"Tinha havido um primeiro protesto, muito violento, da Juventude Leonina, no aeroporto, depois do jogo com o Marítimo. Manifestaram o desapontamento deles mas ninguém estava preparado para o que aconteceria dois dias depois. Cerca de 50 pessoas, encapuzadas, entraram no nosso centro de treinos. Agrediram o treinador, Jorge Jesus, o seu adjunto e os primeiros jogadores que encontraram, com cintos e barras de ferro. O Bas Dost ficou muito mal, partiu a cabeça. Nós, jogadores, pensávamos que éramos intocáveis e ficámos em estado de choque. Nem tivemos tempo para reagir. O próprio clube não levou as ameaças a sério, porque não tomou medidas de segurança", conta Rafael Leão.
"Entre os que entraram no balneário reconheci alguns antigos colegas de escola. Quando estás muito tempo com alguém, um capuz ou uma ‘balaclava’ não os tornam irreconhecíveis. Não podia acreditar no que estava a acontecer porque tínhamos perdido um jogo. Todos os jogadores foram chamados para depor em tribunal, mas aqueles adeptos sabiam tudo sobre nós, onde vivíamos, onde viviam as nossas famílias… O meu pai mandou-me para o Porto, para casa de uns amigos. Eu e os meus amigos recebemos várias ameaças nas redes sociais", acrescenta o internacional português de 24 anos na sua autobiografia.
"Mesmo hoje em dia, se comentarem alguma foto do Sporting ou de um jogador do Sporting sou inundado com insultos, chamam-me de traidor. Vivi um inferno nessas semanas, até que rescindi o contrato de forma unilateral, tal como vários os outros jogadores que foram atacados. Tinha 18 anos e fui obrigado a deixar o meu país", lembra ainda Rafael Leão, que assinou a custo zero com o Lille e, mais tarde, foi contratado pelo AC Milan, onde cumpre a quinta temporada.