Numa declaração emitida pelo diretor executivo da FKF, Barry Otieno, datada de 3 de maio de 2023 e obtida pelo Flashscore, os suspensos que aguardam investigação incluem os árbitros Meshack Omondi, Jacqueline Barongo e Stephen Adeya, o jogador do FC Talanta Kevin Otieno Olang'o e o gestor de equipa do Kibra United, Abdulkarim Amele.

O que dizia a carta do Diretor Executivo da FKF?

"A Federação de Futebol do Quénia deseja informar todos os membros e o público em geral de que o Departamento de Integridade da FKF abriu investigações sobre o alegado envolvimento em viciação de resultados por parte dos seguintes indivíduos - Meshack Omondi (árbitro), Jacqueline Barongo (árbitro), Stephen Adeya (árbitro), Kevin Otieno Olang'o (jogador -FC Talanta) e Abdulkarim Amele - (treinador da equipa) Kibra United", lê-se em parte da declaração.

"À luz destas alegações, os indivíduos acima mencionados foram provisoriamente suspensos de todas as atividades futebolísticas com efeito imediato. Esta suspensão permanecerá em vigor até que as investigações sejam concluídas e o Comité Disciplinar da FKF tome uma decisão", acrescentou o comunicado.

Para mostrar a sua seriedade sobre o assunto, a FKF advertiu ainda os seus membros para não lidarem com os dirigentes e jogadores suspensos. "Consequentemente, a FKF deu instruções a todos os seus membros e ao público em geral para não terem qualquer tipo de contacto desportivo com os dirigentes suspensos".

O comunicado conclui: "Não serão fornecidos mais pormenores nesta fase, uma vez que o assunto está pendente de audiência e determinação pelo Comité Disciplinar da FKF".

Quando contactado para comentar, o CEO da FKF, Otieno, recusou-se a divulgar detalhes dos jogos em questão.

 "Devido à sensibilidade do assunto em questão, não quero comentar porque as investigações já estão em curso, mas quero assegurar aos adeptos e aos nossos membros em geral que o resultado será tornado público assim que as investigações estiverem concluídas", disse Otieno ao Flashscore.

Quais são as reações dos adeptos e das partes interessadas?

A ex-tesoureira do Gor Mahia, Sally Bolo, classificou a última revelação como, no mínimo, chocante.

"É muito dececionante, para dizer o mínimo, que a direção e a equipa técnica dos respetivos clubes trabalhem tanto para preparar uma equipa para honrar um jogo, seja em casa ou fora, e depois alguns indivíduos gananciosos manipulem o resultado do jogo", disse Bolo ao Flashscore.

"O pior de tudo é que o resultado dos jogos em questão é conhecido 12 ou mais horas antes do pontapé de saída", acrescentou.

Bolo ofereceu ainda uma solução à FKF, pedindo à federação que proteja a integridade do desporto, criminalizando o vício.

"Com o aumento dos relatos de manipulação de resultados no futebol queniano, não temos outra alternativa senão proteger a integridade do desporto que amamos criminalizando o dispositivo de manipulação de resultados".

O antigo presidente da FKF, Sam Nyamweya, que pretende candidatar-se ao lugar mais alto nas próximas eleições, fez eco dos sentimentos de Bolo, afirmando que irá pedir ao parlamento que criminalize a viciação de resultados, dizendo que é a única forma de acabar com o vício na liga queniana.

"É uma pena que os jogadores e os dirigentes tenham enveredado por esta via da viciação de resultados, é algo que mancha o nome da liga e que tem de ser travado", disse Nyamweya ao Flashscore.

"A manipulação de resultados faz parte da minha agenda e da minha visão quando regressar à FKF como presidente e vou certificar-me de que é apresentada uma moção no parlamento para criminalizar o vício".

Elijah Onsika, antigo avançado do Harambee Stars: "A única solução que temos é pagar melhores salários aos árbitros, pagar melhores salários aos jogadores, as empresas de apostas não devem ter probabilidades nos jogos da FKF e devem ser implementadas medidas rigorosas, incluindo penas elevadas, prisão sem multa para os culpados envolvidos na viciação de resultados".

Os incidentes de viciação de resultados não são novidade no futebol queniano

Em 2021, seis jogadores do Zoo Kericho FC foram considerados culpados de viciação de resultados pela unidade de integridade da FIFA e foram expulsos da primeira divisão queniana.

"A Federação de Futebol do Quénia recebeu relatórios confidenciais alegando o envolvimento de vários jogadores e funcionários em atividades de manipulação de resultados", disse a FKF num comunicado no seu site oficial após banir os seis jogadores.

"Num esforço para proteger a integridade da liga (...) a federação suspendeu provisoriamente estes indivíduos, com efeitos imediatos, enquanto se aguarda a investigação do assunto pelo departamento de integridade da FIFA e da FKF".

Em 13 de janeiro de 2023, a FKF suspendeu alguns árbitros e jogadores e abriu investigações sobre alegadas viciações de resultados. Entre os suspensos contam-se dois treinadores, seis ex-jogadores e sete ainda em atividade.

Os técnicos são Willis Ochieng Oganyo, treinador da Universidade Zetech, e Du Monde Selenga, treinador principal do Kericho FC, enquanto os jogadores afetados são Sammy Sindani (Silibwet Leons FC), Geoffrey Gichana (Zoo FC), Dominic Okoth (Kericho FC), Isaac Kipyegon (Tusker FC), Stanlaus Munyasa (Silibwet Leons FC), Williams Odunga (Silibwet) e Brian Lumumba (Zoo FC).

Entre os outros afetados contam-se antigos jogadores como Dennis Monda (Vihiga United), Daniel Kiptoo (Zoo FC), Johnstone Ligare (Zoo FC), Michael Idovolo (Nairobi City Stars), Vincent Misikhu e Hamidu Lucas, ambos do Zoo FC.

Em 11 de março de 2023, as autoridades quenianas detiveram um queniano e dois estrangeiros que tinham planeado viciar um jogo do campeonato entre o Sofapaka e o Nairobi City Stars. Os três - Akhiad Kubev (russo), Benard Nabende (ugandês) e Martin Munga (queniano) - foram mais tarde acusados num tribunal queniano de conspirar para fazer batota num jogo de resultados combinados.