Após sete anos como selecionador belga, no começo de 2023, o antigo médio, nascido na Catalunha, mas com quase duas décadas de carreira no futebol inglês, galês e também escocês (representou o Motherwell como jogador), estava preparado para retornar à vida normal de clube, mas acabou por ser impedido pela Federação Portuguesa de Futebol (FPF).
“Após sete anos na Bélgica, o passo normal seria voltar a um clube. Parecia natural. Foi um momento de decisão da minha vida. Mas, quando tive uma reunião com o presidente (da FPF), fez sentido totalmente usar a minha experiência do futebol de seleções”, contou Martínez, em entrevista à agência Lusa.
No seu gabinete na Cidade do Futebol, em Oeiras, o técnico espanhol, de 50 anos, confessou que não estava à espera de ser o sucessor de Fernando Santos na equipa lusa.
“Foi inesperado, totalmente inesperado. Mas, acredito nisso. Gosto muito do sentimento de acordar no próximo dia e ter uma missão. Agora, estou onde quero estar, tenho uma oportunidade única e é com orgulho que vou fazer tudo para termos sucesso no Europeu”, disse.
Martínez nasceu na Catalunha, na zona de Lérida, e começou a sua carreira de jogador em Espanha, passado sobretudo pelo Saragoça, mas, cedo, com 22 anos, rumou ao futebol inglês, algo que foi determinante na sua vida.
“Nunca pensei que iria jogar e treinar 21 anos no futebol inglês. Faz parte da minha formação, do que tenho nos meus valores como treinador e na forma de jogar. O futebol para mim não é um trabalho, é uma paixão, uma forma de viver. O melhor papel é jogar e o segundo melhor é treinar”, confessou.
Pela ligação ao seu pai, treinador em equipas pequenas locais na Catalunha, desde cedo Martínez teve a certeza de que iria seguir as pisadas familiares, mas a vida britânica acabou por ter um grande peso nas suas ideias para o futebol.
“Se tivesse ficado em Espanha, seria um treinador totalmente diferente. A cultura ibérica, Espanha, Portugal, também Itália, é tentar ganhar faltas, é tentar complicar a vida ao árbitro. Na cultura britânica, isso não é permitido no balneário. Há regras claras de fair-play, forma de jogo, ter jogo útil com responsabilidade dos jogadores. Por isso, quando fui para Inglaterra, mudei rapidamente”, reconheceu.
Após ter treinado Wigan, Swansea e Everton, antes de rumar à Bélgica, Martínez admite que não tem saudades da Premier League, sobretudo devido à quantidade de jogos com poucos intervalos e por ser uma pessoa que abraça os projetos com “intensidade”.
“Olho muito mais para a frente do que para atrás. A chave da vida é fazer tudo com intensidade. E, é isso que estou a fazer”, concluiu.
"Há muitos fatores para a convocatória final"
Portugal tem de demonstrar na fase de grupos do Euro 2024 de futebol que é favorito à conquista do título e isso será determinante na campanha lusa na Alemanha, afirmou o selecionador Roberto Martínez, em entrevista à agência Lusa.
“Para ter sucesso no Europeu, precisamos de crescer durante os primeiros três jogos. No passado, seleções históricas com Espanha, Inglaterra, França, Bélgica, Itália e Alemanha ficaram mais próximas de chegar aos títulos crescendo durante o torneio. Fazemos agora parte desse grupo e temos tudo para poder lutar”, afirmou Roberto Martínez.
No seu gabinete na Cidade do Futebol, em Oeiras, o técnico espanhol de 50 anos explicou que os duelos com Turquia, República Checa e o vencedor do play-off (Geórgia, Luxemburgo, Grécia ou Cazaquistão), no Grupo F, vão demonstrar o verdadeiro valor da seleção portuguesa, que chega a solo germânico como um dos campeões europeus, face ao título alcançado em 2016, em França.
“Aquilo que fizermos no grupo é a resposta do que podemos fazer no Europeu. A minha experiência é que, em Europeus, não há jogos fáceis. Todos são difíceis. E, precisamos de estar a um nível muito alto”, frisou.
Após três fases finais com a Bélgica, entre Europeus e Mundiais, Martínez confessou manter o sonho de conquistar um título de seleções, embora agora admita que tenha mais experiência do que quando abraçou a seleção belga em 2016.
“O mesmo sonho, a mesma paixão, mas com muito mais experiência. Sei que é muito importante o grupo de jogadores, de pessoas, para uma fase final. Ganhar jogos reside nos detalhes e temos um grupo que mostrou compromisso e que assume a responsabilidade de jogar pela seleção, mas também de querer desfrutar de um sonho”, disse.
Para já, Portugal terá dois testes em março, com particulares frente a Suécia, que falhou o apuramento, e Eslovénia, uma das surpresas, duelos que Roberto Martínez classificada como importantes para a equipa crescer, mas, também, para aumentar ainda mais a lista de possíveis escolhas para a decisão final de 20 de maio (data limite para os 23 convocados para o Euro 2024).
“Vamos olhar e dar oportunidade a jogadores que tiveram uma boa época, uns 12 meses de bom futebol e que merecem estar com a seleção. É o momento para ganhar ainda mais informação sobre os jogadores. Será uma altura para focar nos jogadores. Depois, mais tarde, em maio, será o momento de tomar decisões. Lesões, momentos de forma, atitude, o que o jogador fez. Há muitos fatores para a convocatória final”, concluiu.