Expetativas da pré-época
O ambiente em torno do Tottenham a caminho do verão era positivo, dada a forma como terminaram 2021/22 sob o comando de Antonio Conte, que foi nomeado a meio da época no lugar do demitido Nuno Espírito Santo.
O italiano liderou uma subida no final da época que levou o Tottenham a conquistar o quarto lugar e um lugar na Liga dos Campeões à custa do rival Arsenal, que simplesmente perdeu o fôlego no final do campeonato.
Com isso, os spurs começaram a construir o plantel ideal para Conte antes da primeira temporada completa do ex-técnico de Juventus, Chelsea e Inter de Milão.
Transferências de verão
O spurs começou a reforçar as opções que Conte tinha à sua disposição, com o presidente Daniel Levy e o (agora ex-diretor-geral) Fabio Paratici a fazerem seis contratações para marcar uma posição em relação às equipas vizinhas.
O objetivo do clube era contratar jogadores experientes e com provas dadas na Premier League, com Ivan Perisic a chegar a custo zero, Richarlison num negócio de 60 milhões de euros e Yves Bissouma a chegar por 35 milhões de euros.
O guarda-redes Fraser Forster também foi contratado, bem como o jovem inglês Djed Spence, o defesa-central do Barcelona Clement Lenglet por empréstimo e o promissor lateral Destiny Udogie, que foi emprestado à Udinese.
O otimismo para a época que se avizinhava era elevado, depois de terem sido gastos mais de 100 milhões de euros, e os novos jogadores tentavam, pelo menos, pôr fim à série negativa sem títulos.
Perspetivas a meio da época
Foi uma primeira metade de época estranha para os spurs, com a pausa de meio da época para o Campeonato do Mundo, em novembro, a ser uma altura bastante oportuna para se afastarem do futebol.
Nessa altura, o clube ocupava o quarto lugar da Premier League, mas as exibições continuavam a ser menos convincentes a cada jogo que passava.
Esta tendência manteve-se após o recomeço do campeonato, com um conjunto misto de resultados que os colocou em quinto lugar na tabela a meio da época. Uma boa posição, mas com muito trabalho pela frente.
O sempre fiável Harry Kane lidera a lista com 15 golos, enquanto o vencedor da Bota de Ouro da época passada, Son Heung-min, tem tido dificuldades em repetir a sua boa forma e só marcou quatro golos.
Transferências de inverno
O Tottenham optou por uma abordagem subtil à janela de transferências de janeiro, apesar de necessitar de alguns reforços, e deixou os negócios para a fase final, embora a maior parte tenha sido de saídas.
Arnaut Danjuma foi emprestado pelo Villarreal, com uma opção de compra de 31 milhões de euros, e o lateral Pedro Porro também foi contratado por empréstimo, mas com uma cláusula obrigatória de 47,5 milhões de euros.
Alguns dos jogadores mais jovens foram enviados para ganhar tempo de jogo noutros locais, com Spence a ser emprestado ao Rennes, de França, e Bryan Gil a regressar ao antigo clube Sevilha e a juntar-se a Erik Lamela, que os spurs incluíram numa troca pelo jogador de 22 anos há dois anos.
A chegada de Porro à lateral direita significou que já não havia espaço para Matt Doherty, que viu o seu contrato ser rescindido antes de se juntar definitivamente ao Atlético de Madrid, com os spurs a atingirem o limite máximo de empréstimo de oito jogadores séniores.
Análise da temporada
As atuações irregulares do Tottenham não pararam e culminaram com o clube a penar no oitavo lugar - a pior posição desde 2008/09 - e a perder completamente a carruagem futebol europeu. O problema não foi o golo, mas sim a defesa, com os 63 golos sofridos a serem o sexto pior registo da divisão. Até o Everton, 17.º classificado, teve melhores números defensivos e isso diz muito.
As coisas começaram a descambar quando a época de Rodrigo Bentancur foi interrompida, enquanto Conte teve os seus próprios problemas ao lidar com a perda do seu preparador físico Gian Piero Ventrone, do antigo colega de equipa Gianluca Vialli e do amigo Sinisa Mihajlovic, além de ter sido operado à vesícula biliar.
Cristian Stellini começou por pôr a equipa a jogar bem até certo ponto, mas a queda de forma antes do regresso de Conte ao comando técnico fez com que a época dos spurs mudasse, com o empate a 3-3 com o Southampton a ser o último, mas apenas depois de uma conferência de imprensa dura após o jogo.
"Penso que é muito melhor abordar o problema, porque o problema é que, mais uma vez, mostrámos que não somos uma equipa", afirmou Conte. "Somos 11 jogadores que entram em campo. Vejo jogadores egoístas. Vejo jogadores que não se querem ajudar uns aos outros e que não se empenham".
