Alexandre Penetra: "Não ponho esta Liga abaixo da Liga portuguesa"

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Alexandre Penetra: "Não ponho esta Liga abaixo da Liga portuguesa"
Alexandre Penetra na época de estreia no AZ Alkmaar
Alexandre Penetra na época de estreia no AZ AlkmaarDPPI via AFP
Dos Pestinhas aos Países Baixos, o percurso de Alexandre Penetra tem sido feito com passos sustentados, depois de grande parte da formação ter sido realizada no Benfica. Atualmente no AZ Alkmaar, o internacional sub-21 português deu uma entrevista ao Flashscore onde revisitou a sua carreira e analisou a época de estreia na Eredivisie.

"Foi graças ao pai do João Félix que surgiu o convite para ir para os Pestinhas"

Natural de Sátão, no distrito de Viseu, foi lá que deu os primeiros passos no futebol. Começou nos Pestinhas, numa equipa treinada pelo pai de João Félix que o ajudou a começar a viver uma paixão que tinha desde bem cedo.

Ainda sem idade para dar os primeiros toques, ultrapassou essa barreira e afirmou-se de tal forma que rumou ao Seixal com apenas 12 anos para jogar no Benfica. 

Alexandre Penetra não ficou refém do estatuto de jogador benfiquista, apesar de ser dos mais utilizados, aceitou o convite do Famalicão e foi lá que saltou para a ribalta da Liga Portugal, num caminho que o levou, mais tarde, aos Países Baixos.

Com 31 jogos pelo AZ Alkmaar, atual 4.º classificado da Eredivisie, Alexandre Penetra conta ao Flashscore como foi o seu percurso no futebol e quais os sonhos num campeonato que considera melhor do que o português.

- 22 anos, nascido em Sátão, início de carreira nos Pestinhas, tal como o João Félix. É uma instituição de referência em Viseu?

- Sim, acabei por não me cruzar diretamente em campo com o João (Félix), mas foi graças ao pai dele, que conhecia o meu pai, que surgiu o convite para ir para os Pestinhas. Eu jogava muito à bola com o meu pai em casa, chateava-o para me deixar ir para o futebol, só que na altura tinha cinco anos e não havia nenhuma equipa que aceitasse um jogador tão novo, só a partir dos seis anos. O meu pai, como conhecia o pai do João, que era treinador nos Pestinhas, conseguiu que eu fosse mais novo para lá.

- Uma instituição amplamente conhecida, não só na zona centro como em Portugal, não é?

- É Pestinhas, mas é como se fosse o Tondela. Eles metem o nome Pestinhas em sub-12, mas o clube em si é o Tondela.

- No fundo, naquela idade, somos todos uns pestinhas, não é?

- Exatamente (risos).

A influência do pai de João Félix nos primeiros passos de Alexandre Penetra
Flashscore

- A partir daí, Casa do Benfica de Viseu, Benfica e Famalicão. Fale-nos um pouco de todo esse processo, passo a passo, para chegar onde está hoje.

- Comecei nos Pestinhas, fiz lá duas épocas, tive oportunidade de me juntar ao Centro de Formação e Treino do Benfica, usa-se o nome Casa do Benfica, mas é muito mais do que isso. O Benfica tem vários centros de formação pelo país e Viseu é um dos sítios. Na altura, aceitei o desafio, estive lá três anos, foram muito bons, éramos uma equipa mais jovem que competia em escalões acima, contra mais velhos, o que era muito importante para o nosso desenvolvimento individual. Depois desses três anos, recebi o convite do Benfica para me juntar à equipa no Seixal. Não hesitei, apesar de ter 12 anos e saber que tinha de deixar a família para trás e agarrar-me ao meu sonho. Os meus pais sempre me apoiaram e não hesitei quando recebi o convite. Tive seis anos muito bons na formação do Benfica, muito importantes, ganhei muita coisa, títulos nacionais e troféus internacionais, fui à seleção nacional e foi muito bom para o meu percurso. Cresci muito, não só como jogador mas também como homem. Desde os 12 anos que estive longe dos meus pais, apesar de ter muitas pessoas ao meu redor, que me ajudavam em tudo o que precisava. Sempre fui responsável e tive os pés assentes na terra. Era fácil perder-me a partir do momento em que estou longe dos pais.

