Ashleigh Barty nunca fez nada como os outros e apanhou todos de surpresa quando anunciou o fim da sua carreira em março de 2022. Ganhou 3 dos 4 majors de singulares, mas vencer o Open dos Estados Unidos para juntar à sua coleção não a motivou o suficiente para continuar para além dos 25 anos.
Depois de vencer em Melbourne, perante o público da sua terra natal, sentiu que o seu tempo no circuito tinha terminado, mesmo que haja exemplos de regressos alguns anos mais tarde. Afinal, Kim Clijsters e Caroline Wozniacki tentaram regressar depois de terem sido mães.
Tanque vazio
A WTA perdeu inesperadamente uma das suas estrelas, numa altura em que o nível raramente esteve tão alto, com Iga Swiatek, Aryna Sabalenka e Elena Rybakina, entre outras. Para o ténis australiano, esta retirada inesperada é ainda mais dolorosa porque Barty era a única jogadora da ilha capaz de se impor no topo do ranking mundial desde Sam Stosur, vencedora do US Open em 2011 e 4.ª do mundo em singulares nesse mesmo ano, e número 1 em pares em 2006.
Enquanto Alex de Minaur é o primeiro jogador masculino a emergir realmente das sombras de Lleyton Hewitt, Pat Rafter e Mark Philippoussis, foi preciso uma década para que o ténis feminino australiano regressasse ao topo.
Agora, o fosso é enorme. A número 1 australiana é Arina Rodionova, 34 anos e 104.ª do mundo. A melhor prestação em casa foi a de Storm Hunter-Sanders, 180.ª do mundo após a qualificação e eliminada na 3.ª ronda. Ajla Tomljanovic, 271.ª classificada no ranking WTA, conseguiu passar uma ronda. As wild cards Olivia Gadecki (21), Kimberly Birrell (25) e Taylah Preston (18) não passaram da primeira ronda. Preston foi classificada em 10.º lugar no ranking mundial de juniores e ganhou quatro torneios ITF esta época, incluindo três na Austrália. Dois anos mais nova, Emerson Jones está em oitavo, Maya Joint em 25.º e Lily Taylor em 79.º.
Isto deixa poucas esperanças de uma herdeira nos próximos anos, especialmente tendo em conta o aparecimento de jogadoras adolescentes consagradas como Coco Gauff (19), Mirra Andreeva (16), Linda Noskova (19), Ashlyn Krueger (19), Linda Fruhvirtova (18) e Diana Shnaider (19), que já estão no Top 100, para não falar de Brenda Fruhvirtova (16), que entrará no Top 100 depois do Open da Austrália. 40% das Top 100 têm 25 anos ou menos, o que torna o caminho ainda mais difícil.
Mesmo que uma australiana consiga entrar no topo do ranking mundial, a conclusão continua a ser a mesma: a próxima geração não está em lado nenhum e só daqui a muitos anos é que o ténis feminino australiano voltará a ter alguma consistência.