Entrevista Flashscore a Ricardinho: "Provavelmente posso jogar mais um ano"

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Entrevista Flashscore a Ricardinho: "Provavelmente posso jogar mais um ano"
Ricardinho antes de um jogo com o Pendekar United
Ricardinho antes de um jogo com o Pendekar UnitedPendekar United
Aos 37 anos, Ricardinho está a passar os seus últimos dias como jogador profissional de futsal na Indonésia. Do país asiático, onde joga no Pendekar United, aceitou responder às perguntas do Flashscore.

Quando se pergunta qual o jogador de futsal mais marcante da história, um dos primeiros que vem à cabeça é Ricardinho. O português foi tudo na modalidade e continua a levá-la aos quatro cantos do mundo para retribuir, segundo as suas próprias palavras, "um pouco" do que esta lhe deu ao longo dos anos.

Eleito seis vezes (2010, 2014, 2015, 2015, 2016, 2017 e 2018) como o melhor do mundo, conquistou todos os títulos possíveis a nível de clubes. A glória eterna chegou quando venceu o Campeonato da Europa de 2018 com Portugal e o Campeonato do Mundo de 2021, pouco antes de se despedir da selecção nacional.

Uma carreira de sucesso absurdo que está a chegar ao fim. Tanto que o próprio R10 admite ter pensado em pedurar as sapatilhas no ano passado. No entanto, no meio da escuridão, Atta Halilintar, uma reputada estrela das redes sociais com quase 29 milhões de seguidores no Instagram, pareceu dar-lhe uma bala extra ao oferecer-se para jogar na Indonésia:"A ideia de jogar em Pendekar foi quase um impulso. Ia deixar de jogar e, de repente, o presidente, que sigo no Instagram porque é um influencer muito importante a nível mundial, escreveu-me", explica.

Ricardinho é o emblema do novo projecto do Pendekar United.
Ricardinho é o emblema do novo projecto do Pendekar United.Pendekar United

Antes de ganhar fama, o dirigente asiático inaugurou o seu canal no YouTube - actualmente com mais de 30 milhões de seguidores - com um vídeo em que analisava as capacidades daquele que é agora o seu jogador. Graças a isso, surgiu o primeiro contacto para tentar incorporá-lo no clube que acabara de criar há apenas um ano.

"Não pensei duas vezes. Precisava de uma mudança, de voltar a desfrutar do futsal, porque estou a chegar ao fim. Decidimos ajudar-nos mutuamente, porque eu ia recuperar a minha paixão e a Indonésia recebia um grande jogador", conta. "Quando escolhi o Pendekar, não o fiz para ser campeão ou o melhor jogador do mundo, mas para voltar a divertir-me e tentar ajudar um novo clube a ser top-3 aqui", afirma.

Frustração em França

Desde que deixou o Inter Movistar , Ricardinho decidiu promover o futsal em países onde ele ainda não estava totalmente desenvolvido. Com esse objectivo em mente, partiu para França para embarcar no mega-projecto ACCS Paris. A ele juntaram-se Carlos Ortiz (39 anos) e Humberto (37 anos), mas as coisas começaram a correr mal do ponto de vista financeiro desde o início.

Logo surgiu o não pagamento de contratos incomportáveis e, apesar de terem conseguido vencer o campeonato francês no seu primeiro ano (2021), acabaram por ser despromovidos à segunda divisão por via administrativa. De facto, o pivô brasileiro saiu antes do final da época.

Ricardinho chegou à Final Four da Liga dos Campeões com o ACCS
Ricardinho chegou à Final Four da Liga dos Campeões com o ACCSTwitter UEFA Futsal

"Estava em França há dois anos, um ano e meio sem ser pago, com problemas financeiros no clube, que me devia muito dinheiro. Já estava frustrado", conta o mago de Gondomar, que esteve muito perto de abandonar o desporto profissional naqueles tempos difíceis.

No entanto, Ricardo sempre foi um homem de palavra, extremamente profissional. Chegou à capital francesa para ajudar a sua equipa a triunfar a nível continental e acabou por levá-la à Final Four da Liga ods Campeões em 2022, apesar das avultadas somas de dinheiro que ainda não lhe eram pagas.

Surpresa com a Indonésia

Desde que chegou ao país onde está agora a espalhar as sementes do desporto que ama, "O Mágico" encontrou um lugar onde as pessoas são realmente apaixonadas: "Fiquei muito surpreendido. Sabia que na Indonésia gostavam do desporto, mas quando vi como o vivem, como enchem os pavilhões, como gritam... São loucos para ter uma foto, um abraço, para te tocar, para te ver jogar", conta-nos, entusiasmado.

"É inacreditável! É, sem dúvida, o país onde joguei onde há mais loucos por este desporto", acrescenta.

