana Oliveira
Espaço de opinião de Joana OliveiraFlashscore