Amorim fica!

Não há grandes dúvidas de que o maior responsável pelo título conquistado pelo Sporting é Rúben Amorim, mas para haver Rúben Amorim foi preciso confiança de toda a estrutura.

À partida, não seria assim tão fácil garantir o treinador mais uma época. É certo que no histórico do técnico estava a conquista do campeonato na primeira temporada completa no Sporting, mas 2022/23 trouxe os primeiros falhanços da passagem do técnico por Alvalade.

A verdade é que, apesar do 4.º lugar na Liga Portugal, da eliminação da Taça de Portugal frente ao Varzim, do terceiro escalão, da queda na fase de grupos da Liga dos Campeões e nos quartos de final da Liga Europa, Rúben Amorim nunca foi verdadeiramente contestado em Alvalade.

O final da época podia, no entanto, ter sido visto como um fim de ciclo para o técnico, depois da pior temporada nos leões. De resto, alguns adeptos chegaram a propor isso mesmo, enquanto na conferência de imprensa surgiam questões ao próprio Amorim relacionadas com uma potencial saída no final da época. Só que a direção leonina, liderada por Frederico Varandas, olhou além dos títulos, acreditou no projeto, no treinador e manteve Rúben Amorim para 2023/24.

I am Viktor

O namoro foi longo. Tão longo que fez várias capas de jornais e provocou vários comentários que, ao dia de hoje, são recordados por parte dos sportinguistas, na resposta aos que questionavam a insistência num avançado vindo do segundo escalão inglês.

Depois da assumida teimosia na questão Paulinho e na falta de necessidade de contratar outro jogador para a frente de ataque, Rúben Amorim foi convencido quando viu Viktor Gyökeres em ação.

Desde então, o sueco foi alvo único na lista de Hugo Viana e o esforço acabou por compensar. Depois de declarações do próprio agente e de assumido o interesse de clubes da Premier League no próprio Gyökeres, temeu-se que o negócio não viesse a concretizar-se, mas o desejo do jogador foi decisivo.

Convencido pelo projeto, o sueco lá viajou até Lisboa para ser apresentado como o primeiro e principal reforço para o Sporting 2023/24. A 13 de julho de 2023, o rosto revelou a expressão de um goleador que promete ficar para sempre na memória dos sportinguistas, enquanto as mãos juntaram-se para a celebração que o próprio Gyökeres fez por tornar eterna meses mais tarde: "I am Viktor".

Menos de um ano depois, Gyökeres tornou-se na figura principal da Liga Portugal - melhor marcador da competição e uma influência que ultrapassa os próprios golos, como prova a frequência com que assiste. Tiro mais certeiro era impossível.

Arranque de leão

Assim que arrancou o campeonato, Rúben Amorim traçou logo um objetivo: começar a época de uma maneira bem melhor do que o Sporting havia feito na temporada anterior.

Antes da paragem para as seleções, o técnico leonino queria um Sporting invicto e, pelo menos, com os mesmos pontos do que os rivais.

Olhando para a temporada 2022/23, antes da pausa FIFA, o Sporting era apenas 8.º classificado, com 10 pontos, e já estava a 11 do Benfica, líder 100 por cento invicto ao fim de sete rondas.

Ainda havia muito futebol para jogar, mas só uma época trágica dos três principais candidatos na altura (o SC Braga estava apenas a dois pontos do Benfica) poderia permitir ao Sporting entrar na luta pelo título.

Esta época, ao fim de sete rondas, o objetivo estava cumprido: o Sporting liderava a Liga com seis vitórias e um empate, mais um ponto do que o Benfica e mais oito do que no mesmo período da época passada.

Reação de candidato

O campeão nacional passou apenas seis jornadas fora da liderança, o que atesta desde logo a época quase perfeita do Sporting em 2023/2024.

Ainda assim, é possível encontrar um período no qual os leões não foram tão convincentes, pelo menos no que toca a resultados.

Depois de 10 jornadas sem perder, o Sporting foi derrotado no Estádio da Luz e voltou a perder na deslocação seguinte, ao D. Afonso Henriques, frente ao Vitória SC.

O período era delicado, especialmente porque o regresso a casa tinha o FC Porto marcado no calendário da equipa de Alvalade, mas a reação serviu quase como uma mensagem de força para os adeptos e para os rivais.

