Exclusivo: Nuno Lobo Ribeiro, o português que já cuidou das estrelas do ténis mundial

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Exclusivo: Nuno Lobo Ribeiro, o português que já cuidou das estrelas do ténis mundial
Exclusivo: Nuno Lobo Ribeiro, o português que já cuidou das estrelas do ténis mundial
Exclusivo: Nuno Lobo Ribeiro, o português que já cuidou das estrelas do ténis mundialArquivo Pessoal
É natural de São João da Madeira, o município mais pequeno de Portugal, e foi desde lá que partiu para os grandes palcos do ténis mundial. Fisioterapeuta, Nuno Lobo Ribeiro já trabalhou de perto com algumas das grandes figuras da modalidade e, em conversa com o Flashscore, recorda essas experiências, bem como os desafios de trabalhar no circuito ATP, principalmente numa fase em que a época arranca e na qual se joga o Open da Austrália, um dos mais importantes torneios do ano.

- Como se iniciou a sua ligação ao circuito ATP?- Começou com um atleta russo, que era o Dmitry Tursunov, que já não joga. Foi através de um colega fisioterapeuta. O primeiro mês foi à experiência, como normalmente acontece, e eu fui para o torneio de Indian Wells. Na altura, estava com o Tursunov, o Lukas Rosol e com outra atleta que já não joga. Depois do mês experimental, eles ficaram satisfeitos e eu acabei por escolher ficar com o russo, que já tinha sido top-20 e era, realmente, um atleta fora de série.

- O que se sente a trabalhar nesse contexto?- Quando caí lá, nem acreditava que estava no meio de jogadores que eram ídolos para mim. Nem sonhava que iria trabalhar com o Tursunov, porque ninguém me disse com quem estaria quando falámos e só depois de lá chegar é que percebi que era ele. Era um atleta que já conhecia, que admirava em campo e que era um leão no court. Como deve imaginar, era uma sensação espetacular estar no meio daquelas estrelas todas e, no fundo, ter começado a fazer parte daquele mundo. Depois acaba por se tornar normal, mas foi uma experiência muito boa.

Nuno Lobo Ribeiro não esconde o entusiasmo que sentiu por trabalhar no circuito
Nuno Lobo Ribeiro não esconde o entusiasmo que sentiu por trabalhar no circuitoArquivo Pessoal

- Com que atletas trabalhou diretamente?- Depois deixei de trabalhar com o Tursunov e em 2014 comecei a colaborar com a Federação de Ténis do Cazaquistão. Fiz a pré-época com toda a equipa, porque, apesar de ser um desporto individual, existe a Taça Davis, que é uma espécie de Campeonato do Mundo de Ténis. O Cazaquistão fazia questão de reunir a equipa e eu fui fazer a pré-época com eles, naquela paragem durante o mês de dezembro, em que não há torneios. Depois, a ligação manteve-se e quando era necessário, como aconteceu em 2015, antes dos quartos de final da Taça Davis, chamavam-me. Nessa altura fui fazer o torneio de Nottingham e o Grand Slam de Wimbledon para, no fundo, ajudar o Mikhail Kukushkin, que ainda joga e que nessa fase era top-40.

Nuno Lobo Ribeiro em Wimbledon
Nuno Lobo Ribeiro em WimbledonArquivo Pessoal

- Quais os principais desafios que enfrentou ao trabalhar no circuito?

- O principal desafio é o stress que a função acarreta. Normalmente, a fisioterapia está muito ligada à lesão, mas ali trabalhava com atletas saudáveis e o desafio era tentar recuperá-los o mais rapidamente possível dos treinos e dos jogos. Ou seja, recuperá-los do stress diário, por jogarem todas as semanas, num contexto de competição constante. Enquanto uma equipa de futebol, por exemplo, treina durante a semana e joga ao fim de semana, ali joga-se a cada dois dias e, portanto, o stress é constante, porque os jogadores ganham dinheiro a jogar. Foi uma experiência completamente diferente. Noutros desportos, intervinha quando os jogadores se aleijavam, mas ali não. Fazia-o todos os dias, na recuperação do atleta, na potenciação do corpo e na deteção precoce de qualquer problema físico que ele tivesse, de forma a evitar que a lesão ocorresse. Muitas vezes o atleta não sente e quando fazemos uma avaliação, quando vamos lá com as mãos, como costumo dizer, ele refere dor num ou outro ponto, o que pode ser já um indício de uma lesão.

- Num torneio, os jogadores podem jogar todos os dias. Há mais risco de lesão?

- O jogo, normalmente, está mais associado ao número de lesões. Todo o cuidado é pouco. Há coisas a fazer desde que o atleta acorda até ao final do dia, mais na área preventiva e de avaliação.

