Opinião: Ida de Pochettino para o Chelsea faz sentido para ambas as partes

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Opinião: Ida de Pochettino para o Chelsea faz sentido para ambas as partes
O Chelsea anunciou a contratação de Mauricio Pochettino
O Chelsea anunciou a contratação de Mauricio PochettinoProfimedia
Mauricio Pochettino é o novo treinador do Chelsea. Depois de ter passado quase um ano à espera que surgisse a oportunidade certa, o conceituado argentino está agora à frente de um dos maiores - e mais exigentes - clubes de Inglaterra. Os Blues tiveram a pior temporada da história da Premier League, sofreram com um plantel sobrecarregado e um dono que ainda não sabe como administrar um clube de futebol. Mas, ao contrário do que se pensa, o Chelsea não está tão longe como muitos acreditam e Pochettino pode ser exatamente o que eles precisam.

O Chelsea terminou em 12.º lugar no campeonato - muito mais perto da zona de descida do que dos lugares da Liga dos Campeões. É a pontuação mais baixa do clube (44 pontos) desde 1988 e o pior resultado desde 1994. A primeira época de Todd Boehly como proprietário foi um desastre total.

Classificação final da Premier League
Classificação final da Premier LeagueFlashscore

Desde que substituiu Roman Abramovich, o norte-americano tem sido alvo de duras críticas por parte dos meios de comunicação social e dos adeptos pelas decisões que tomou. Desde contratar jogadores para Thomas Tuchel apenas para o despedir dias depois, até gastar 600 milhões de libras em duas janelas de transferências e tornar o plantel demasiado grande, é justo dizer que não acertou em muita coisa até agora.

Nomeou Graham Potter, o que se revelou uma aposta falhada, enquanto a passagem de Frank Lampard como treinador interino pouco contribuiu para criar uma dinâmica ou aumentar os níveis de confiança para a época seguinte. Não há dúvidas de que Lampard era um bom treinador, mas ele não tinha a experiência e a autoridade necessárias para orientar um clube do tamanho do Chelsea. Na verdade, era a antítese do que se espera de um técnico do Chelsea.

Mas também não teve a melhor das mãos para dar cartas. Poucos treinadores teriam prosperado naquele ambiente.

E assim chegamos aos dias de hoje. Pochettino foi escolhido para assumir o cargo e, se pararmos para pensar, faz todo o sentido para ambas as partes.

Há dúvidas sobre se o ex-treinador do Tottenham e do Paris Saint-Germain é ou não um "vencedor", capaz de corresponder às aspirações do Chelsea e de o levar às grandes alturas a que querem aspirar. As dúvidas são válidas, mas por vezes aborrecidas e insípidas, com o tribalismo e os estereótipos das redes sociais a ocuparem o centro das atenções.

Utilizar o seu tempo no norte de Londres e em Paris como um pau para o bater é totalmente injusto. Pode não ter ganho nenhum troféu nos Spurs, mas há mais do que uma forma de medir o sucesso.

José Mourinho e Antonio Conte - dois "vencedores" comprovados - não conseguiram ganhar um troféu ou alcançar algo próximo do que Pochettino fez nos Spurs. Ajudou o Tottenham a terminar entre os quatro primeiros de forma consistente, incluindo um segundo lugar com 86 pontos em 2017, logo atrás de um implacável Chelsea.

Na época de 2015/16, apenas o Manchester City (71) marcou mais golos do que os Spurs (69), e ninguém sofreu menos golos (35). Na época seguinte, os homens de Poch lideraram de forma notável em ambos os departamentos, marcando 86 golos e sofrendo 26.

As pessoas dirão que Pochettino tinha uma equipa melhor do que Mourinho e Conte. Claro que isso pode ser verdade, mas foi ele quem melhorou os jogadores que tinha e os fez atingir um nível que não refletia a sua qualidade.

Eric Dier floresceu como médio defensivo e depois como defesa central sob o comando de Pochettino. Mas se perguntar a qualquer pessoa agora, no final da época, não terão muitas coisas positivas a dizer sobre o jogador da seleção inglesa.

