Quando Regragui foi anunciado como substituto do bósnio Vahid Halilhodzic, os especialistas não gostaram da escolha e apelidaram-no de "cabeça de abacate", um termo depreciativo. Todavia, o treinador careca fez história no Catar, "calando" os críticos. Antes de comandar a seleção marroquina, Regragui levou o Wydad à conquista da Liga marroquina e da Liga dos Campeões africana, na época passada.
Esta terça-feira, os Leões do Atlas produziram um desempenho defensivo espantoso, consentindo à Espanha a posse de bola, para depois vencerem na disputa das grandes penalidades e marcarem encontro com Portugal, nos quartos de final.
Marrocos captou primeiro as atenções neste torneio com um empate a zero com a Croácia, vice-campeã mundial na Rússia, em 2018. Nessa altura, o treinador de 47 anos falou sobre como a sua equipa devia desenvolver uma mentalidade vencedora e que Marrocos estava expectante para o duelo com a Bélgica, antes do último jogo do grupo, contra o Canadá.
Os marroquinos, no entanto, surpreenderam os belgas, vencendo por 2-0 e garantindo praticamente o apuramento para os oitavos de final pela segunda vez na história. Após o triunfo sobre os canadianos, Regragui tornou-se no primeiro treinador árabe a liderar uma equipa nos oitavos.
"Disse (aos meus jogadores) que devíamos estar orgulhosos de nós próprios. É uma oportunidade que pode não se repetir. Infelizmente, nunca joguei no Mundial. Deus deu-me agora uma oportunidade de fazer história como treinador. Sou a pessoa mais feliz do mundo. Penso que os africanos podem ir longe, porque não sonhar com a taça? Queremos que a próxima geração se atreva a sonhar", disse o técnco.
Mistura habitual
Regragui contou com a mistura habitual do estilo do norte de África, combinando a defesa empenhada com contra-ataques liderados por Hakim Ziyech, que regressou à seleção nacional quando Regragui assumiu o lugar de Halilhodzic.
Mas a importância de Regragui estende-se muito para além das táticas. Dá confiança à equipa e motiva-a à sua maneira.
Regragui conseguiu convencer os jogadores de que estão a jogar por todo o país e, fruto disso, o estágio da equipa foi diferente do que era feito anteriormente: o selecionador decidiu convidar as famílias dos jogadores para o estágio no Catar.
"Vivi a minha vida toda em Paris, mas foi a primeira vez que participei num torneio com o Walid, quer como jogador quer como treinador", disse a mãe de Regragui à estação de televisão marroquina Arryadia.
Apesar de 14 dos 26 jogadores do plantel marroquino terem nascido no estrangeiro, o amor pelo seu país é evidente.
"Lutámos e fizemos o povo marroquino feliz. Fizemos história e Marrocos merece. O povo marroquino tornou-nos unidos em campo", afirmou o selecionador à Bein Sports.
É possível sentir o calor entre Regragui e os jogadores durante os treinos, uma vez que ele os trata como amigos.
"Eles gostam de me bater na cabeça. Talvez isso lhes dê boa sorte".
No sábado, no Estádio Al-Thumama, o mundo marroquino, árabe e africano espera continuar o conto de fadas inspirado num abacate contra Portugal.