Com três centrais marchar, marchar: O que esperar de Portugal com Roberto Martínez?

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Com três centrais marchar, marchar: O que esperar de Portugal com Roberto Martínez?

A estreia de Roberto Martínez acontece esta quinta-feira
A estreia de Roberto Martínez acontece esta quinta-feiraLUSA
4-4-2, 4-2-3-1, 3-4-3, 3-5-2... como jogará Portugal com Roberto Martínez? A questão tem sido feita ao longo dos últimos meses, mais concretamente desde que o novo selecionador foi oficializado em janeiro. Aos 49 anos, Martínez assume o maior desafio da sua carreira, não só pelos objetivos, mas também pela grande panóplia de jogadores que tem à disposição. O Flashscore entrou em campo e aceitou o repto de tentar montar a equipa base da seleção nacional com dois importantes critérios: o esquema tático de Martínez e os jogadores eleitos na primeira convocatória (sem o lesionado Pepe).

Olhando à seleção da Bélgica, o mais recente trabalho de Roberto Martínez e aquele que desempenhou ao longo dos últimos seis anos, a tática com três defesas - ou cinco, se juntarmos os dois alas - foi e tem sido predominante na carreira do espanhol: se tivermos em consideração os números do Transfermarkt, Martínez utilizou, na equipa belga, os três centrais em 72 dos 80 jogos realizados.

É praticamente ponto assente que Roberto Martínez utilizará a mesma formação tática que, apesar de ser composta por cinco jogadores de cariz defensivo, não se traduz numa equipa defensiva. “Gosto de equipas de ataque. Sou um treinador de ataque. A minha equipa tem que atacar, marcar golos e ganhar. Jogar bem sem ganhar não existe no futebol. Prefiro ganhar 5-4 do que 1-0”, afirmou recentemente o novo selecionador num vídeo promovido recentemente pela Federação Portuguesa de Futebol (FPF).

O 3-4-3 é a "tática da moda" e, apesar de ter chegado com estranheza a terras lusitanas, já está bem entranhada. O expoente máximo desta "nova" forma de jogar é Rúben Amorim, técnico que foi campeão no Sporting com um esquema tático de três centrais. Desde então, o modelo foi adotado por grande parte das equipas da Liga e até pelos rivais FC Porto - Sérgio Conceição tem adotado os três centrais em jogos contra equipas teoricamente mais fortes -, Benfica - de Jorge Jesus - e SC Braga - com Carlos Carvalhal.

Por tudo isto, não é de todo estranho começarmos a ver a seleção portuguesa a jogar com três centrais, esquema que até pode potenciar ao máximo as qualidades dos jogadores e colmatar algumas fragilidades defensivas. Mas, na prática, será mesmo assim? Venha daí connosco nesta jornada, que começa por terras belgas.

Como jogava a Bélgica?

Como referido anteriormente, os três centrais e os dois médios acompanharam Roberto Martínez ao longo deste percurso. Todavia, e como o futebol não é um desporto estático em que os jogadores se limitam a percorrer a "sua" zona, existem várias nuances utilizadas por Martínez ao longo dos anos: por exemplo, o 3-4-3 pode desdobrar-se num 3-4-2-1, com dois médios ofensivos em apoio ao ponta de lança. Foi assim que fez na Bélgica, de modo a "libertar" De Bruyne e Hazard de tarefas defensivas.

Vamos por partes. Roberto Martínez liderou uma das gerações mais brilhantes do futebol belga e das mais talentosas do mundo, com De Bruyne, Hazard e Courtois à cabeça. O estilo de jogo baseou-se num futebol de posse, com uma construção lenta desde trás, assegurada pelos três centrais. O futebol podia não ser bastante direto, como praticado anteriormente pelas seleções belgas, mas a qualidade atacante esteve sempre lá e a Bélgica de Martínez apresentou um futebol atrativo ao longo deste período.

Posicionamento médio dos jogadores no jogo frente à Croácia <mark>do</mark> Mundial-2022
Posicionamento médio dos jogadores no jogo frente à Croácia <mark>do</mark> Mundial-2022Opta by Stats Perform

Pegando no Mundial-2022, o onze base da Bélgica era composto por:

Courtois; Alderweireld, Vertonghen, Castagne; Meunier, Tielemans, Witsel, Carrasco; De Bruyne, Hazard e Lukaku.

