"Gostava de ter um treinador durante 20 anos, era sinal que em pelo menos 15 tinha ganho. Percebi que o Sérgio Conceição ia dar treinador depois do trabalho que fez na Olhanense. Nunca conheci clube tão complicado e o presidente dizia-me maravilhas dele. Depois faz um trabalho fantástico no SC Braga, onde perde uma Taça de Portugal a três do minuto do fim por um erro do defesa, e no próprio Vitória de Guimarães. Quando o Lopetegui vai embora, eu achava que o Sérgio Conceição era o treinador indicado, mas ele estava em Guimarães e quem estava comigo no futebol não acreditavam na mesma coisa. Não queríamos criar guerras com outros clubes, por isso acabámos por ir buscar o José Peseiro para uma fase de transição que foi para esquecer. Na comemoração dos 30 anos da Taça dos Campeões Europeus soube que o Sérgio Conceição estava em Portugal e fui falar com ele, para saber se era possível libertá-lo do Nantes. Ele veio ter comigo, percebeu a minha confiança e diss-me logo que sim. Foi um filme que acabou bem, é o treinador que considero mais parecido com o espírito do Pedroto", explicou Pinto da Costa, deixando um elogio ao atual timoneiro do FC Porto: "Estamos identificados nos objetivos, nas dificuldades, nos inimigos e num princípio de que é até morrer".
De Mourinho a Vítor Pereira
Ao longo da conversa, Jorge Nuno Pinto da Costa foi desafiado a falar sobre outros técnicos que marcaram a história recente do FC Porto. Começando por José Mourinho, que foi buscar à União de Leiria.
"Em termos teóricos foi um risco, mas eu tinha a certeza absoluta de que ia ser um sucesso, porque quando ele esteve cá com o Bobby Robson (era adjunto) percebi a importância que ele teve nos sucessos do treinador principal e a ambição que tinha. Recordo-me que um dia o presidente do União de Leiria ligou-me a perguntar sobre a mudança de um treinador e eu diss-lhe para ir buscar o Mourinho. Passado 15 dias ligou-me, a dizer: 'Ele é maluco, quer jogar ao ataque. Acha que é o FC Porto'. Disse-lhe para ter calma e o União de Leiria faz uma primeira volta sensacional. Nesse ano, ele tinha tudo para assinar com o Benfica a 29 de dezembro, porque era o José Veiga que o ia levar e foi passar o Natal ao Luxemburgo, portanto as coisas não ficaram feitas no dia 23. Então ligou-me o Baidek, mutio amigo do Mourinho. numa fase em que as coisas estavam a correr mal ao Octávio Machado. Disse que nesse ano não, mas que na época a seguir era outro assunto. Nunca gostei muito de mexer a meio da temporada. O Mourinho veio falar comigo, estava com um diferendo com o Benfica, que lhe queria impor um adjunto, e eu disse-lhe para não se comprometer. Ficou combinado que ia para o FC Porto na época seguinte. Entretanto, a saída do Octávio Machado percipitou-se e cheguei à acordo co mo União de Leiria, disse-lhe que comprávamos também o Derlei e o Nuno Valente, mais tarde o Maciel, e deixaram-no sair. Mostrou logo qualidade e apurou-nos para a Taça UEFA", explicou.
Outros dos treinadores com muito sucesso no Dragão foi André Villas-Boas.
"Conheci-o no tempo do Robson, acho que eram vizinhos. Sempre acreditei nele. Quando foi preciso, fomos falar com ele, mas disse-me que estava comprometido com o Sporting, que já tinha falado com o Costinha. Na altura, o técnico era o Carlos Carvalhal, que fez um grande jogo e foi ovacionado em Alvalade. Liguei-lhe então para ir ter a casa do Antero e perguntei-lhe se tinha visto o que tinha acontecido no Sporting. À minha frente ligou para o Costinha, expressou dúvidas e ficou livre e então assinámos com ele. Demos-lhe matéria-prima, quase como que a a dizer para não estragar e teve grande sucesso", atirou.
Seguiu-se Vítor Pereira, então adjunto de Villas-Boas, quando o técnico principal saiu para o Chelsea por 15 milhões de euros.
"O Vítor Pereira teve muito mérito no sucesso no André Villas-Boas e acreditei que era uma boa solução. O André teve uma saída intempestiva depois de ter sido confrontado com um grande contrato do Chelsea. Eu exigi dinheiro e eles pagaram assim, deve ter sido do Abramovich e do Putin (presidente da Rússia), então não consegui impedir a saída. E se tinha alguém que considerava ter feito parte do sucesso, porque é que ia buscar outra pessoa que não conhecia o plantel? Foi uma aposta ganha, com o campeonato do Kelvin e outro sem derrotas", frisou.
Por último, Pinto da Costa fez um balanço positivo da contratação de treinadores.
"Acho que faria tudo igual, porque na altura tinha a convicção de que ia dar certo. E alguns não resultaram porque aconteceram coisas que não eram de prever", concluiu