Paris-2024: O "legado" dos Jogos Olímpicos

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Paris-2024: O "legado" dos Jogos Olímpicos
Praça da Concórdia, em Paris
Praça da Concórdia, em ParisAFP
Desde tapetes de ginástica e formação de segurança privada a moedas de recordação para os alunos e novas piscinas em Seine-Saint-Denis: há algo para todos os gostos no que é anunciado como o "legado" dos Jogos Olímpicos de Paris, um conceito que também pretende gerar entusiasmo.

No dia em que a chama foi acesa em Olímpia, na Grécia, o Presidente do Comité Olímpico Internacional (COI), Thomas Bach, felicitou os organizadores dos Jogos Olímpicos de Paris por terem"criado um legado mesmo antes de a chama ser acesa".

A ideia é deixar um legado que seja simultaneamente tangível, com instalações desportivas novas ou renovadas, por exemplo, e intangível, como o aumento do número de pessoas que praticam desporto, para garantir que o efeito olímpico perdure.

"É uma noção que é sistematicamente activada quando o Olimpismo está em crise, e está em crise há cerca de 30 anos", disse à AFP Michaël Attali, historiador do desporto da Universidade de Rennes II, que trabalhou sobre o legado social dos eventos desportivos. Os Jogos Olímpicos geraram, por vezes, dívidas e instalações não utilizadas que dissuadiram muitos países de quererem organizá-los.

A primeira menção à noção de "legado" remonta aos Jogos Olímpicos de Melbourne, em 1956, mas foi largamente esquecida antes de ser introduzida na Carta Olímpica, em 2003.

"Legitimar o evento"

"O legado é um instrumento de legitimação do evento", resume o investigador, "para mostrar que os Jogos têm um impacto na vida das pessoas que vai para além das festividades".

No orçamento do Comité Organizador dos Jogos Olímpicos de Paris (Cojo),o "legado" tem uma dotação de 50 milhões de euros, num total de 4,4 mil milhões de euros. Mas o Estado e as autarquias locais também estão a contribuir. Inicialmente, estavam previstas cerca de 170 acções no âmbito desta rubrica.

"No caso de Seine-Saint-Denis, não há dúvida: é um legado material, há grandes instalações e piscinas suplementares", afirma o antigo deputado de esquerda Régis Juanico, especialista em desporto. No entanto, tem uma reserva em relação à "dimensão nacional do legado", pois considera que houve "muito pouca ação concreta" para as cidades que são centros de preparação para os Jogos Olímpicos e que receberam o rótulo "Terres de Jeux" em França.

A medida emblemática do legado do Cojo: 30 minutos de atividade física na escola primária. De acordo com o último inquérito do Ministério da Educação, ao qual responderam pouco mais de metade das escolas, 91,5% das escolas primárias e básicas aplicaram a medida "mesmo que parcialmente".

"Já deveríamos estar a cumprir as 3 horas de educação física nas escolas primárias", salienta Régis Juanico, um pouco em uníssono com os professores de educação física que não são muito favoráveis a esta medida.

Peças à venda na Internet

Muitas outras medidas são apresentadas como um legado.

Por exemplo, a formação remunerada de vigilantes privados, um sector em dificuldades, é apresentada como "um legado" dos Jogos Olímpicos pelo Cojo e pelos representantes do Governo para o futuro deste sector, que sofre com a rotação de pessoal e os baixos salários.

"Tudo o que acontece é um legado", observa Michaël Attali. "É um pouco por todo o lado", acrescenta Régis Juanico.

A 9 de abril, o deputado da oposição Fabien Di Filipo (LR) questionou a ministra dos Jogos Olímpicos, Amélie Oudéa-Castéra, sobre a moeda de dois euros oferecida às crianças das escolas como lembrança. "Que legado para os Jogos Olímpicos, quando tantas moedas já foram usadas ou estão à venda na Internet?", questionou o deputado, recomendando que os 16 milhões de euros sejam utilizados para financiar "qualificações de treinadores do Estado".

As peças estão atualmente à venda num sítio Internet por um preço entre 25 e 500 euros.

"Penso que, se não o tivéssemos feito, teríamos lamentado e os representantes nacionais teriam razão em criticar-nos", defendeu-se, depois de salientar o legado da aldeia olímpica que foi transformada em habitação.

Quando o Estado acrescentou cerca de dez milhões de euros ao orçamento do Cojo para instalações desportivas, normalmente adquiridas pelo Cojo, o legado foi mais uma vez avançado: seriam redistribuídas pelos clubes, segundo o Estado.

A propósito do desporto, outro legado imaterial prometido, Michaël Attali recorda que, em geral,"no ano dos Jogos Olímpicos, há um ligeiro arranque, no ano n+1 há um planalto e no ano n+2 há um regresso ao nível anterior e, por vezes, até menos sócios do que antes dos Jogos". Teremos de esperar um pouco mais para ver se os Jogos Olímpicos em França se saem melhor.