Os comentários da vencedora do Grand Slam surgiram depois de Iga Swiatek, número um mundial, ter afirmado que a questão não era tão "preto e branco". As líderes do desporto feminino estão a ponderar a possibilidade de levar as finais da WTA o Estado do Golfo.
"Não li muito sobre o Rafa e o que ele está a fazer, mas é óbvio que a Arábia Saudita está a entrar no desporto de uma forma muito forte. Penso que tanto no golfe como no futebol e agora no ténis", disse em Melbourne a dinamarquesa Wozniacki, que está de regresso após ter tido dois filhos.
"Acho que é inevitável que isso aconteça e, quando acontecer, acho que temos a oportunidade de mudar e fazer algo de bom", apontou.
Nadal foi nomeado embaixador da Federação Saudita de Ténis na segunda-feira, numa altura em que o reino pretende acolher mais torneios profissionais como parte de um impulso desportivo mais amplo.
"Para onde quer que se olhe na Arábia Saudita, vê-se crescimento e progresso e estou entusiasmado por fazer parte disso", disse o espanhol, vencedor de 22 Grand Slams.
O desporto é uma componente importante da agenda de reformas da Visão 2030 do Príncipe Herdeiro Mohammed bin Salman, que visa transformar a Arábia Saudita num centro de turismo e de negócios, ao mesmo tempo que afasta o maior exportador de petróleo bruto do mundo dos combustíveis fósseis.
Mas o país tem sido acusado pelos seus críticos de utilizar o desporto para melhorar a sua reputação internacional (o chamado sportswashing), com críticas generalizadas ao seu historial em matéria de direitos humanos e ambiente.
"É óbvio que tenho consciência dos direitos humanos e de tudo o resto. Mas acho que quando é inevitável que eles tenham tanto dinheiro para investir no desporto, acho que quando se é colocado nessa situação, talvez se possa mudar, fazer uma mudança e fazer algo positivo", continuou Wozniacki.
Por seu lado, Swiatek disse que a questão não era assim tão clara.
"Houve muitos rumores sobre as WTA Finals na Arábia Saudita. Ainda estamos à espera da decisão. Foi sempre difícil para mim dizer se era bom ou não, porque não é fácil para as mulheres nestas áreas. Obviamente, estes países também querem mudar e melhorar a nível político e sociológico. Não é fácil decidir", argumentou.
Com a decisão sobre o torneio pendente, a Sports Illustrated noticiou na quarta-feira que os grandes nomes do ténis, Martina Navratilova e Chris Evert, enviaram uma carta ao chefe da WTA, Steve Simon, pedindo-lhe que evitasse a Arábia Saudita.
"Não só este é um país onde as mulheres não são vistas como iguais, como é um país que criminaliza a comunidade LGBTQ", dizia a carta, segundo a revista.
"É um país cujo historial de longo prazo em matéria de direitos humanos e liberdades básicas tem sido motivo de preocupação internacional durante décadas. Levar as finais da WTA para a Arábia Saudita representaria dar um passo significativo para trás, em detrimento da WTA, dos desportos femininos e das mulheres", pode ler-se.
A WTA, o organismo que rege o ténis feminino, disse em comunicado à AFP que estava "em discussões com vários grupos em torno das finais da WTA de 2024 e além e não tomou nenhuma decisão neste momento".
"Tal como acontece com todas as decisões da WTA, estamos a trabalhar em estreita colaboração com as jogadoras e concentrados em continuar a construir um futuro forte para o ténis feminino", acrescentou.