Hélder Gonçalves: um engenheiro na Volta a Portugal

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Hélder Gonçalves: um engenheiro na Volta a Portugal
Hélder Gonçalves no alto da Torre
Hélder Gonçalves no alto da TorreKelly-Simoldes UDO/Facebook
Hélder Gonçalves (Kelly-Simoldes-UDO) descobriu uma paixão na engenharia de software e, aos 23 anos, pondera já deixar o ciclismo, com a decisão a ser adiada pela esperança de ainda ter uma oportunidade no pelotão internacional.

Sou engenheiro de software. Ao longo deste ano todo, quase todos os meses trabalhei para uma empresa em Barcelos. Apesar de não ter contrato, trabalho por projeto, é mais freelancing. E sempre concilio bem as coisas, também para a minha sanidade mental, para não focar só no ciclismo, porque a engenharia é uma área de que eu gosto mesmo. E até custa-me dizer isto, para os meus colegas de equipa, mas o ciclismo não vai durar. Não é uma coisa que eu me veja a fazer a longo prazo, porque eu descobri outra paixão”, resumiu à Lusa.

Segundo na classificação da juventude na passada edição da Volta a Portugal, o promissor corredor da Kelly-Simoldes-UDO, que ambiciona integrar o top 10 final nesta edição, está preparado para encostar a bicicleta, depois de descobrir que “o ciclismo não é uma profissão de sonho, como pensava quando era miúdo”.

Não é que a engenharia seja mais fácil, nota Hélder Gonçalves, apenas apresenta “outros tipos de desafios”, como datas de entrega ou reuniões.

É uma área que não tem nada a ver, mas é uma área que me apaixona e é uma área que me está a causar grande reflexão para ver quando termino a minha carreira de ciclista. Já muito pensei se não seria este ano, e se esta não seria a minha última Volta. Esse pensamento ainda está na minha cabeça, independentemente do resultado final. Já disse muitas vezes que até poderia ganhar a Volta a Portugal que nada do meu pensamento mudava”, revelou.

Embora prefira deixar “essa parte de reflexão para quando terminar a Volta”, uma vez que está “totalmente focado” nos 11 dias da prova, Gonçalves justifica a opção pela engenharia em detrimento do ciclismo pelo facto de “gostar de desafios” e ter a vontade de “trabalhar em outros países e viajar”.

Nesta decisão também pesa a remuneração, uma questão em que o jovem “nem queria tocar”: “Estamos a falar, por vezes, de 10 vezes mais. E não estou só a querer dizer que se ganha mal no ciclismo, nada a ver. De facto, a engenharia de software é uma profissão que está em grande procura do outro lado, e são salários brutais, principalmente em países que eu já visitei. E não tenho nada que me agarre aqui. Também já falei com a minha namorada. E é uma coisa que eu quero arriscar na minha vida”.

No entanto, o ciclista da Kelly-Simoldes-UDO não esconde que antes de desistir do ciclismo gostava de ter uma experiência lá fora, algo que, acredita, até já poderia ter acontecido se tivesse nascido noutro país.

Infelizmente, custa-me dizer isto, mas acho que se tivesse nascido no outro lado da fronteira já estava a correr num escalão mais acima. Nem é questão do meu valor. Eu vejo por colegas que correram contra mim nas camadas jovens, seja em júnior, seja no ano passado, em sub-23, na Taça das Nações… quase todos correm já num escalão acima. E colegas que vêm correr aqui, a Portugal, nestes 11 dias ou em troféus como o Joaquim Agostinho, e chegam no final da tabela classificativa e isso custa-me imenso”, assumiu.

De acordo com Gonçalves, os ciclistas que estão em Portugal “são bastante prejudicados, mas não há nada a fazer”.

Ainda ontem (segunda-feira), comentei com um colega que talvez gostasse de ter uma oportunidade, mas sei que talvez nunca a vá ter. Mas sei que não depende de mim sequer, nem das minhas qualidades”, avaliou, ‘culpando’ a ‘fama’ do ciclismo nacional, cimentada pelo escândalo de doping da W52-FC Porto, pela ausência de convites.

O atual 16.º classificado da Volta a Portugal nota, contudo, que “as coisas estão a melhorar, inclusive este ano”, algo que o vai levando a adiar a decisão de sair do ciclismo, por sempre ter aguardado por uma oportunidade para mostrar o seu valor, como mostra “sempre” que vai correr a outros países pela seleção nacional.

Vejo que isto é um pouco monótono, o facto de termos sempre as mesmas corridas, os mesmos adversários, e gostava também de tentar algo mais, porque sinto-me confortável, confiante, não tenho problemas em adaptar-me a qualquer tipo de risco ou o que seja. E, pronto, sempre aguardei algum contacto, já tive algumas conversas, mas ainda não surgiu nada, a ver se é este ano. Já surgiram algumas portas que estão semiabertas à custa desta Volta a Portugal e vamos ver se eu as abro de vez”, concluiu.