Despromovido no final da temporada, depois de vários anos à deriva, o endividado Hertha enfrenta uma segunda divisão cada vez mais competitiva.
O clube negociou um prolongamento do empréstimo de 40 milhões de euros, que deveria ser pago em 2023, até 2025, abrindo caminho para que a DFB aprovasse a licença do clube na segunda-feira. A não obtenção da licença significaria a despromoção para a quarta divisão.
Para piorar a situação, o Union Berlin, rival do clube da cidade, classificou-se para a Liga dos Campeões com um orçamento relativamente baixo após apenas quatro temporadas na primeira divisão.
O facto de o Union Berlim estar prestes a enfrentar a elite europeia no Estádio Olímpico, com capacidade para 75 mil pessoas, mostra que o potencial não foi atingido.
Erros
Quando o milionário Lars Windhorst comprou uma participação de 37,5% em 2019, prometeu levar o Hertha ao topo do futebol alemão. Quatro anos depois, o Hertha foi despromovido, apesar de ter gasto cerca de 374 milhões de euros em jogadores.
Em maio, o antigo dirigente e ídolo do clube, Pal Dardai, criticou os membros da direção por estarem "satisfeitos com a vida, o carro e a aparência chique" e não com a situação do clube.
Em março, Windhorst vendeu a sua participação à 777 Partners, que também detém o Sevilha de Espanha, o Génova de Itália e o Standard de Liège da Bélgica. Embora a empresa americana de investimento privado tenha assumido o controlo do Hertha e das suas dívidas, o modelo de propriedade de vários clubes significa que o montante de capital disponível não é claro.
Daniel Trousil, da organização de adeptos Hertha Freunde Berlin Sud, disse à AFP que estava "composto e preparado" para a "dolorosa" despromoção do Hertha, que "tinha sido insinuada nos últimos quatro anos".
Desde a chegada de Windhorst e da riqueza inesperada, só se cometeram erros", afirmou o adepto de 45 anos, qualificando o reinado do milionário de "inquieto e perturbador".
Outro adepto, Sven Schloesinger, afirmou que: "O clube e a sua direção queimaram todo o capital dos investidores através de compras aleatórias de jogadores, construindo uma equipa que não estava preparada para a primeira divisão e que foi justamente despromovida".
Trousil partilha o mesmo sentimento, afirmando que "no final destas graves cadeias de erros, há a despromoção".
"Segundo Hamburgo"
A decisão de Dardai de continuar como treinador também é positiva. O treinador quer construir um futuro em torno dos talentosos juniores do Hertha. A médio prazo, as esperanças de estabilidade financeira do Hertha dependem muito de um retorno à primeira divisão.
Por duas vezes nos últimos 25 anos, o Hertha subiu imediatamente após a despromoção, mas o adepto Tim Haas teme que as coisas sejam diferentes desta vez. "Não é como das últimas vezes, em que fomos despromovidos e depois somos os favoritos à subida".
O homem de 33 anos diz que, desta vez, a Bundesliga apresenta "uma situação económica completamente diferente". Os pesos pesados Schalke e Hamburgo também tentam a promoção numa divisão que contém vários outros clubes tradicionais da primeira divisão, como Nurnberg, Hannover e Kaiserslautern.
O exemplo do Hamburgo é particularmente preocupante para os adeptos do Hertha. O estádio do antigo campeão da Liga dos Campeões tinha um relógio que registava todos os minutos em que o clube nunca despromovido tinha estado na primeira divisão.
Em 2018, o Hamburgo desceu de facto e, apesar de um orçamento superior ao de muitas equipas da primeira divisão, passou cinco épocas no segundo escalão, perdendo por duas vezes no play-off de promoção contra uma equipa da primeira divisão - uma delas o Hertha.
Trousil disse que "não espera uma promoção direta" esta época e "espera que não nos tornemos um segundo Hamburgo".
O outro clube na mente dos adeptos do Hertha é o Union Berlin. Schloesinger disse que tem "um enorme respeito e reconhecimento" pelo que o Union conseguiu, dizendo que "como berlinense, acho bom que Berlim tenha uma equipa na Liga dos Campeões". Haas discorda. "Pessoalmente, acho que é horrível. É nojento!".