Entrevista Flashscore a Marcelo Boeck: "Jorge Jesus revolucionou o Sporting"

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Entrevista Flashscore a Marcelo Boeck: "Jorge Jesus revolucionou o Sporting"
Marcelo Boeck viveu muitas conquistas enquanto jogador do Fortaleza
Marcelo Boeck viveu muitas conquistas enquanto jogador do FortalezaFortaleza EC
Agora a vestir a pele de diretor para o futebol do Fortaleza, o ex-guarda redes Marcelo Boeck foi o convidado do Podcast no Flashscore Brasil. Na conversa com Ricardo Oliveira Duarte e Eduardo Geraque, recorda a passagem por Portugal e a importância de Pedro Martins e Jorge Jesus na sua carreira, assim como explica a ascensão meteórica do Fortaleza no futebol brasileiro, que em pouco tempo passou da série C para jogar a final da Taça Sul Americana.

"História meteórica no Fortaleza"

- O Marcelo faz parte da história recente do Fortaleza. Chegou para a Série C (3.ª divisão), subiu para a Série B e agora o clube está no Brasileirão. Qual o segredo para este sucesso?

- Quando eu regresso ao Brasil para a Chapecoense ainda tenho mais dois anos de contrato com o Sporting e acontece aquele ano fatídico. Por isso não estava muito virado para voltar. Ainda por cima tinha planeado jogar em clubes de primeira divisão. Mas o Brasil é muito grande e todos acompanham todas as divisões. Mesmo em Portugal eu acompanhava a história do Fortaleza. Quando chegava a finais tinha o estádio lotado e eu nunca imaginei que pudesse viver isso na pele ao vivo e a cores.

- ...

- Depois do que aconteceu com a Chapecoense, a minha esposa passou-me a tranquilidade para virmos para o Fortaleza. Vim para a 3.ª divisão e muita gente podia achar que estava a dar dois-três passos atrás na carreira, mas a verdade é que, desde o dia 2 de janeiro de 2017, vivi uma história meteórica e sensacional.

Fortaleza ocupa a 9.ª posição da tabela classificativa do Brasileirão
Fortaleza ocupa a 9.ª posição da tabela classificativa do BrasileirãoFlashscore

- Quem fez parte dessa reconstrução do clube?

- Temos vários elementos que fazem parte desta reconstrução. Aconteceu um bocadinho o que tinha acontecido comigo no Sporting, em que a direção é destituída e assume uma nova, onde entra o senador Luís Eduardo Girão como presidente, o Marcelo Paz, que hoje é nosso presidente, veio como vice-presidente e diretor de futebol, e o Sérgio Papelin juntou-se para formar um trio muito importante. Se essas pessoas não têm entrado podíamos estar a falar da pior fase da história do Fortaleza. Os salários voltam a estar em dia e o clube inicia aí a sua reestruturação. Com oito anos de 3.ª divisão, o clube ficou para trás em termos de estrutura e processo. É contratado o Rogério Ceni, ele vem e traz aquela história vencedora do São Paulo e a junção com o Marcelo Paz fez crescer muito o clube. Hoje ainda está em fase de modernização, mas quem veio na 3.ª e vem agora vê um clube completamente diferente.

- O Marcelo preparou-se para a transição entre futebolista e diretor?

- Creio que sempre tive vocação para questão de liderança. No Sporting, no segundo ano, tornei-me capitão e acho que esse é um bom exemplo. (...) A minha esposa costuma dizer que tive o privilégio de realizar duas vezes o meu sonho de ser jogador e diretor, ainda para mais no Fortaleza, que marcou a minha história. É difícil desvincular o meu nome do Fortaleza. Sinto-me muito à vontade aqui no clube e muito feliz por crescer, aprender e contribuir neste processo.

Marcelo Boeck deixou as balizas para assumir cargo como diretor no Fortaleza
Marcelo Boeck deixou as balizas para assumir cargo como diretor no FortalezaFortaleza EC

A importância de Pedro Martins e Jorge Jesus

- Durante a sua etapa como futebolista, o Marcelo vai para Portugal, onde faz quatro épocas no Marítimo e dá o salto para o Sporting. No seu último ano é treinado por Jorge Jesus. Como recorda essa relação?

