As 30 subidas do percurso dão a Vingegaard, da Jumbo-Visma, uma vantagem sobre o bicampeão Tadej Pogacar, apoiado por uma equipa reforçada da UAE Team Emirates. Há um ano, a força coletiva da Jumbo ajudou o dinamarquês, mais resistente nas subidas mais duras, a ultrapassar o ousado Pogacar numa implacável guerra de desgaste nas montanhas. Pogacar tinha terminado em primeiro lugar no ano anterior e Vingegaard em segundo. Este promete ser o terceiro combate dos pesos pesados.
O diretor do Tour, Christian Prudhomme, disse à AFP que a edição deste ano é "o jogo de regresso, ou talvez a vingança. O que é certo é que vai ser emocionante. No ténis, os confrontos Federer-Nadal, Nadal-Djokovic, são algo que nos atrai, que nos faz adorar. Não há nada mais emocionante do que um duelo", disse, comparando Vingegaard e Pogacar às grandes rivalidades do passado - Jacques Anquetil e Raymond Poulidor nos anos 60, ou o confronto de 1986 entre os colegas de equipa Greg Lemond e Bernard Hinault.
Pogacar venceu o campeonato nacional esloveno no domingo e disse que foi um bom teste para as suas pernas antes do Tour. "Estou contente por ter conseguido. Foi um bom teste antes do Tour. As minhas pernas estavam bastante sólidas. Agora vou descansar antes de ir para Bilbao para a partida".
A esperança francesa Romain Bardet disse: "Vai ser uma bela batalha, especialmente se ambos estiverem a 100%. Há uma infinidade de pretendentes a seguir, logo atrás deles".
O folclore do Tour insiste que o campeão é escolhido pelos Alpes, e 13 das 30 subidas categorizadas deste ano estão lá, com mais seis nos Pirinéus, cinco nos Vosges, quatro no Maciço Central e uma no Jura e no País Basco.
A Volta a França tem um início montanhoso nas encostas florestais em redor de Bilbau e San Sebastian. O País Basco é o coração do ciclismo espanhol e os fervorosos adeptos locais estarão presentes em força na Grande Partida. O inteligente traçado do itinerário preparou o que promete ser uma luta de grande intensidade ao longo das três primeiras etapas, num evento transmitido pela televisão em 190 países.
A primeira etapa, em torno da zona rural de Bilbau, está repleta de terreno para testar os aventureiros das clássicas a lutar pela glória, com o francês Julian Alaphilippe a ser um dos mais atentos. A descida de 20 km para a elegante estância costeira de San Sebastian, na segunda etapa, poderá levantar uma ou duas sobrancelhas após a recente e chocante morte do ciclista suíço Gino Maeder na Volta à Suíça.
O pelotão entra em França no terceiro dia e depois vai para oeste durante duas etapas através dos Pirinéus antes de regressar à costa atlântica. As vinhas de Bordéus, na sétima etapa, servem de aperitivo para o marco principal deste Tour, o magnífico vulcão adormecido de Puy de Dome. A subida oferece uma vista espetacular das cúpulas ao longo da falha tetónica do centro de França.
Ar rarefeito
Nem os adeptos nem os veículos serão autorizados a subir o Puy de Dome, onde os candidatos estarão brutalmente expostos aos elementos.
Outra potencial decisão é a etapa 17 do Mont-Blanc, que sobe quatro montanhas, o último no ar rarefeito acima do arvoredo, no cume de 2.300 metros da subida final para Courchevel, onde o campeão de 2019, Egan Bernal, poderá mais uma vez lançar um ataque tardio.
Já não existe o contrarrelógio individual da etapa 20, que tornou as finais recentes numa espécie de lotaria. Em vez disso, a última etapa antes de Paris oferece mais cinco subidas categorizadas e não deixa o líder indiferente.
Como é habitual, o Tour é rico em sub-tramas. A estrela em ascensão Biniam Girmay tem todas as condições para se tornar o primeiro negro africano a vencer uma etapa nesta 110.ª edição. "É um grande momento para mim e para a Eritreia", disse o líder da equipa belga Intermarche-Wanty.
Nas etapas ao sprint, Girmay enfrenta o veterano britânico Mark Cavendish, que espera quebrar o empate com o grande Eddy Merckx com a sua 35.ª vitória numa etapa da Volta à França.
A Volta a França termina com o tradicional sprint coletivo nos Campos Elísios, a 23 de julho, com a cerimónia de consagração a acontecer por baixo do Arco do Triunfo. Em 2024, a chegada será em Nice, por causa dos Jogos Olímpicos de Paris.
O percurso da Volta a França feminina, realizada de 23 a 30 de julho, foi revelado na passada quinta-feira, com um itinerário de 1.000 quilómetros que começa em Clermont-Ferrand e leva as ciclistas pelo sul do país, com destaque para a subida do Col du Tourmalet, nos Pirinéus.