- De qualquer forma, os clubes cada vez olham mais para esse aspeto, não é? Tentar formar o homem. Vocês sabem que nem todos conseguirão chegar ao patamar que desejam.

- Tive a sorte de estar, desde o início até ao fim, na formação, de iniciados a juniores. Vi muitas pessoas entrar e sair e nem sempre é fácil. Todos temos o mesmo sonho, mas é difícil para todos. Cada um vai fazendo o seu caminho. Aos 18 anos, tive o Famalicão, que me apresentou um projeto muito interessante, tinha acabado de ficar em 6.º lugar na Liga Portugal, e assinei. Ainda bem que o fiz, foi um passo muito assertivo na minha carreira e acho que tem sido um trajeto muito interessante da minha parte. Fiz o primeiro ano a jogar na Liga Revelação, que também foi importante para mim porque tinha vindo de uma lesão complicada no último ano de Benfica. É uma liga superior à liga de juniores. Não chega a uma liga profissional, obviamente, mas é uma competição interessante para quem está a fazer essa passagem de juniores para seniores.

Defesa destacou-se no Famalicão antes de rumar a Alkmaar
Defesa destacou-se no Famalicão antes de rumar a AlkmaarAFP

- As pessoas têm noção que o Famalicão é um clube organizado, que está a fazer a sua evolução de ano para ano e que tem formado muitos e bons jogadores. Basta perceber que os grandes de Portugal estão sempre muito atentos ao Famalicão. É uma casa que lhe deixa saudades?

- Sim, obviamente. Foram três anos lá, fiz muitos amigos, é um clube muito especial para mim, tenho uma grande relação com todas as pessoas do Famalicão e só tenho coisas boas a dizer. Deu-me tudo e jogar lá é especial, os adeptos, a cidade, sente-se um calor humano diferente. Quando nos veem na rua, mesmo quando o clube não está bem, vêm sempre dar a sua palavra de apoio. Sempre fui muito bem tratado pelas pessoas do clube e por todos os adeptos. Quem joga lá sabe que está sempre a ser observado e isso dá sempre alento aos jogadores e à equipa, por isso é que, ano após ano, têm feito boas prestações e espero que continuem a melhorar.

- Falta o clique do acesso às competições europeias, não é?

- Sim, é mesmo isso. Em certos momentos da época, falta consistência. No ano passado, faltou consistência no início da época, este ano foi a meio da época e acho que são esses detalhes. Mais ano, menos ano, acho que o Famalicão vai conseguir e acredito que, quando chegar a essa posição, vai ficar lá muito tempo.

Alexandre Penetra elogia Famalicão
Flashscore

- Depois o salto para os Países Baixos. O que encontrou num campeonato que é visto em Portugal, mas que não suscita muito interesse, à exceção dos dérbis. O que pode dizer sobre o campeonato.

- É diferente do português, tem características muito diferentes. Tem o mesmo número de equipas e a classificação divide-se de forma mais ou menos igual - tem cinco equipas normalmente a lutar pelas competições europeias, três delas lutam pelos títulos historicamente, e depois há equilíbrio de pontos do meio da tabela para baixo. Em termos de futebol jogado, é um futebol diferente, muito mais ofensivo, menos tático, mas onde se destacam mais as individualidades dos jogadores. Há muitos golos, nas últimas duas jornadas houve muitos golos. Em Portugal passam mais os Clássicos ou os jogos do Ajax, mas é um campeonato que está em evolução e é muito interessante para os jovens, as equipas são todas muito jovens.

- O futebol neerlandês também é conhecido por isso, pela qualidade da sua formação e pelos talentos que emergem aí.

- Sim, sem dúvida. A formação foi um dos aspetos que me surpreendeu. A minha equipa tem muitos jogadores que vieram da formação, transitaram muitos jogadores da equipa que ganhou a Youth League no ano passado e o jogador que se produz aqui surpreendeu-me muito. Sinto que está mais preparado do que o jogador português, ou seja, a formação aqui já vejo num nível superior à portuguesa, no que diz respeito ao último passo, nos sub-19. Vejo muita qualidade, muitos integram o plantel ou treinam connosco.

Alexandre Penetra destaca qualidade da formação nos Países Baixos
Flashscore

- A adaptação não terá sido complicada, todos falam inglês e tem no AZ também dois apoios importantes, como o Gonçalo Esteves e o Tiago Dantas, não é? 