- Falo sempre, com toda a certeza, que em Portugal foi, disparado, o melhor treinador com quem trabalhei. Também tive um treinador muito bom no Marítimo, que me ajudou muito e sou eternamente grato, que é o Pedro Martins, e temos uma história muito curiosa juntos. Ele (Pedro Martins) vem para assumir a equipa B, que jogava na segunda divisão B, e se caísse ia para a distrital e o presidente já tinha dito que não ia continuar com o projeto se isso acontecesse. Em dez jogos precisavam de oito vitórias para não cair. Eu não estava a jogar tão regularmente na equipa principal e pedi ao Pedro Martins para jogar na B. Então, desses dez jogos com ele, vencemos nove, empatamos um e sofremos apenas um golo. Criámos logo uma grande amizade e na época seguinte ele acaba por assumir a equipa principal e faço todos os jogos nesse ano. No final acabo por ser transferido para o Sporting.

Marcelo Boeck deixou de jogar em 2022
Marcelo Boeck deixou de jogar em 2022Flashscore

- E por lá encontra então o Jorge Jesus...

- O Jorge Jesus veio para mudar o balneário, estádio, hotel... As contratações foram maiores e o nível de jogo também foi maior. Logo na pré-época foi nítido que estávamos muito bem. Foi uma grande experiência com um grande ser humano. Ele revolucionou o Sporting.

- ...

- Quando já estou no Fortaleza, no dia em que ele (Jorge Jesus) é anunciado no Flamengo, nós estamos a jogar com o Flamengo, no Rio de Janeiro, e lembro-me de dar várias entrevistas e dizer que ele teria um grande sucesso se o Flamengo lhe desse espaço para implementar a sua cultura. E teve e ainda hoje é lembrado. (...) Quando voltei para o Brasil tive de ter uma conversa com ele, até do ponto de vista mais pessoal, e isso marcou-me muito. Ele foi muito humano.

Marcelo Boeck representou o Sporting durante quatro anos
Marcelo Boeck representou o Sporting durante quatro anosSporting CP

"Passou pela minha cabeça rescindir com o Sporting"

- Tem algum episódio mais curioso com o Jorge Jesus?

- Tenho vários, mas alguns não posso contar (risos). Ele sempre gostou muito do jogador brasileiro. Lembro-me que ele gostava muito que os guarda-redes jogassem bem com os pés e fizessem aqueles passes entre linhas, sempre com boa observação do espaço e receção orientada. Num treino, eu recebo um passe do central e faço um passe mais arriscado, mas muito bonito. Naquele dia ele estava de mau humor e do meio campo grita: 'Ouve lá, estás a ficar maluco ou quê' (n.d.r. Marcelo imita Jorge Jesus). Eu respondi: 'O passe foi certo'. Ele respondeu: 'Foi muito arriscado. Estás a discutir comigo e a questionar? Estás a pensar que estás a falar com o teu filho?'. Eu disse: 'Não estou a falar com o meu filho, mas também não estou a falar com o meu pai'. Ele parou o treino e ripostou: 'Depois do treino quero que vás ao meu gabinete'...

- O que aconteceu depois?

- Acabou o treino, quando estava a ir para o gabinete ele já estava sentado à minha espera. Estava com os jornais desportivos abertos, cabeça baixa e eu sentei-me de braços cruzados. Na hora em que ele ia falar ficou um minuto em silêncio. Aqueles mind games dele. Depois tira os óculos e disse: 'Ou resolvemos ou vais para casa'. Eu só disse que eu tinha razão e que ele podia fazer o que quisesse. Ele olhou para mim sério e eu só pensava: 'Vou rescindir o contrato com o Sporting hoje'. Mas ele disse: 'Eu gosto de jogador assim, com caráter e personalidade' (risos). Criámos desde aí uma grande amizade.