Faltam referências ao olimpismo mundial desde as reformas do nadador norte-americano e do velocista jamaicano e, em Paris-2024, caberá a estrelas como Armand Duplantis, no salto com vara, Eliud Kipchoge, bicampeão olímpico em título da maratona, o francês Léon Marchand, a australiana Ariarne Titmus e a norte-americana Katie Ledecky, reis nas piscinas, lutar por esse estatuto.
Nos próximos dias, todos os caminhos vão dar à capital francesa, onde se aguarda com grande expectativa o regresso de Simone Biles, que procurará a redenção depois dos dramas vividos no Japão. Era ela a grande esperança do olimpismo após as despedidas de Phelps e Bolt, mas, depois da impactante estreia no Rio-2016, onde ganhou quatro ouros e um bronze, tropeçou no caminho para a glória.
Em Tóquio-2020, depois de contribuir para a prata norte-americana por equipas, abdicou de outras provas, evocando problemas de saúde mental, e regressou apenas para competir na trave, aparelho em que conquistou o bronze.
A ginasta, de 27 anos, esteve afastada da competição dois anos, após a sua participação conturbada nos Jogos, e focou-se na sua saúde mental, tornando-se uma embaixadora do tema - aliás como o é Phelps. No regresso, somou quatro ouros nos Mundiais de Antuérpia-2023 e, já no início deste mês, brilhou nos trials do seu país.
É, portanto, Biles a maior candidata a (re)entrar no Olimpo em Paris-2024, embora rivalize em mediatismo com compatriotas como LeBron James, Stephen Curry, ou Kevin Durant, que vão representar a poderosa seleção norte-americana no basquetebol, os tenistas Rafael Nadal, que até poderá encerrar a carreira nos courts de Roland Garros, onde decorre o torneio olímpico, e Novak Djokovic, os estelares ciclistas Tadej Pogacar, Remco Evenepoel, Mathieu van der Poel, Primoz Roglic e Wout van Aert, e o símbolo local, o judoca Teddy Rinner.
Mas, invariavelmente, e exceção feita à ginástica, uma das três modalidades rainhas, as lendas olímpicas nascem na pista ou nas piscinas e há muitos candidatos a esse estatuto na capital francesa.
No Stade de France, é quase certo que Armand Duplantis vai voltar a brilhar: campeão olímpico em Tóquio-2020, o popular sueco bateu esta época, pela oitava vez, o recorde do mundo do salto com vara, fixando-o em 6,24 metros, e seguramente tentará fazê-lo novamente no maior de todos os palcos.
A expectativa para ver quão alto vai saltar Mondo Duplantis rivaliza com a dúvida sobre quão rápido vai correr Faith Kipyegon os 1.500 metros. Bicampeã olímpica e mundial da distância, a queniana melhorou o recorde do mundo que já detinha no início do mês (03.49,04 minutos), precisamente em Paris, no meeting da Liga Diamante, e quererá voltar a repetir o feito nos Jogos Olímpicos.
Kipyegon procurará o terceiro título olímpico consecutivo tal como o seu compatriota Eliud Kipchoge, que, em Paris-2024, tentará um feito único na história do olimpismo: ser o primeiro a ganhar três vezes seguidas a maratona, desempatando em número de vitórias com o também etíope Abebe Bikila e o alemão Waldemar Cierpinski.
Se estes três nomes têm já provas dadas em Jogos Olímpicos o mesmo não acontece com a nova sensação do atletismo norte-americano Sha’Carri Richardson, campeã do mundo dos 100 metros, que se vai estrear em Paris-2024, depois de ter falhado Tóquio-2020 devido a um positivo por marijuana.
Aos 24 anos, a velocista norte-americana é a principal candidata a suceder à jamaicana Elaine Thompson-Herah, ainda bicampeã olímpica em título nos 100 e 200 metros, que estará ausente destes Jogos devido a uma lesão no tendão de Aquiles.
Do mesmo país chegará outra estrela, Noah Lyles, à procura de replicar o domínio demonstrado nos Mundiais Budapeste-2023 nos 100 e 200 metros, distância em que é bicampeão mundial.
Do Stade de France para La Défense, a supremacia dos Estados Unidos não se esbate, com Katie Ledecky a enfrentar o francês Léon Marchand e a australiana Ariarne Titmus pelo título de figura das piscinas em Paris2024.
Com sete títulos olímpicos no currículo, a rainha das distâncias longas, nomeadamente dos 800 metros, na qual é tricampeã em título, vai procurar ampliar o seu pecúlio de 10 medalhas, depois de, nos últimos dois anos, ter superado o recorde de 15 ouros de Michael Phelps em Mundiais, fixando-o em 21.
Se os créditos da recordista dos 800 e 1.500 metros, de 30 anos, são incontestáveis, há outros nadadores que procuram consolidar-se como olímpicos de referência, nomeadamente o prodígio local Léon Marchand, que nos Mundiais Fukuoka-2023 bateu o recorde de Phelps nos 400 estilos, distância em conquistou dois títulos mundiais, feito que repetiu nos 200 estilos – no Japão, também foi campeão dos 200 mariposa.
Aos 22 anos, o nadador é já uma das estrelas do desporto de França e, em casa, tentará pôr um ponto final na ‘seca’ francesa nas piscinas – desde Londres2012, que não ganham qualquer ouro na natação – e ajudar a nação organizadora a cumprir o objetivo de ficar no top 5 do medalheiro.
Além de Marchand, outra jovem promete agitar as águas em Paris, de seu nome Ariarne Titmus. A australiana de 24 anos apresentou-se ao mundo em Tóquio-2020, onde ganhou os 400 metros livres, com recorde mundial, e os 200, prova em que também é recordista planetária, e prevê que expanda o seu reinado nestes Jogos.
Fora das modalidades clássicas, há duas miúdas do skate que poderão consolidar a sua projeção global na capital francesa: a brasileira Rayssa Leal, que aos 13 anos conquistou a prata em street em Tóquio-2020, e a britânica Sky Brown, bronze na capital japonesa com a mesma idade na vertente park.