A competição da liga não está estruturada da forma como etamos habituados no continente europeu, mas reconhece que conseguiram aumentar o número de pessoas que frequentam os recintos desde que se juntou ao Pendekar:"Enchemos os pavilhões quase sempre, embora seja muito difícil fazê-lo, porque jogamos dois dias, sábado e domingo, das 10h00 às 18h00, e não é fácil, mas notámos uma grande melhoria no público", explica.

Uma cultura muito rígida

Assim como os adeptos estão comprometidos com a evolução do futsal na Indonésia, o ex-jogador do Benfica lamenta a falta de apoio que recebe dos responsáveis pela organização das competições.

"A Federação trabalha muito pouco e muito mal para o futsal na Indonésia. Tem de apostar muito mais, mudar o piso dos pavilhões, dar melhores condições aos jogadores, reunir com presidentes e treinadores para perguntar o que pode ser melhorado, trazer jogadores de qualidade para dar 'coachings' na Indonésia... Se isso não acontecer, vai ser difícil ultrapassar o nível que têm agora", queixa-se quando questionado sobre os pontos de melhoria a enfrentar no país.

"A federação é a chave para podermos começar a competir com países como a Tailândia ou o Japão", comenta sobre a diferença de apoio que os dois grandes gigantes do continente asiático recebem das suas federações nesta modalidade desportiva.

Ricardinho está a tentar ajudar os jovens jogadores
Ricardinho está a tentar ajudar os jovens jogadoresPendekar United

Acreditem ou não, são os jogadores que ainda não acreditam que este desporto lhes pode garantir uma boa carreira profissional durante muitos anos. É nisso que R10 mais se concentra no seu dia-a-dia como membro da equipa do Pendekar United.

"Aqui não vêem o futsal como um desporto profissional do qual se pode ganhar a vida. Só treinam quando está marcado no calendário, não fazem nada extra porque compreendem que têm de melhorar em algum aspecto", argumenta. "Perguntam-me porque é que vou ao ginásio e eu digo-lhes que é porque acho que é necessário e que o meu corpo precisa", afirma.

Tenta sempre ajudar os jovens a descobrir o mundo, mas acredita que precisam de ganhar aquela vantagem competitiva que lhes falta: "Não é por falta de talento, mas têm de querer fazer a diferença", diz. "O meu grande desafio é tentar trazer dois ou três jogadores com muita qualidade da Indonésia para jogar na Europa. Já estamos a tentar com um, mas acho que há mais dois que têm qualidade para competir", acrescenta.

Sem perder a Europa de vista

Menos de um mês antes desta conversa, o Palma Futsal conquistou o seu primeiro título da Liga dos Campeões ao derrotar o Benfica e o Sporting na Final Four. Ricardinho tinha apontado os seus compatriotas como favoritos, mas a equipa espanhola acabou por surpreender.

"O que o Palma tem feito nos últimos anos é uma verdadeira reviravolta. Estão sempre atentos à oportunidade de contratar alguém do Barça, do Inter ou do El Pozo", diz, demonstrando que está atento ao que acontece no velho continente.

O Palma Futsal venceu a Liga dos Campeões na sua primeira participação
O Palma Futsal venceu a Liga dos Campeões na sua primeira participaçãoTwitter UEFA Futsal

A pátria é importante, mas uma lenda do futsal como Valbom tem critérios suficientes para ser objectivo: "Para ser sincero, teria preferido que fosse um português a ganhar, mas o Palma fez um trabalho muito bom", garante.

"O que eles conseguiram é caso para lhes fazer uma estátua. Fizeram um trabalho incrível na organização da Final Four, só falta dar-lhes os parabéns", diz, parando para elogiar o clube de Palma que, para além de ganhar, organizou a festa em casa.

O fim da magia

No momento desta entrevista, o "10" informa-nos que acaba de sofrer uma lesão no joelho que o vai manter fora de acção durante algum tempo. Tem uma rotura do ligamento lateral interno. Felizmente, não terá de ser operado, mas é um golpe importante no final da sua carreira.

Ricardinho regressa para desfrutar do futsal na Indonésia
Ricardinho regressa para desfrutar do futsal na IndonésiaTwitter Ricardinho

Nesta altura, é impossível não pensar na data em que a estrela que nos deslumbrou com a sua magia durante mais de duas décadas irá pendurar as chuteiras: "Essa decisão está sempre na minha mente. No final, chega uma altura em que a minha cabeça me diz para parar, mas o meu corpo pede um pouco mais", diz.

Não há dúvida de que a chama da varinha d'O Mágico se está a apagar, mas ele está confiante de que ainda tem mais alguns truques na câmara: "É verdade que o fim está mais perto do que a continuidade. É verdade que o fim está mais próximo do que a continuidade. Mas bem, se aparecer algo diferente do que eu tenho, possivelmente poderei jogar mais um ano", diz, deixando alguma esperança.