A carreira de Dele Alli desmoronou desde a saída do treinador, enquanto Christian Eriksen tornou-se numa sombra do jogador que era quando se saiu para o Inter de Milão.

Pochettino desenvolveu e tirou o melhor proveito de jogadores que não eram tão bons quanto se pensava e, quando não conseguiu levá-los à vitória na corrida pelo título da Premier League, foi criticado. Chegar à final da Liga dos Campeões com um meio-campo composto por Moussa Sissoko e Harry Winks foi indescritivelmente maravilhoso, especialmente tendo em conta as prestações no campeonato essa época.

A equipa dos Spurs que chegou à final da Liga dos Campeões
A equipa dos Spurs que chegou à final da Liga dos CampeõesProfimedia

E convém não esquecer como era a equipa que assumiu:

O seu primeiro onze no Tottenham foi: Friedel; Naughton, Dawson, Fryers, Rose; Capoue, Holtby; Lennon, Carroll, Townsend; Kane.

Não há dúvida de que se trata de uma equipa de meio da tabela. Assim, anos mais tarde, o facto de os Spurs competirem na Premier League e na Liga dos Campeões deve ser encarado como um feito extraordinário e Kane merece muitos elogios por causa disso.

Mas como é que uma equipa que liderou os departamentos ofensivos e defensivos em 2017 não conseguiu ganhar o título?

Momentos. Jogos pontuais. Ser capaz de encontrar um caminho através de equipas que se contentavam em estacionar o autocarro em frente à própria baliza durante 90 minutos.

Pochettino sabia disso. Queria contratar Jack Grealish e Sadio Mane enquanto estava no Tottenham. O que os separava da equipa do Chelsea em 2017 era um jogador criativo de referência - como Eden Hazard.

Ele tinha o desejo de levar a equipa para o próximo nível e ajudá-los a conquistar o primeiro troféu desde 2008. Mas Daniel Levy não o quis apoiar financeiramente. No verão de 2018, o clube tornou-se o primeiro em 15 anos a não contratar um único jogador.

Em 2019, afirmou que o Tottenham precisava de uma "reconstrução dolorosa", dando a entender que eram necessárias algumas grandes contratações para manter o clube no nível competitivo em que se encontrava. Sabia que tinha de ser franco publicamente para forçar o clube a agir... Mas isso nunca aconteceu.

E, inevitavelmente, os Spurs foram-se abaixo e os resultados caíram a pique, com Pochettino a ficar desiludido e a dirigir-se para a porta de saída. O clube estava talvez a uma ou duas aquisições importantes de ultrapassar o último obstáculo, mas as compras nunca se concretizaram.

Pochettino era muito popular no Spurs
Pochettino era muito popular no SpursProfimedia

Seis anos depois, o clube nem conseguiu qualificar-se para a qualquer competição europeia.

O seu mandato no PSG não foi um sucesso nem fracasso. Ganhou a Ligue 1 e a Taça de França, o que é um dado adquirido. Mas não conseguiu atingir o principal objectivo: ganhar a Liga dos Campeões. No entanto, ninguém foi capaz de o fazer no PSG, pelas mais variadas razões, o que faz com que todos os treinadores sejam testemunhas de uma espécie de implosão na cena europeia. A sua passagem por Paris não deveria mudar a opinião de ninguém.

Por isso, embora exista a possibilidade da contratação ser boa, mas não excelente, as proezas anteriores não devem ser motivo para acreditar nisso, mas sim o facto de ainda não ter orientado uma verdadeira equipa de "elite" em Inglaterra. Não tem a experiência de ganhar um troféu que não fosse um dado adquirido.

Mas Pochettino tem experiência na Premier League. Sabe o que é competir pelo topo da tabela. Joga um futebol atrativo, o que fará com que os adeptos do Chelsea voltem a desfrutar de uma viagem agradável a Stamford Bridge.

Fez dos Spurs uma das equipas mais emocionantes do campeonato, e as passagens pelas equipas do Espanhol e do Southampton eram conhecidas pelo futebol de ataque.