Recuperação dos atletas era parte do trabalho do fisioterapeuta
Recuperação dos atletas era parte do trabalho do fisioterapeutaArquivo Pessoal

- Estamos numa fase inicial da temporada. Há mais pressão para a preparação do atleta nesta altura, sabendo que se aproxima um importante torneio?

- No mês de dezembro, que antecede o início da temporada, não há jogos e a preparação é muito mais física. Há uma incidência maior no trabalho físico, se o atleta não tiver qualquer lesão. Foi durante esse mês que fiz a pré-época no Cazaquistão e, aí, o trabalho é mais árduo para os preparadores físicos, que têm mais tempo de intervenção. É óbvio que também há tempo de treino de ténis, de campo, mas há uma grande componente de trabalho físico. Por isso é que no ano passado o Carlos Alcaraz apareceu com um físico completamente diferente, porque trabalhou-o muito. É típico dessa preparação de início de ano trabalhar mais a componente física.

- Carlos Alcaraz vinha numa senda impressionante, que o levou a número um mundial, e há quem o aponte como a grande cara do ténis para a próxima década. Concorda?

- Neste momento, pelo que tem vindo a demonstrar, está num patamar superior em relação aos outros, o que não significa que não possa aparecer outro talento, porque vemos que há jovens que estão também a emergir. O Alcaraz lesionou-se e não vai participar no Open da Austrália, mas, se ele não tiver um azar com lesões, poderá ter um crescimento positivo. Essa ausência de lesões graves foi um dos segredos da longevidade do Roger Federer, para além da sua técnica quase perfeita, que era reconhecida por todos. O Alcaraz começa mal o ano, por causa de uma lesão, e isso pode ser um indicador que pode meter-se no meio daquilo que ele já foi capaz de fazer. Ele tem 19 anos, é muito novo, mas é fundamental que tenha um fisioterapeuta com ele, para que evite estas lesões que podem alterar-lhe o rumo da carreira, sobretudo se quiser manter-se no top-5. Ele já é número um mundial, algo raro para a sua idade, mas há outros talentos. O Casper Ruud tem 24 anos e o Holger Rune é número 10 com 19 anos. O Alcaraz é a sensação atual, mas começa mal. Vamos ver o que os próximos meses nos trazem.

O fisioterapeuta português lembra uma experiência muito boa no circuito
O fisioterapeuta português lembra uma experiência muito boa no circuitoArquivo Pessoal

- Nesta fase de transição, Federer retirou-se e sobram figuras históricas como Rafael Nadal ou Novak Djokovic. Concorda que Nadal parece fisicamente desgastado, algo que o difere de Djokovic, e que esta pode ser uma época dura?

- O Rafael Nadal já nos habituou a muitas surpresas. Em 2013 disseram que nunca mais jogava em pisos duros por causa dos joelhos e ele reapareceu... é claro que já se passaram 10 anos, ele agora tem 36 e é mais difícil debelar problemas físicos. Agora vamos ver o que vai acontecer. A lesão no pé que teve no ano passado, e que o obrigou a receber infiltrações, parece-me algo preocupante, mas ele continua como número dois, tem uma disponibilidade física bastante alta e vamos ver até onde consegue ir. O Novak Djokovic é um ano mais novo e creio que ainda tem muito a dizer, se não tiver problemas por causa das questões relacionadas com a COVID-19, como teve no ano passado. O Alcaraz é número um com todo o mérito, mas também beneficiou do facto do Djokovic não ter podido participar em alguns Grand Slams como o Open da Austrália ou o Open dos Estados Unidos.

- Veremos o que esta época nos traz...

- Há um jogador que eu acho que é capaz de subir, que é o Taylor Fritz. Acredito que este miúdo americano, que tem 25 anos, é capaz e pode ver a carreira explodir este ano. Estou confiante que pode ascender ao top-5.

- E na vertente feminina?

- É algo mais complexo, porque as jogadoras variam muito, são mais voláteis. A Emma Raducanu, por exemplo, teve uma ascensão grande e, entretanto, já caiu. Elas tanto estão no top-10 como, de repente, caem para o 80.º lugar. É verdade que as lesões influenciam, mas acho que é mais difícil dar uma previsão na vertente feminina. A Daria Kasatkina parece-me que tem subido de forma mais sustentada e há duas que estão um bocadinho acima: a Iga Swiatek, número um mundial, e a Ons Jabeur, número dois. A Aryna Sabalenka também começou muito bem este ano e a Coco Gauff, que só tem ainda 18 anos, é outro exemplo de atleta capaz de ir a uma final de um Grand Slam e, depois, desaparecer. As que conseguem manter-se de forma mais consistente no topo são as duas líderes do ranking. Veremos o que conseguirá fazer a Kasatkina.

A credencial de Nuno Lobo Ribeiro quando trabalhava diretamente com Dmitry Tursunov
A credencial de Nuno Lobo Ribeiro quando trabalhava diretamente com Dmitry TursunovArquivo Pessoal