- São três. O nosso capitão é o Bruno Martins Indi e ele também domina o português. Sendo um dos capitães, ajudou-nos muito desde o início. Aqui toda a gente fala inglês e isso também facilitou muito a nossa adaptação.

- O AZ ocupa o 4.º lugar, à frente do histórico Ajax. Já não é como era antes, não é? Há muito mais equilíbrio.

- Sim, acho que há muito mais equilíbrio entre as equipas e a prova disso é que qualquer equipa aqui pode bater uma das grandes. Em relação ao Ajax e a nós, sim, estamos na frente, faltam disputar 15 pontos, temos sete de vantagem. O Ajax, este ano, não é desiludir, mas não obteve os resultados que esperava. Ainda está a tempo de chegar até nós e não podemos adormecer. Temos um lugar para defender e tentar conquistar o 3.º, que será difícil, mas vamos ver jogo a jogo e pensar no que podemos fazer.

AZ é 4.º classificado na Eredivisie
AZ é 4.º classificado na EredivisieFlashscore

- O objetivo é o apuramento para as competições europeias.

- Sim, claro. Vai acontecer agora a final da Taça, que vai ser importante para nós, para saber se ganha o Feyenoord ou o NEC porque se o Feyenoord ganhar o 4.º classificado entra direto na Liga Europa, o que seria já um bom prémio para nós. O terceiro lugar ainda é possível, vamos jogar com o Twente e, sabendo que o terceiro lugar dá a eliminatória da Champions, vamos tentar. Sabemos que não é fácil, mas como ainda vamos jogar contra eles ainda podemos reduzir essa diferença. Neste momento, mais importante do que olhar para outros clubes é olhar para nós, acabar da melhor forma a nossa época e fazer cinco vitórias nestes cinco jogos, somar os pontos e no fim logo vemos se ficamos em 3.º e 4.º.

AZ procura assegura presença na Liga Europa da próxima época
Flashscore

 - Enquanto matematicamente for possível, é tentar tudo, não é?

- Exatamente. Tentar somar o máximo de pontos possível e ver o que é que as outras equipas podem fazer, mas o mais importante é focarmo-nos nos nossos jogos.

- É internacional sub-21, tem alguma carreira nas seleções jovens. Olhando para o futuro, sente-se acompanhado e que um dia será possível integrar a seleção principal. É outro sonho que se seguiu ao de chegar ao futebol profissional?

- Sim, é o sonho de qualquer jogador representar a seleção nacional. Agora, sei que ainda tenho de trabalhar muito para conseguir atingir esse objetivo. Sinceramente, neste momento, o mais importante é continuar a evoluir como jogador. Não é fácil entrar na seleção nacional, devido à qualidade que existe. Agora na minha posição existe muita qualidade, mas vou trabalhar dia-a-dia e vamos ver o que pode vir a acontecer.

- Chamadas recentes mostram uma expectativa de renovação, como Francisco Conceição e Jota Silva, que prova que o selecionador está atento. De alguma forma sente que aí está a ser acompanhado?

- Hoje em dia, é possível assistir a jogos de todo o lado do mundo. Obviamente que, sabendo que estou a fazer bem o meu trabalho, sei que estou mais perto desse objetivo, mas mais importante do que isso é focar no meu trabalho e ajudar a equipa. Depois essas coisas aparecem naturalmente. Se estivermos obcecados a pensar nisso acho que não é bom. Bom é trabalhar e saber o que tenho de melhorar e aperfeiçoar todos os dias. O mais importante é representar a equipa onde estamos.

Alexandre Penetra sobre o sonho da seleção nacional
Flashscore

- Já percebi que não vive obcecado por isso, mas obcecado pelo seu trabalho e num crescimento contínuo como profissional de futebol. Nesse sentido, sente que, mais tarde ou mais cedo, a liga dos Países Baixos possa ser demasiado pequena para o seu talento?

- Não considero que seja uma liga pequena. Quando cheguei, ganharam uma vaga a Portugal no que diz respeito às competições europeias. Nunca experienciei uma Big 5, mas não ponho esta Liga abaixo da Liga portuguesa. Nas competições europeias, têm estado muito bem e conseguem ter seis vagas para a Europa. Não sei se não vai estar à altura, mas estou aqui e tenho de trabalhar para ajudar o meu clube e o que virá a seguir vai depender de mim, do meu trabalho, da classificação da equipa. Depende de tudo isso.