E continuou: "Não sei, porque estão habituados a isto aqui. Estão habituados a isso aqui. Eles não jogam por algo importante, sim. Não querem jogar sob pressão, não querem jogar sob stress. Assim, é fácil".
"A história do Tottenham é esta. Há vinte anos que o dono está lá e nunca ganharam nada, mas porquê? A culpa é só do clube, ou de todos os treinadores que cá ficam? Eu vi os treinadores que o Tottenham teve no banco. Corre-se o risco de perturbar a figura do treinador e de proteger a outra situação em todos os momentos".
A manutenção de Stellini como treinador interino deixou muita gente perplexa e todas as preocupações foram provadas, com a temporada dos spurs resumida pela embaraçosa goleada de 6-1 no Newcastle, em que estavam a perder por 5-0 em pouco mais de 20 minutos.
Em seguida, foi a vez de Ryan Mason tentar (mais uma vez) acalmar os ânimos, mas as coisas não melhoraram muito e o capítulo de uma campanha verdadeiramente miserável finalmente chegou ao fim. É hora de mais um período de auto-reflexão para os dirigentes do clube.
Principais jogadores
Para surpresa de ninguém, o já mencionado Kane foi, de longe, o melhor jogador do Tottenham, com um elogio especial à forma como conseguiu fazer as coisas numa das, se não a mais pobre, equipas em que jogou.
Os seus 30 golos são ofuscados pelos 36 de Erling Haaland, mas o número continua a ser impressionante quando se olha para o desempenho dos spurs e do Manchester City.
Kane também conseguiu dar aos adeptos do Tottenham algo para sorrir e se orgulhar em fevereiro, depois de marcar seu 267.º golo pelo clube, ultrapassando o falecido Jimmy Greaves e tornar-se no maior goleador do clube.
Os spurs também sentiram muito a ausência de Bentancur, que, apesar de ter jogado pouco menos de metade da época, estava a emergir como um dos primeiros nomes da equipa.
O internacional uruguaio tinha dado destaque aos jogos e perdê-lo por um período prolongado foi um prejuízo, uma vez que nenhum outro médio conseguiu apresentar a mesma qualidade.
Son teve uma ligeira subida de forma após a saída de Conte e Emerson Royal ganhou confiança na fase final da campanha, mas não há muitos nomes a destacar.
Melhores atuações
O Tottenham não teve muitos jogos dignos de nota, mas conseguiu fazer algumas boas exibições.
A vitória por 1-0 sobre o campeão Man. City - na qual Kane bateu o recorde de golos dos spurs - foi sem dúvida a atuação mais completa, dando continuidade à estranha série recente de derrotas para uma das melhores equipas do mundo em casa.
Em termos de exibições com mais golos, os spurs golearam o Leicester por 6-2, com Son a marcar três golos no segundo tempo, enquanto quatro golos na segunda parte contra o Crystal Palace lhes valeram uma vitória por 4-0 no habitualmente difícil Selhurst Park.
Também houve boas exibições na vitória de abertura da época sobre o Southampton, contra o Fulham e contra o Chelsea - todos em casa. No geral, as escolhas foram bastante escassas.
Objetivos para a próxima época
Obviamente, é mais fácil falar do que fazer, mas o principal objetivo do Tottenham para a próxima época é evitar que outra campanha tenha um desfecho semelhante.
Para isso, o Tottenham deve começar por acertar na contratação de um novo treinador, mas, como já aconteceu em 2021, o clube tem tendência a perder tempo.
O treinador do Feyenoord, Arne Slot, parecia estar prestes a preencher o vazio antes de se excluir da corrida para continuar o seu projeto com o recém-coroado campeão da Eredivisie.
Outras opções que se pensa estarem em disputa são Ruben Amorim, treinador do Sporting, e Ange Postecoglou, do Celtic, depois de os spurs se terem afastado do antigo treinador do Bayern de Munique, Julian Nagelsmann.
Os spurs precisam de um nome que traga uma nova abordagem ao clube, especialmente porque parecem ter perdido qualquer tipo de identidade no que diz respeito ao seu estilo de jogo e gestão de jogo.
Há também algumas preocupações persistentes no plantel, especialmente no que diz respeito ao futuro do capitão inglês Kane, que não terá ficado nada impressionado com a forma como as coisas se desenrolaram atrás dele e com o facto de as contratações terem realmente causado impacto.
A grande baixa do capitão e guarda-redes Hugo Lloris dará aos spurs muito que pensar, ao mesmo tempo que terão de dar mais estabilidade à defesa para reduzir o elevado número de golos sofridos.
Além disso, será preciso tomar uma decisão sobre Tanguy Ndombele, Giovani Lo Celso e Sergio Reguilon, que devem voltar ao clube no próximo verão, após o fim dos respetivos empréstimos.