Algo estava a ser cozinhado no Estádio Olímpico Lluís Companys após a derrota incrível do Barça por 3-5 frente ao Villarreal .

Pouco antes das 21:00, Xavi Hernández compareceu finalmente a uma conferência de imprensa. Com o irmão Óscar e a mulher a assistirem, anunciou: "Já não serei treinador do Barça na próxima época", acrescentando pouco depois que "é de bom senso pensar primeiro no clube antes de pensar no clube".

Enquanto Frenkie de Jong e Ronald Araújo apoiaram o seu treinador na zona mista, Xavi considerou que o clube precisava de "uma mudança de dinâmica, disso não tenho dúvidas. O presidente (Joan Laporta) compreendeu isso. Esta decisão é realmente necessária". 

Leia aqui a crónica da derrota com o Villarreal

Há vários dias que estava a pensar nisso, e as recentes derrotas para o Real Madrid na final da Supertaça (4-1), para o Athletic na Taça (4-2 após prolongamento) e com o Submarino Amarelo (5-3) aceleraram o anúncio.

Confirmou que mesmo uma vitória na Liga dos Campeões, mais hipotética do que nunca tendo em conta o atual nível de jogo, não mudaria nada:

"Estou otimista e mais do que nunca. Vamos fazer tudo, incluindo a Liga. É uma decisão muito racional. (...). Amanhã (domingo) vou falar com os jogadores, e vi-os muito afetados por esta derrota. Penso que tínhamos de tomar uma decisão corajosa, como a que tomámos para vir aqui. Sou um homem do clube, sem dúvida. Dei e darei tudo nos últimos quatro meses para dar alegria aos adeptos. Continuarei a ir ao estádio com a minha mulher e os meus filhos e continuarei a ser Culé", asseverou.

Farto das críticas, nomeadamente quando o Barça venceu a Supertaça e a Liga na época passada, Xavi também invocou a sua saúde mental para explicar a sua decisão:

"Tenho estado menos com a minha família e ela tem sofrido com isso. Não posso ser egoísta toda a minha vida, vou ficar em casa com eles durante algum tempo", finalizou.

"Tenho energia, não é uma questão de energia, é uma questão de mudança de direção, até vou dar mais nestes quatro meses. Penso que podemos fazer uma boa época, que ainda podemos lutar pelo campeonato. No primeiro ano, disseram-me que eu era inútil como treinador, mas não é isso. É a sensação de que o clube vai melhorar com a nossa saída a 30 de junho".

Reunião com Laporta

Xavi falou com a sua família, com a sua comitiva, com a sua equipa técnica. E esperou até ao fim da reunião para o explicar ao presidente, Joan Laporta. "Tivemos uma conversa muito humana, gosto muito do presidente. A confiança deles até hoje foi total, mas é o momento, não me movem situações económicas, move-me o coração e penso que é a melhor situação para o clube. Não quero ser um problema".

A decisão não é fruto de uma reação acesa à derrota com o Villarreal: "Fizemos um jogo infeliz e é altura de mudar o rumo dos jogadores, que não o merecem. Foi um golpe ver como nos venceram num jogo em que estávamos a perder, não me lembro de um jogo tão cruel como o de hoje na minha carreira. Precisamos de uma mudança de direção para o bem do clube e isso vai desanuviar a situação que rodeia o Barcelona".

"Ser treinador do Barcelona é cruel"

O entorno do Barça sempre foi apontado como o principal inimigo do clube. E é por isso que Xavi considera que "a sensação de ser treinador do Barcelona é cruel, desagradável, sente-se desrespeitado. É um desgaste terrível para a nossa saúde mental, para o nosso estado de espírito, ao ponto de dizermos que não vale a pena continuar. Os meus amigos mais próximos sabem-no", admitiu. 

Pela mesma razão, acredita que nunca haverá um treinador que consiga levar a cabo um projeto longo ao longo do tempo. "Aconteceu com todos os treinadores que passaram por este clube. É impossível que haja um Ferguson no Barcelona".