Começando pela baliza, Courtois foi (e continua a ser) um dos indiscutíveis. A partir daí, Alderweireld, Vertonghen e Castagne compuseram, em grande parte dos jogos, a linha mais recuada da Bélgica.

Esta linha de três homens permitia aos belgas explorarem o jogo lateral e envolverem-se no processo ofensivo, com os alas a libertarem-se e a incorporarem o ataque. A Bélgica tinha a tendência de priorizar o lado esquerdo, com Carrasco a subir mais que Meunier, muito por conta da movimentação de Castagne que, com bola, abria no corredor esquerdo.

O meio campo era composto por dois médios posicionais, que ligavam o jogo daequipa, mas não se aventuravam muito no ataque. Essa tarefa ficava para o trio da frente, bem versátil, composto por De Bruyne, Batshuayi e Hazard. Neste processo, cabia ao jogador do médio construir e "segurar" a zona do meio-campo, o extremo ia para zonas interiores e assumia-se como criador no último terço, enquanto o ponta-de-lança do Fenerbahçe aparecia em zonas de finalização. Deste modo, os Diabos Vermelhos assumiam a posse de bola em grande parte dos jogos.

Mapa de calor de De Bruyne contra Marrocos
Mapa de calor de De Bruyne contra MarrocosAFP/Opta by Stats Perform

Falamos de uma equipa vulnerável, que permitia aos adversários várias oportunidades e tinha poucas taxas de duelos ganhos. O ponto fraco desta seleção no Catar foi, precisamente, a sua postura sem bola. Os belgas apresentaram uma defesa subida, em contraste com o habitual bloco baixo, sem pressionarem o portador da bola e, por isso, expuseram em demasia as costas da sua defesa. A transição defensiva foi o ponto fraco desta seleção ao longo da caminhada, devido ao espaço deixado pelo posicionamento alto dos laterais.

Quando recuperavam a posse de bola, podia-se perspetivar uma postura de ataque em transição, mas na maioria dos casos isso não se sucedeu. Roberto Martínez é um treinador que privilegia o jogo ofensivo com paciência e, assim que recupera a bola, prefere que a equipa reassuma o controlo do jogo e recupere o ataque posicional.

O que também não ajudou o treinador espanhol foi o desgaste notório de uma geração que prometeu e não cumpriu ao longo de uma década. Neste último grande torneio, os jogadores viraram-se uns contra os outros e o ambiente azedou. De Bruyne chegou mesmo a dizer que não eram favoritos a conquistar o Mundial por estarem "demasiado velhos" e que a melhor hipótese foi em 2018.

Vertonghen não gostou e respondeu ao companheiro: "Provavelmente também atacamos mal porque estamos velhos". Um bate bocas que ajuda a explicar o terceiro lugar na fase de grupos e saída precoce da competição, assim como uma saída pela porta pequena da melhor geração belga.

Portugal: Onze de entre uma lista "incrível"

E se Roberto Martínez teve em mãos a "geração de ouro" da Bélgica, o que dizer do lote de jogadores de que dispõe enquanto selecionador de Portugal? Recorremos a uma avaliação do mister para responder: "É uma lista muito forte. É incrível", exclamou durante o vídeo divulgado pela FPF, sustentando que "no futebol, há bons problemas e maus problemas", enquanto explicava o seu processo de seleção e redução de uma lista de "200 jogadores" para uma final com "20 mais três guarda-redes".

Eleger aqueles que vão representar a seleção nacional a cada compromisso internacional será, de facto, uma dor de cabeça. Das boas, neste caso, mas não deixa de ser uma dor de cabeça, pelas dúvidas que certamente surgem no momento da escolha.

Nesta fase, surge o desafio de tentar perceber quem pode ocupar os onze lugares na primeira equipa inicial escolhida pelo novo timoneiro, num exercício de antecipação que, acreditamos, não ficará muito longe da realidade.