Sem o capitão Seba Coates, emergiu, de forma surpreendente, Eduardo Quaresma e o Sporting venceu o FC Porto (2-0) em casa para se isolar na liderança da Liga Portugal e iniciar uma volta completa sem perder para o campeonato.

Ano novo, vida(s) nova(s)

Esperava-se um início de 2024 de dificuldade extrema para o Sporting. O calendário lotado, com Taça da Liga pelo meio, e a perda de jogadores importantes para as competições internacionais - Morita na Taça Asiática, Geny Catamo e Diomande na CAN - figuraram um teste diferente para o Sporting e para Rúben Amorim, mas as 12 passas trouxeram boas novas à equipa verde e branca.

Numa altura em que era necessário recorrer a jogadores menos utilizados, Rúben Amorim voltou a olhar para dentro quando até podia tentar uma incursão mais imediata ao mercado de transferências, e apostou em jogadores desacreditados que acabaram por se revelar fundamentais para o título leonino.

O caso de Eduardo Quaresma, mencionado no ponto anterior, foi o primeiro exemplo. O internacional sub-21 português quase não teve hipótese de somar minutos antes do jogo com o FC Porto, mas a exibição com os dragões e a consistência que ganhou a partir desse momento fez com que se tornasse numa peça integrante da defesa leonina, quer a titular, quer a sair do banco.

Só que ninguém mudou completamente de um ano para o outro como Francisco Trincão. Enquanto via Marcus Edwards assumir a titularidade praticamente na íntegra, o internacional português não conseguiu apresentar argumentos para recuperar o seu trono em 2023, mas entrou com tudo em 2024. O esquerdino desatou a marcar golos, a assistir e a assumir responsabilidades quando as maiores figuras desapareciam dos jogos, provando que as palavras de Rúben Amorim, que sempre demonstrou confiança no extremo formado no SC Braga, tinham razão de ser.

Um dérbi de Geny(o)

Momentos que decidem temporadas. Na altura, podemos até nem perceber que esse terá sido o lance decisivo, mas assim que o remate de Geny Catamo entrou na baliza de Trubim não restaram grandes dúvidas de que o campeonato poderia ter ficado definido.

Numa semana de duplo dérbi (as duas equipas encontraram-se para a Taça de Portugal, com o Sporting a apurar-se apesar do empate), o Benfica tinha deixado bons indicadores no primeiro duelo e foi confiante até Alvalade.

Só que essa confiança esfumou-se ao fim de menos de um minuto, o tempo que Geny Catamo demorou a aparecer para bater Trubin pela primeira vez.

A reação encarnada foi positiva e em momentos até houve mais Benfica do que Sporting - Bah empatou para as águias em cima do intervalo -, só que a estrelinha que em tempos rondou Alvalade voltou a aparecer. 

Segundos depois de Daniel Bragança desperdiçar um golo cantado, o canto que sucedeu esse lance acabou por resultar no golo do título. Geny Catamo estava à entrada da área, recebeu a bola que sobrou, matou no peito e rematou de pé direito, sem hipótese para Trubin. A celebração de todo o estádio e as lágrimas do cabo verdiano foram dignas de um momento que, como se previa, foi mesmo decisivo.

O Famoso jogo que praticamente sentenciou o título

A tinta que um Famalicão-Sporting fez correr... Os leões tiveram sempre dificuldades na deslocação a Vila Nova de Famalicão, mas nada fazia antever o que sucedeu a 3 de fevereiro de 2024.

A falta de policiamento começou por atrasar o jogo e acabou por levar ao seu adiamento para uma data a definir. Os problemas sucederam-se fora do estádio, com confrontos entre adeptos, e prolongaram-se no tempo, especialmente depois da realização dos jogos dos rivais do Sporting.

Nas redes sociais, surgiam teorias de uma cabala contra os leões, mas a estrutura verde e branca não abalou e afastou cenários do além.

Rúben Amorim lidou com tranquilidade com a situação e Frederico Varandas revelou o objetivo do grupo para o dia em que o Famalicão-Sporting se realizasse, ainda sem saber quando seria possível marcar essa partida.

"Ir a Famalicão com menos um jogo e em primeiro". Assim foi. O Sporting regressou a Famalicão na liderança do campeonato e com mais quatro pontos do que o Benfica. O triunfo a 16 de abril, mais de dois meses depois da data marcada, foi o xeque-mate no título.