Depois de vencer o Gana e o Uruguai, Portugal mede forças com a Coreia do Sul, na última jornada do Grupo H do Mundial-2022. A Seleção Nacional soma seis pontos e precisa de mais um para carimbar o primeiro posto que pode valer a fuga ao confronto com o Brasil nos oitavos de final.
Em conversa com os jornalistas, Fernando Santos assumiu que o objetivo passa por ficar no primeiro lugar, mas por outro motivo. Mais do que a fuga à canarinha, o selecionador procura ganhar mais um dia de descanso para os jogadores.
“O fator mais importante é esse. É muito diferente jogar passado três dias ou quatro, sobre nesta fase. Eu percebo a questão de fugir ao Brasil, mas acho que nem o Tite (selecionador do Brasil), nem o Fernando Santos estão preocupados com isso. Quando se chega a uma prova destas com a ambição de conquistar algo importante não se pode ir por aí. Além disso, se eu já estou a falar em cansaço por jogar de quatro em quatro dias, com três vai ser ainda pior. Por isso queremos ainda mais ficar em primeiro”, asseverou.
Uma densidade competitiva que vai provocar algumas alterações no onze de Portugal para o duelo desta sexta-feira (15 horas). Além de Nuno Mendes, Danilo Pereira e Otávio, com problemas físicos, o treinador português reconheceu a possibilidade de fazer algumas mudanças tendo em conta o cansaço e a questão dos cartões amarelos (Rúben Dias, Rúben Neves, Bruno Fernandes e João Félix estão em risco).
“Eu tenho confiança total nos jogadores todos. Existem três que não podem estar no jogo de amanhã (sexta-feira). Pelo menos esses estão de fora, depois há um ou outro em que vamos ver o que acontece. Isto é o que já tinha dito, os jogadores apareceram em grande forma, mas jogar de quatro em quatro dias causa cansaço, isso pode trazer fadiga e lesões. Vamos ter de avaliar bem, temos, também, as questões dos cartões amarelos, que é perfeitamente normal. O que posso garantir é que vai jogar a equipa na qual eu tenho mais confiança, independentemente dos jogadores que atuarem”, disse, deixando também uma palavra a Nuno Mendes: “Infelizmente vai estar fora do Mundial. Vai continuar connosco, por vontade expressa do jogador, o club dele acedeu, acha que pode fazer aqui a recuperação. Isso reflete muito bem o estado de espírito, a união desta equipa. E para nós isso é importante”.
Questionado sobre a Coreia do Sul, Fernando Santos deixou elogios à equipa orientada pelo também português Paulo Bento.
“Sabemos da dificuldade que este jogo vai encerrar pelo adversário que é. Fez dois jogos tremendos, quer com o Uruguai, quer com o Gana, em que os resultados não acompanharam a excelente exibição. São uma equipa muito bem organizada, com princípios claros. Tem muito a ver com o que é o Paulo Bento, com nuances diferentes, pelos jogadores que agora tem . Procura sempre sair a jogar, muito rápida, muito objetiva, e, em termos ofensivo, coloca muita gente na frente, com os laterais subidas. Aproveita o ataque rápido pela fugacidade dos jogadores. E lutam até ao último minuto. Defensivamente é muito bem organizado. Vai ser um jogo tremendamente difícil. Vamos procurar continuar a evoluir, temos feito coisas bem, mas estamos num processo de evolução, o que é normal”, elogiou, recusando falar numa mudança de estratégica: “Não vamos ser uma equipa de contra-ataque, em nenhuma circunstância o faria, muito menos perante um adversário perigoso. Mesmo no jogo com o Uruguai, a Coreia chegou a colocar cinco adversários na área. Temos de manter o nosso padrão. Temos de ter bola e tirar a intensidade da Coreia do jogo, se não vamos meter numa situação difícil. Temos de envolver o adversário e depois saber reagir ao que o adversário nos vai colocar”.
"Temos uma das melhores gerações"
Desde que chegou ao Catar, Fernando Santos viu-se obrigado a lidar com vários problemas físicos que nunca lhe permitiram ter sempre os 26 disponíveis em dia de jogo. Questionado sobre como lida com esse problema, o selecionador nacional deixou um elogio ao grupo.
"Estou plenamente tranquilo. Quero ter todos, dores de cabeça, ser obrigado a pensar o que vou fazer para cada jogo. Agora, o contrário, não. Não fico pessimista, não vou deixar de dormir porque há um jogador que não pode. Fico triste por eles, acho que todos ficaram, mas tem de servir de incentivo a todos compensar de alguma forma a impossibilidade desses estarem presentes. Eu acredito que temos uma das melhores gerações, um bom número de jogadores de qualidade e temos de provar dentro do campo que é assim mesmo", frisou.
E estará esta geração já no ponto ideal para conquistar um Campeonato do Mundo?
"Há muita gente que ainda tem muitos anos para jogar. Existe um equilíbrio muito forte na equipa, em que todos são jovens, incluindo o Pepe, porque o que conta é o espírito, a capacidade mental de ser jovem, a alegria, o prazer. Quando assim é corremos duas vezes. Acho que esta Seleção está a ficar cada vez mais preparada. É uma geração que começou desde 2018, uma equipa em crescendo, jogadores com características claramente distintas dos de 2016 (conquista do Europeu). Passou por uma fase não tao boa quanto nós queríamos, mas que depois se encontrou e está a crescer muito. Este jogo é mais um passo no crescimento e quando assim é estamos mais perto de alcançar o que ambicionamos”, atirou.
"Ficaria muito contente se fosse golo do André Silva"
Como não podia deixar de ser numa conferência de imprensa da Seleção Nacional, Cristiano Ronaldo foi tema. A primeira pergunta surgiu da parte da imprensa sul-coreana e até motivou alguma confusão com Fernando Santos a pedir a repetição da questão.
Chegou-se então à conclusão que o jornalista questionou uma eventual menorização que o capitão da Seleção Nacional poderá fazer da Coreia do Sul. Isto justificando com um episódio que aconteceu no verão de 2019, em que o avançado português não compareceu num particular da Juventus com os melhores jogadores do campeonato local, em Seul.
Na altura, vários adeptos não esconderam o desagrado e dois deles chegaram mesmo a vencer um projeto em tribunal, com a promotora do encontro a ter de ressarcir o preço dos bilhetes bem como uma indeminização.
“Isso é algo que terá de perguntar à Juventus, porque não aconteceu connosco. O que eu acho é que eu, tal como o Cristiano Ronaldo, temos muito respeito pela Coreia do Sul, pelos jogadores e pelo seu povo”, argumentou Fernando Santos, deixando no ar a hipótese do avançado ser utilizado, depois de falhar o último treino: “Vamos ver. Em princípio vai treinar logo, depois vamos ver se estiver em condições. Não sei se é 50/50. Depende de logo do treino. Existe um plano para quando ele não puder, até porque não há nenhum jogador que tenha a garantia que vai jogar sempre”.
Por último, negou as notícias veiculadas em Espanha de que a Federação Portuguesa de Futebol teria pedido à FIFA para que o primeiro golo de Bruno Fernandes ao Uruguai fosse atribuído a Cristiano Ronaldo. Recorde-se que o avançado português fez-se à bola e pareceu tocar com a cabeça, mas ficou comprovado que o cruzamento do médio do Manchester United não sofreu qualquer desvio no caminho para a baliza.
“Não pedi, nem eu nem ninguém da Seleção pediu alguma coisa (golo do Ronaldo) Se o golo fosse atribuído ao André Silva eu ficaria muito satisfeito na mesma” concluiu, de forma bem-humorada.