Acompanhe o relato áudio através <mark>do</mark> site e da aplicação
Acompanhe o relato áudio através <mark>do</mark> site e da aplicaçãoFlashscore

Assim, esta é a aposta do Flashscore para o primeiro onze de Roberto Martínez: Diogo Costa; Danilo, Rúben Dias, Gonçalo Inácio; Cancelo, Rúben Neves, Bernardo Silva, Nuno Mendes; Bruno Fernandes, Cristiano Ronaldo e João Félix.

Na baliza, a escolha parece-nos óbvia. Diogo Costa é um dos grandes talentos mundiais da posição e a titularidade conquistada antes do Mundial-2022, que teve sequência no Catar, abriu-lhe a porta para um longo reinado na defesa das redes lusas.

À sua frente, a segurança e polivalência de Danilo - que pode preencher também uma posição mais recuada no meio campo - serão complementadas pela liderança e imponência física de Rúben Dias, que poderá assumir ainda uma missão importante na primeira fase. Isto porque, num sistema que privilegia a construção desde trás, o defesa poderá ser peça-chave, servindo-se de características que foi desenvolvendo sob a liderança de Pep Guardiola no Manchester City.

Rúben Dias pode ser importante na fase de construção de Portugal
Rúben Dias pode ser importante na fase de construção de PortugalOpta Stats by Perform, Rúben Dias/Facebook

E, se nos dois primeiros casos parecem não restar grandes interrogações, elas surgem no momento em que tentamos antecipar quem os poderá acompanhar. E é aqui que pode entrar a surpresa. Gonçalo Inácio tem sido peça importante no Sporting e é dono de uma característica pouco usual nos defesas centrais portugueses: é esquerdino. Tal como Diogo Leite - outra das novidades na convocatória -, mas o leão tem a seu favor estar mais habituado às particularidades de uma tática que tem por base uma defesa a três, já que há três épocas que joga dessa forma, para além da capacidade de se envolver na manobra de construção

Gonçalo Inácio demonstra também capacidade para se envolver na fase de construção
Gonçalo Inácio demonstra também capacidade para se envolver na fase de construçãoOpta Stats by Perform/Sporting

As alas devem ficar entregues a Nuno Mendes, à esquerda, e Cancelo, à direita, pela profundidade que conseguem imprimir no jogo e pela imprevisibilidade de ambos no momento ofensivo. No miolo, Rúben Neves traz consistência, segurança e capacidade no passe, enquanto Bernardo Silva interpreta o jogo como poucos e consegue envolver-se com o tridente mais ofensivo.

Bruno Fernandes, figura maior do Manchester United, ficará como ponto de ligação entre os setores, munindo-se da capacidade técnica e de aproximação ao último terço, onde surge regularmente e quase sempre com perigo, seja para finalizar ou para servir os colegas.

Na frente, e apesar da quebra competitiva causada pela mudança para a Arábia Saudita, o capitão Cristiano Ronaldo deve manter a titularidade, aparecendo como a grande arma ofensiva, permanecendo a outra dúvida em relação ao homem que estará ao seu lado.

Aqui, João Félix poderá ter vantagem - é um dos destaques no Chelsea apesar do atual momento negativo -, não só pelos requisitos técnicos que apresenta, mas também pela forma como se move em campo, desorganizando defesas compactas para surgir em zonas de finalização ou para libertar espaços para os companheiros. Contudo, pela forma recente e pelo faro de golo, Gonçalo Ramos poderá ser solução, até porque é um avançado muito trabalhador e capaz, também ele, de criar situações benéficas para a equipa.

E também depende se Roberto Martínez quer ter uma frente de ataque fluída com Ronaldo mais fixo no centro da área, ou então dois avançados mais posicionais e Bruno Fernandes nas suas costas, com o capitão a deambular - algo que costuma fazer na seleção independentemente das instruções - e um avançado de área que, neste caso, seria Gonçalo Ramos.

Por agora, tudo não passa de uma previsão, numa altura em que o relógio avança e estamos cada vez mais perto de confirmar as escolhas de Roberto Martínez. Portugal defronta o Liechtenstein esta quinta-feira, às 19:45 no Estádio de Alvalade, em Lisboa, naquele que será o primeiro jogo da caminhada rumo ao Euro-2024.

Pode acompanhar aqui as incidências do jogo