Foi o fim de uma Vuelta que alguns descreveram como aborrecida. Mas o facto é que Sepp Kuss (Jumbo-Visma) estava prestes a obter a sua maior vitória até à data, depois de anos a ser gregário dos líderes. No entanto, ainda faltava uma última etapa e, como acontece frequentemente nas Grandes Voltas, parecia destinada aos sprinters.
Mas muitos ciclistas tentaram a sua sorte. E foi um grupo composto por Remco Evenepoel ( Soudal-QuickStep), Nico Denz e Lennard Kämna (Bora-Hansgröhe), Filippo Ganna (INEOS-Grenadiers), Rui Costa (Intermarché-Circus-Wanty) e o camisola verde Kaden Groves (Alpecin-Deceuninck) que tentou desafiar o pelotão.
A luta foi intensa até ao fim, com o grupo dos 6 a liderar o pelotão por alguns segundos, mas acabando por vencer a luta e ver Kaden Groves levantar os braços pela última vez ao sprint. Sepp Kuss vence assim a Volta a Espanha à frente de Jonas Vingegaard e Primoz Roglic, uma esplêndida consagração para o americano.
Ninguém imaginava, talvez nem ele próprio, antes da partida, um final de conto de fadas como o que se viu na passadeira de Cibeles da última etapa em Madrid. Kuss era unanimemente reconhecido como o melhor gregario do mundo, mas talvez nem ele próprio se visse a liderar uma linha como a do Jumbo-Visma.
A estrada e as suas pernas têm-lhe dado galões e reconhecimento. O Durango Kid, como é conhecido por ser natural daquela cidade do estado do Colorado e pela saga de banda desenhada com o mesmo nome, começou a acreditar que era importante à medida que a corrida avançava. Aos poucos, foi saindo da longa sombra de Roglic e Vingegaard. Teve de ultrapassar os rivais e as dúvidas da sua equipa quanto a uma liderança sólida com dois gigantes ao seu lado. O americano foi capaz de ultrapassar tudo isso.
Kuss é um tipo carismático. Nas partidas e chegadas da Vuelta, era cada vez mais solicitado pelos adeptos e pelos meios de comunicação social. O fiel ciclista acreditava cada vez mais em si próprio e nas suas possibilidades. A missão, então, era convencer a sua equipa de que ele também podia ser um grande ciclista. Já ninguém olha para ele da mesma forma. Ele colheu os frutos de uma vida inteira de trabalho árduo e generosidade.
O Jumbo aproveitou o último dia para mostrar o seu imenso poder e o vencedor do Tour (Vingegaard), o vencedor do Giro (Roglic) e o vencedor da Vuelta (Kuss) desfilaram a sua hierarquia pelas ruas da capital. A questão que se coloca agora é se o gregario tornado campeão vai perder o seu novo estatuto ou se vai ser apenas mais um líder numa equipa cheia de campeões.