Antes do regresso aos relvados após lesão, Victor Osimhen deu uma entrevista à publicação mensal francesa France Football. O avançado do Nápoles refez os passos da carreira, começando pelo Mundial de sub-17 disputado ao serviço da Nigéria, onde "no primeiro dia fizeram-nos correr muito e eu estava sempre entre os últimos, mas levaram-me na mesma e depois as coisas mudaram".
O jogador africano, que ficou órfão da mãe aos três anos, cresceu na pobreza do bairro de Olusosun em Lagos: "Mas estou feliz por ter ultrapassado fases tão difíceis, senão não teria desistido da escola para perseguir o meu sonho".
O sonho desenvolveu-se então na Europa, na Alemanha, em Wolfsburg, onde as coisas não correram bem: "Era traumatizante viver sozinho, depois as lesões e o facto de eu já não estar nos planos do clube". Na Bélgica, a situação não melhorou devido à malária, que fez cair por terra o acordo com o Zulte-Waregem e Bruges, mas não com o Charleroi: "Mas só acreditei quando publicaram a minha fotografia nas redes sociais".
"Graças ao treinador Felice Mazzu, que acreditou em mim, e com ele aprendi a jogar sem bola, a pressionar, a posicionar-me bem na área. Marquei 20 golos e a meio da época já havia uma equipa italiana que me queria, não vou dizer qual, mas era um clube de topo. Mas eu preferi ficar", revelou.
E em 2019 chegou ao Lille: "Galtier perguntou-me logo quantos golos eu queria marcar na estreia...eu disse-lhe dois. Havia uma boa atmosfera com Maignan e Ikoné. E contra o Nantes, na minha estreia, fiz um bis".
"Depois de Charleroi e Lille, chegar a Nápoles é como mudar de mundo", continuou Osimhen: "Nunca vi adeptos assim que vivem para o clube. A chegada ao aeroporto foi impressionante. Não pude acreditar. Hoje posso dizer que se damos a impressão de que estamos a voar (em campo), devemos isso a quem nos dá energia. Sentimos bem o legado de Maradona... Eles dão-nos amor, fazem-nos compreender que contamos muito para eles. Não é coisa pouca num mundo frio como o nosso".
Porém, mesmo em Nápoles - onde chegou em 2020/21 -, Osimhen teve de convener alguns céticos: "Houve quem dissesse que eu não marcaria mais de cinco golos na Serie A ou que acabaria por ser emprestado à Serie B. Mas as críticas não me incomodam. Agradeço ao presidente De Laurentiis, ao diretor desportivo Giuntoli e ao treinador Gattuso que foram pacientes e acreditaram em mim: eles disseram-me para continuar a trabalhar e que a minha hora chegaria".
Neste momento Osimhen é considerado um dos melhores avançados do mundo: "Eu sabia que me tornaria um, mas é preciso ter um contexto favorável e permanecer positivo. Drogba e Lewandowski fizeram-me sonhar, portanto tornar-se no melhor não deve ser um objetivo, mas deve continuar a ser um sonho a perseguir de forma natural. E em Nápoles é apenas o começo".
Muito crédito vai para Luciano Spalletti: "Para mim a equipa vem primeiro, gosto do jogo coletivo, gosto de defender, e com Spalletti não há escolha: os atacantes são os primeiros defesas. A nossa força é o colectivo, e não temos um verdadeiro ponto fraco. Na Serie A, tudo é tático. O trabalho de Spalletti é incomparável: ele é um génio. Quando conseguimos aplicar 99% das suas ideias, destruímos o adversário. Com Kvaratskhelia funciona automaticamente: ele tem imenso talento e é um bom rapaz. Todos o adoram".
Sobre a cirurgia ao rosto após a lesão com o Inter: "Durante dois meses não consegui sentir o meu rosto, mas agradeço ao cirurgião e à sua equipa que também criou a máscara, que é muito dura: já não tenho medo de me magoar".
O avançado está a desfrutar do momento: "O que estou a experienciar é incrível. Também regressarei a Lagos para mostrar às crianças que tudo é possível e para lhes dar a oportunidade de acreditarem em sonhos".