Opinião: Somos todos Roberto Martínez? Não creio

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Opinião: Somos todos Roberto Martínez? Não creio
Roberto Martínez divulga os convocados às 12:30
Roberto Martínez divulga os convocados às 12:30FPF
Roberto Martínez, o novo selecionador nacional, divulga esta sexta-feira, a partir das 12:30, a primeira lista de convocados como líder de Portugal. E logo a doer: Portugal arranca a fase de qualificação para o Euro-2024, inserido no Grupo J, defrontando Liechtenstein, dia 23, em Alvalade, e Luxemburgo, fora de casa, dia 26.

Ora elaborar uma lista de convocados da Seleção Nacional é, quiçá, um dos passatempos favoritos dos portugueses. Pelo menos daqueles que gostam de futebol. Dos que gostam de futebol, no seu todo, e dos que gostam apenas e só do seu clube, em particular. Já lá iremos.

Facto: não há, nem nunca houve, uma lista de convocados que fossem 100% consensual. E agora, chegados aqui, depois de um longo reinado de oito anos de Fernando Santos - 67 vitórias em 109 jogos -, adivinhar as escolhas de Roberto Martínez deveria dar direito a um prémio do Euromilhões  - até podia ser dos mais pequeninos, mas devia.

0% português, 100% imparcial

Ponto prévio: o novo selecionador português... não é português. Não é propriamente uma novidade, e todos ainda estamos bem lembrados de Luiz Felipe Scolari, treinador brasileiro, e todo o apelo ao sentimento português no Euro-2004. Mas Roberto Martínez não é português, com tudo o que de bom e de mau isso acarreta. Porque sim, tem pontos positivos. Muitos. Desde logo o facto de ninguém poder acusar o treinador de ter uma costela azul, verde ou vermelha. Não tem, garanto.

A ajudar "à festa", a Federação Portuguesa de Futebol lançou há poucos dias um vídeo, uma espécie de mini-documentário, com um dia na vida do novo selecionador nacional. E, propositadamente ou não, Roberto Martínez surgiu junto a um quadro, com os dados estatísticos de vários jogadores, para explicar um dos pontos importantes no seu dia-a-dia.

"A estatística não toma decisões, mas dá-te muita informação, para aqueles momentos em que tens de tomar uma decisão", dizia o treinador espanhol, enquanto o olhar de qualquer adepto, ao ver o vídeo, franzia e focava-se na lista de jogadores que surgiam no quadro. E eram muitos. Quantos?

"No futebol, há bons problemas e maus problemas. A primeira lista tinha 200 jogadores. Rapidamente, vais cortando e chega aos 90. Esses 90 eram jogadores com características diferentes, mas todos importantes. Agora, são 52 jogadores, para uma lista de 20 mais três guarda-redes. É uma lista muito forte. É incrível", revelou Roberto Martínez.

Pois. Eram 200. Ver o nome de Rafa na lista causou surpresa, ver até o nome de um médio espanhol praticamente desconhecido para o comum adepto também, mas... eram 200. Calma.

Esta sexta-feira, a partir das 12:30, serão... 23. 23 dos 52 que Roberto Martínez "filtrou". E há muitos pré-convocados que foram, paulatinamente, surgindo na imprensa, para todos (vocês percebem) os gostos: Chermiti do Sporting, Galeno do FC Porto, Florentino do Benfica. Entendem onde quero chegar?

Mas sexta-feira serão 23. Os verdadeiros. E há quem diga que é boa altura para experiências, porque Portugal, afinal, vai medir forças com Liechtenstein e Luxemburgo. Estamos a falar de um apuramento para um Europeu, sim, mas os adversários são... o Liechtenstein e o Luxemburgo. Há quem defenda que hoje em dia já não há jogos fáceis? Talvez. Permitam-me que apresente um 6-1 à Suíça, em plenos oitavos de final do Mundial, para discordar. Há jogos difíceis e há uns menos difíceis que outros.

Olá, três centrais

Para quem reclama das experiências, deixem-me dar uma pequena novidade, que dificilmente não ficará visível na convocatória: Roberto Martínez é "adepto" dos três centrais. E há, como houve antes do Mundial do Catar, muitos "adeptos" dos três centrais. Aqui têm.

Parecendo que não, a ideia de sistema tático do novo selecionador nacional terá influência direta nos jogadores convocados. Porque (só) serão 23, e porque jogar com dois ou três centrais influencia sempre o número de nomes chamados para essa posição. Como influenciará o número de médios necessários e mesmo de avançados, conforme se pense num 3x4x3 ou num 3x5x2.

E começando pelos centrais, até porque para a baliza dificilmente teremos algo extremamente surpreendente - Diogo Costa, claro, Rui Patrício, quase óbvio, e depois José Sá, Anthony Lopes e Rui Silva à espreita -, surge logo uma dúvida, a mesma que assaltou Fernando Santos antes do Mundial do Catar: estará Pepe apto? O central de 40 anos do FC Porto falhou o jogo com o Inter Milão, de terça-feira, devido a lesão, mas tudo indica que possa ser chamado. Sobram, então, pelo menos mais três lugares: Rúben Dias terá um, presumivelmente António Silva o outro. O que falta aqui? Um central canhoto que pode bem ser Gonçalo Inácio, do Sporting. Um central do FC Porto, um do Benfica, um do Sporting. Até agora.... bravo!

Com três centrais, ganha tremenda importância o papel dos laterais. E aqui Portugal tem do melhor que existe. Diogo Dalot e João Cancelo à direita, Nuno Mendes e Raphael Guerreiro à esquerda (calma, já falo de João Mário e Nuno Santos).

No meio está (?) a virtude

A meio-campo, a chamada de Danilo Pereira poderá sempre permitir que o jogador do PSG possa jogar a médio ou a defesa - caberá a Roberto Martínez decidir onde e como pretende ver Danilo atuar -, sobrando, neste caso, uma vaga para outro médio defensivo: e entre João Palhinha, Florentino Luís, Rúben Neves e William Carvalho, venha o... Martínez e escolha. Porque à frente desse médio, estará sempre um jogador de características mais ofensivas: um Bruno Fernandes, um Bernardo Silva, um Otávio, um Matheus Nunes, um João Mário... uff!

CR7: sim

Passemos ao ataque, que está na altura de marcar golos: Cristiano Ronaldo. Tema sensível, tema difícil, tema que pode marcar, logo aqui, o legado de Roberto Martínez. O meu palpite? O capitão fica. Para já. Depois há Gonçalo Ramos, garantidíssimo, como garantido também deve estar João Félix. E Diogo Jota. E Rafael Leão. E... André Silva? Pois, já estamos a bater nos 23. 

E quando olhamos para a lista, e estamos em 23 nomes, começamos a perceber que deixámos alguns de fora. E alguns que podem muito bem estar dentro. Nuno Santos, do Sporting, por exemplo, capaz de jogar na ala ou no ataque. E Ricardo Horta, garantia de qualidade, estabilidade e golos. Como também Vitinha. Ou Vitinhas, porque o do Marselha é bem bom, e o do PSG é ainda melhor. 

Por isso, seremos mesmo todos Roberto Martínez? Não creio. Eu, pelo menos, até me divirto a escolher 23. Mas quando for para responder por eles o caso muda de figura. Uma coisa é certa, e aí prefiro até socorrer-me das palavras do novo selecionador: "É uma lista muito forte. É incrível". É mesmo. Seja a de 23, seja a de 52, seja até a de 200. Portugal está bem entregue.