Paris-2024: Sem transportes nem liberdade de circulação, parisienses planeiam sair da capital

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Paris-2024: Sem transportes nem liberdade de circulação, parisienses planeiam sair da capital
Bicicleta é aconselhada durante os jogos olímpicos
Bicicleta é aconselhada durante os jogos olímpicosAFP
Zonas vermelhas sem circulação de carros, apresentação de códigos QR para atravessar a cidade e interrupção nas linhas de metro, comboio e elétrico vão fazer parte do quotidiano dos parisienses, com muitos a planearem sair da capital durante Paris-2024.

Há já alguns meses que no metro de Paris apareceram cartazes com um site do governo para começar a antecipar os trajetos a pé ou em transportes na capital, com as autoridades a aconselharem o teletrabalho durante o período dos Jogos Olímpicos, já que não só muitas estações de metro estarão fechadas, mas também, com a possibilidade de 10 milhões de visitantes durante o evento, muitas linhas de metro, comboio urbano e elétrico estarão sobrecarregadas.

"Eu vivo em Paris e vivo perto de uma zona que provavelmente vai ser completamente fechada à circulação, porque fica perto de um local onde vão decorrer provas. Para mim, vai ser terrível. Desde logo, o bilhete de metro vai custar quatro euros, a linha 13 que apanho todos os dias, e já não funciona bem, vai estar cheia de turistas e nem quero imaginar quando houver provas no Stade de France. É por isto que a maior parte dos parisienses vão sair da cidade durante os Jogos", explicou Noah, que integra o coletivo Saccage 2024, que se opõe à organização dos Jogos Olímpicos em Paris.

Estima-se que 93% dos 12 milhões de habitantes da região de Paris, Île-de-France, se desloque pelo menos uma vez por dia em transportes públicos, com muitas queixas sobre atrasos após a pandemia de covid-19, já que o tráfego nalgumas linhas de metro e de comboio foi diminuído entre 2020 e 2021, estando só agora a regressar ao normal. Assim, os transportes públicos durante os Jogos Olímpicos, que vão arrancar exatamente em 100 dias, tornaram-se uma preocupação fulcral.

"A mensagem do Ministério dos Transportes é basicamente desenrasquem-se para encontrar alternativas para os vossos trajetos: vão de férias, façam teletrabalho, usem a bicicleta. Até podemos perceber esta mensagem, mas já sabemos que a situação será difícil nalgumas zonas da cidade e dos arredores. Ao mesmo tempo, algumas linhas vão estar relativamente calmas, portanto nem toda a gente terá um impacto grande, mas há dificuldade na comunicação", disse Marc Pélissier, presidente da Federação Nacional de Passageiros dos Transportes (FNAUT) da região de Paris.

Esta associação não foi consultada sobre as perturbações dos transportes, nem os preços dos bilhetes praticados durante Paris-2024, recebendo já questões de passageiros individuais ou empresas em que os trabalhadores não podem fazer teletrabalho. 

Mesmo uma das conquistas destes Jogos Olímpicos, o prolongamento da linha de metro 14 até o aeroporto de Orly, poderá não ser suficiente para compensar os problemas que os parisienses vão enfrentar durante quase dois meses.

"Há uma única linha que conseguiu avançar devido aos Jogos Olímpicos e é a 14, que vai chegar então a Orly, algo que estava previsto desde o mandato de François Hollande. Mas em relação ao resto do sistema de transportes, as linhas históricas vão ser muito sobrecarregadas e essas não foram modernizadas, portanto o que pode acontecer é que os turistas vão ser sujeitos aos mesmos atrasos e problemas que sofrem todos os dias os parisienses", comentou Marc Pélissier.

Nas redes sociais circulam de forma viral os vídeos de Valerie Pécresse, presidente da região de Île-de-France, a explicar que durante os Jogos Olímpicos vai ser preciso andar e que isso "é algo bom para a saúde".

"As linhas mais impactadas são a 5, 6, 7, 8, 9, 10, 12, 13 e 14. As linhas de elétrico T3a e T3b e os comboios B, C, D, E, L, N, U, P", anunciou Pécresse numa reunião do Conselho Regional, levando a várias paródias na televisão francesa.

No entanto, mesmo andar a pé ou de carro será difícil nalgumas zonas da capital. Por exemplo, a Torre Eiffel e todas as margens do Sena estarão completamente cortadas ao público, podendo passar apenas moradores que se vão identificar com códigos QR, como nos tempos da covid-19.

Este controlo constante está a assustar os parisienses, que por um lado temem ataques durante os Jogos, mas ao mesmo tempo não querem um polícia em cada esquina da cidade.

"Há aqui uma questão de classe muito clara. Nem toda a gente pode ir de férias durante dois meses, então para os que ficam, sinceramente, ninguém quer estes Jogos! Quando as pessoas percebem que vão ser controladas em permanência por 50 mil polícias, incluindo polícias estrangeiros, só para entreter os turistas ricos que podem pagar milhares de euros para assistir aos Jogos, eu tenho vergonha", concluiu Noah.

Os Jogos Olímpicos Paris-2024 decorrem entre 26 de julho e 11 de agosto, seguindo-se os Jogos Paralímpicos, agendados entre 28 de agosto e 08 de setembro.