É também implacável no que exige aos jogadores. Se não correrem, não jogam. Se não se adaptarem às suas exigências, não farão parte dos planos. Pode parecer suave por fora, com brilho nos olhos, mas não deixa ninguém escapar às obrigações. É preciso aceitar as ideias que vai incutir.

E os jogadores têm tendência para o fazer. É uma personagem simpática e emotiva, que tem o coração nas mãos e na ponta da língua. Lida com a comunicação social nos momentos difíceis com grande equidade e sensatez. Há muito para admirar em Pochettino a nível humano.

Mas é também um treinador brilhante, capaz de tirar o melhor partido de todos os que tem à disposição, especialmente dos jovens jogadores. E, atualmente, o Chelsea tem muitas jóias por lapidar, cheias de talento, que precisam de ser refinadas.

Pochettino vai gostar de trabalhar com jogadores como Mykhailo Mudryk e Noni Madueke, que ainda estão muito verdinhos. Segundo relatos, quer também ficar com Mason Mount, já que o seu contrato termina este verão.

Mason Mount tem lutado por tempo de jogo regular
Mason Mount tem lutado por tempo de jogo regularReuters

O médio, outrora muito bem cotado, tem tido dificuldades em encontrar a sua melhor forma esta época e muitos adeptos dos Blues perderam a paciência. Mas Pochettino será, sem dúvida, o homem perfeito para dar mais vida a Mount.

A decisão de Boehly de contratar Pochettino faz todo o sentido. E faz muito sentido para Pochettino também.

A época chocante do Chelsea deixou os adeptos com expetativas extremamente baixas. O ambiente em Stamford Bridge está longe de ser positivo. Não haverá muita pressão imediata para tornar o clube competitivo de repente e, por isso, terá um pouco mais de tempo. Além de alguma liberdade para moldar a equipa do Chelsea como entender.

Isso pode funcionar a seu favor, porque, na realidade, o Chelsea não está muito longe de voltar a ser uma boa equipa. Os problemas residem em fazer golos, mas, no papel, o meio campo e defesa têm muita qualidade.

Thiago Silva, Wesley Fofana, Benoit Badiashile, Enzo Fernandez e N'Golo Kante são um núcleo forte, e com João Félix (se o Chelsea decidir mantê-lo) e Raheem Sterling, tal como Christopher Nkunku quando chegar no verão, têm alguma qualidade no apoio ao ponta de lança.

Defensivamente, durante a maior parte da época, não tiveram grandes problemas. Até há uma ou duas semanas, apenas o Newcastle e o Manchester City tinham sofrido menos golos. É certo que a defesa tem estado extremamente instável nos últimos jogos, mas isso é provavelmente mais um problema de confiança.

A falta de velocidade e de capacidade para colocar a bola no fundo das redes tem sido um tema recorrente. Se o Chelsea conseguir encontrar um n.º 9 matador este verão, uma parte dos problemas estará resolvida.

Além disso, se conseguirem contratar um guarda-redes de topo e, potencialmente, outro médio para substituir Mateo Kovacic - que parece estar de saída - então devem ser capazes de subir rapidamente na Liga e competir pelos lugares europeus na próxima época.

A equipa é muito melhor do que parece atualmente. Precisa de uma direção clara e de um aumento de confiança, bem como de um treinador que consiga maximizar o potencial de todos.

O plantel sobrecarregado precisa de ser reduzido e, assim que Pochettino o fizer, poderá concentrar-se em treinar a equipa e começar a instilar alguma coesão num grupo que parece totalmente perdido em campo. E é por isso que esta é uma oportunidade apelativa para Pochettino. A situação não pode piorar e tem a oportunidade de causar um impacto imediato.

Pochettino pode ser o homem certo para assumir o comando
Pochettino pode ser o homem certo para assumir o comandoProfimedia

Pode não ser a opção "sexy" como Luis Enrique, mas Pochettino é uma boa e lógica contratação para o Chelsea. Pode ser capaz de levar o clube de volta ao topo. Pode ser que só consiga levá-los ao precipício do sucesso. Só o tempo dirá.

Mas, neste momento, é uma ligação que faz sentido tanto para o Chelsea como para Mauricio Pochettino.