De amador a profissional
Na altura, o jornal alemão Berliner Zeitung fez comparações com Neymar, que viajou para a Arábia Saudita num jato privado e recebeu condições fabulosas do Al-Hilal. Behrens, no entanto, diz que a viagem de bicicleta é bastante normal para ele. Começou a jogar futebol sénior na época de 2010/11, na quinta divisão. Durante a maior parte da sua carreira, nem sequer foi profissional e nunca teve potencial para atingir o nível mais alto.
Jogou sete anos na quarta divisão. Só em 2018 é que foi promovido à terceira divisão e, no início da época 2018/19, foi adquirido pelo Sandhausen, da segunda divisão, onde se tornou o jogador ideal para a competição. Foi notado pelo Union Berlin, com quem está a escrever uma história notável. O percurso do próprio clube desde a posição de recém-chegado à Liga dos Campeões é bem conhecido, sendo que uma das principais figuras foi justamente Behrens.
Não é preciso ter sempre a bola, é preciso saber utilizá-la
Jacob Sweetman, natural de Inglaterra, mas membro da equipa de comunicação do Union, que gere as publicações em língua inglesa, deu a conhecer o seu percurso à Sky Sports. "Ele encarna a identidade do atual Union. Não precisa de ter a bola nos pés a toda a hora, mas é um grande avançado que joga com força. Sabe finalizar com os pés e com a cabeça. Não é um génio, mas é um jogador de que a equipa precisa e que toda a gente adora", afirmou.
Robert Roelofsen era assistente técnico do Saarbrücken, da terceira divisão, e foi um dos primeiros a perceber que Behrens podia ser forte. "É preciso saber como utilizá-lo em campo. Ele é muito bom quando tem espaço e a oportunidade de avançar rapidamente. Já tive jogadores que pensei que chegariam ao topo, mas nunca chegaram. E depois há aqueles que nos surpreendem. Nunca treinei um jogador com uma carreira tão especial" , conta.
"Liga dos Campeões? Nunca pensei nisso"
"Os jogadores pensam que têm de alcançar o sucesso quando são jovens e ganham muito dinheiro. Depois, é difícil ter fome suficiente para dar o próximo passo. Com o Kevin, a mentalidade sempre foi diferente. Ele queria subir porque nunca estava satisfeito com o lugar onde estava", afirma Roelofsen. O Union comprou Behrens quando ele fez 30 anos.
No entanto, não apenas se estabeleceu na Bundesliga, como também se tornou uma das suas estrelas. "A quarta Liga era muito pequena para ele. Vi nele potencial para chegar à segunda liga mais alta. Mas que iria jogar na Liga dos Campeões? Nunca pensei nisso", acrescentou Roelofsen. No entanto, os berlinenses apuraram-se para a "competição milionária" e até jogaram no relvado do Real Madrid.
Estreia na seleção
Agora, o jogador nascido em Bremen recebeu a primeira convocatória para a seleção alemã. O treinador Julian Nagelsmann convocou-o para os jogos amigáveis contra os EUA e o México. Se for titular, poderá tornar-se o nono estreante mais velho da história da seleção do seu país e o mais velho desde o guarda-redes Roman Weidenfeller (33 anos e 105 dias) em 2013.
"Se ele jogasse no Manchester City na ponta da linha ofensiva e tivesse pouco espaço, não se afirmaria. No Union, jogam-lhe bolas longas e utilizam uma boa forma física. É a utilização óptima das suas qualidades. O treinador sabe muito bem onde é que o Kevin pode ser perigoso. Não o incomoda com grandes instruções tácticas", considera Roelofsen.
"Ele é uma máquina. Mas é preciso um treinador que conheça as suas qualidades. Eles encontraram um jogador que se adapta ao seu sistema e ao que os adeptos querem", acrescentou.
Behrens é um exemplo de que o trabalho árduo pode vencer o talento e que nunca é tarde demais para fazer sucesso no futebol e na vida. O seu percurso desde as competições amadoras até ao mais alto nível é absolutamente incrível.
E, a par de tudo isso, ele continua a ser exatamente o mesmo Kevin que as pessoas conheciam desde o início. O humilde que não precisa de exibir o seu dinheiro ou a sua fama. Volta a montar na sua bicicleta e vem a um jogo da Liga dos Campeões.