- Quem espera sempre alcança e a sorte dá muito trabalho, não é?

- É verdade. É o trabalho e esperar como as coisas se desenvolvem no futebol, que é muito complexo. Pode existir uma lesão ou qualquer coisa que pode deitar o sonho por água abaixo, por isso é aproveitar o dia-a-dia e evoluir enquanto é possível.

Alexandre Penetra destaca qualidade do futebol nos Países Baixos
Flashscore

- Nos Países Baixos, segue o futebol português. O que lhe parece o campeonato? Está fechado ou nem por isso? Sendo que o líder vai jogar em Famalicão, o que pode complicar aqui um bocado as coisas, não é?

- Não sinto que esteja fechado. Sinto que está a ser um campeonato parecido com o nosso. O PSV teve uma vantagem grande, mas ainda não está fechado. Se adormecerem, o Feyenoord vai estar à espreita e pode vencer. Em relação ao campeonato português, não sinto que esteja fechado. Está bem encaminhado para o Sporting, isso é lógico, e se o Sporting fizer o seu trabalho será campeão, mas não sinto que esteja fechado. O Sporting terá de continuar a provar em campo que é a melhor equipa. O Benfica tem um calendário difícil, tal como o Sporting, e acho que, se o Sporting mantiver a regularidade e qualidade que tem apresentado, estará mais próximo de ser campeão.

Defesa acredita que Liga Portugal ainda não está decidida
Flashscore

- Sendo o Tiago Dantas, emprestado pelo Benfica, e o Gonçalo Esteves, emprestado pelo Sporting, eles picam-se dentro do balneário ou estão a leste de tudo isso?

- Comentamos, falamos sobre os jogos e há essa picardia, mas é uma picardia saudável. Assistimos ao dérbi no autocarro, depois do nosso último jogo. Muitas vezes, juntamo-nos todos e assistimos aos jogos juntos. É sempre um jogo especial e bonito de se ver, ainda para mais o dérbi da última jornada, em que o Benfica, se tivesse ganho, aproximava-se do Sporting. É só picardia saudável e bom ambiente.

Além de Alexandre Penetra, Gonçalo Esteves e Tiago Dantas jogam no AZ Alkmaar
Além de Alexandre Penetra, Gonçalo Esteves e Tiago Dantas jogam no AZ AlkmaarAFP, Opta by Stats Perform

- Há que desmistificar esse tipo de situações. Há vários exemplos de fair play, na meia-final da Taça houve o abraço do Coates ao João Neves, que tinha perdido a mãe há pouco tempo. 

- É mesmo isso. Viu-se também na meia-final, o Eduardo Quaresma com os jogadores do Benfica. Todos temos uma boa relação. As pessoas metem essa rivalidade. Obviamente que em campo cada um defende as suas cores e isso faz parte do jogo, mas fora do campo somos amigos. Muitos de nós partilharam balneário junto na seleção. Eu estive com o Tiago Gouveia, com o Quaresma, Tomás Araújo, João Neves... Temos todos boa relação e não é por aí. As pessoas devem pegar pelos bons exemplos. Nós queremos que o futebol seja vivido de uma forma saudável. É um jogo, é uma competição. A rivalidade é boa, mas há que saber distinguir as coisas.

- O que se passa no campo, fica no campo.

- É a mensagem correta, é mesmo isso. Fora dele, cada um tem a sua carreira e tenta fazer o melhor pelo clube. Todos os jogadores que entram em campo tentam dar o máximo e vencer.

- Temos vindo a assistir a uma grande concentração competitiva, os calendários estão cada vez mais preenchidos. Isso pode originar uma série de lesões. Enquanto profissionais, como sentem a relação do futebol negócio com a preservação do vosso corpo?

- Sim, é verdade, principalmente os jogadores que representam as seleções. Têm um calendário muito complicado e o tempo de descanso não é o recomendado. Muitas das vezes é isso que acontece, as lesões. Existem jogos que não são muito bem jogados porque não há essa frescura física e mental. O futebol é um negócio e a tendência é que haja cada vez mais jogos, mas acho que o calendário, principalmente para quem representa as seleções, é de muita carga, e para quem joga competições europeias, seleções, campeonato, está em todas as frentes, acredito que seja muito puxado. Fisicamente, acho que estamos preparados para isso, mas mentalmente acredito que seja um grande esforço de todos.