"Era suposto colocar duas estrelas (na camisola), mas vou colocar três estrelas porque a taça é nossa", ri-se Lopoa Kouassi Bi enquanto dá os últimos retoques no retrato de Gervinho, antiga estrela da Costa do Marfim, na traseira de um desses camiões.

OsElefantes sonham em conquistar a sua terceira estrela nesta edição caseira da Taça Africana das Nações (CAN), antes de um confronto dos oitavos de final com o atual campeão Senegal, esta segunda-feira, em Yamoussoukro.

O retrato do campeão africano de 2015, desenhado por "LK", nome artístico, é "verdadeiramente magnífico", entusiasma-se o comissário da obra, Sip Tchera, o condutor da carrinha que doravante se chamará Gervinho.

"Encorajo-o a continuar assim, ele leva o seu trabalho a sério, é muito bonito", continua o condutor que veste a mesma camisola cor de laranja com uma risca verde nos ombros que no desenho.

"Atrai os clientes"

"É apenas uma decoração, mas atrai clientes", diz Sip Tchera, de óculos escuros: "Todos os passageiros gostam de entrar em algo que seja bonito e confortável. E depois, com uma decoração, fica ainda mais bonito".

"Quando acabo um retrato, é como se fosse o meu bebé", sorri LK.

No seu estúdio, perto de um dos lagos artificiais da capital da Costa do Marfim, com uma vista ininterrupta para a majestosa basílica de Notre-Dame de la Paix, o decorador de automóveis - como o próprio se intitula - aplicou-se em Gervinho.

Com o telemóvel na mão e o retrato no ecrã, Lopoa Kouassi Bi (39 anos) começou por desenhar a imagem com caneta vermelha, utilizando a técnica da quadratura.

Depois,"desenha-se a lápis e começa-se a pintar as diferentes cores", explica, começando pelo laranja da camisola da Costa do Marfim.

Com habilidade, usa uma pistola de pulverização para desenhar o elefante branco com a tromba erguida no brasão da seleção nacional.

O artista formado em caligrafia deixou a sua marca nos letreiros das lojas. Explica que ganha uma média de 30.000 FCFA (45 euros) por decoração, por duas horas e meia de trabalho. Explica que decora"duas a três massas por dia".

Vimos do Mali e do Burkina Faso

Pintores como ele são muito procurados. "Na sub-região, vêm cá para fazer muita decoração", explica: "A prova é que até há carros que vêm do Mali ou do Burkina Faso para serem tornados mais atractivos, e depois voltam para casa".

"Há muita procura: estas imagens mudam o carro", diz LK: "Quando há uma imagem por detrás, o condutor sente-se motivado. Porque, muitas vezes, é o condutor que decide colocar esta ou aquela pessoa no carro. Como resultado, torna-se algo que tem valor para ele".

Encontram-se retratos deste género por toda a Costa do Marfim. Há cerca de 8000 em Abidjan, a capital económica.

"Há 10 anos que conduzo o camião e gosto muito do passado dos jogadores. Gosto muito de futebol", sorri Moussa Dabila, condutor de uma massa com a efígie do costa-marfinense Wilfried Zaha.

Não há apenas futebolistas, mas também figuras religiosas, músicos, Jack Bauer, o herói da série 24 heures Chrono, e até... o líder da Rússia.

"As pessoas pedem-me muitas vezes para desenhar o Putin, por exemplo, e eu já o desenhei várias vezes. Isso faz com que as pessoas se riam um pouco", diz LK.

Frédéric Kaan, um passageiro que veste uma camisola de basquetebol dos Chicago Bulls, gostaria que"todas as carrinhas fossem bem decoradas, isso dá alegria ao coração. A partir de agora, quando viajar, escolho uma massa que esteja bem decorada".