Quando o poste sérvio fez a sua discreta aterragem na liga, em 2014, nem os mais próximos poderiam imaginar que viria a ganhar dois prémios MVP (2021 e 2022) e a apresentar estatísticas apenas ao alcance das grandes lendas do basquetebol.
O seu nome só foi falado nesse draft quando os Nuggets o seleccionaram na 41.ª posição, quando o próprio Jokic já tinha adormecido na madrugada da Sérvia e a televisão americana mostrava um anúncio a uma cadeia de fast-food Tex-Mex.
Nunca um futuro vencedor do prémio MVP tinha sido escolhido numa posição tão baixa no draft como o Joker, que veio de uma equipa, o Mega Basket, praticamente desconhecida fora da Sérvia. Nos últimos nove anos, nem a excelência do seu basquetebol nem os seus muitos feitos individuais o catapultaram para além do mundo do desporto.
A actividade publicitária de Jokic, de 28 anos, limita-se a promover uma marca de cerveja no seu país. Nos Estados Unidos, não anuncia produtos nem dá nome a nenhum calçado, apesar de ter um contrato com a Nike.
O último MVP sem modelo próprio foi outro talentoso homem alto europeu, o alemão Dirk Nowitzki (2007), que deu aos Mavericks o primeiro anel de campeão, tal como Jokic vai procurar para os Nuggets a partir do Jogo 1 das Finais, na madrugada de sexta-feira.
Um jogador diferente
A aparência aparentemente rude de Jokic, com 1,80 metros de altura, a linguagem corporal pouco convencional e um nariz que fica vermelho no ar condicionado estão longe dos cânones do espectáculo da NBA.
As suas assistências mágicas e os seus triplos implausíveis são muitas vezes ofuscados nas redes sociais pelos afundanços ferozes dos seus adversários, e o próprio Jokic é o primeiro a renunciar à batalha do espectáculo.
"Eu também não me escolheria", disse o sérvio depois de ter sido a sétima escolha geral no último elenco All-Star da equipa, o que foi visto como uma falta de respeito para com o então MVP. "Não fui feito para este jogo", reconheceu Jokic com um sorriso para minimizar a questão.
No entanto, quando se trata de basquetebol competitivo, o poste recebe elogios unânimes de colegas de equipa, adversários e treinadores, todos impressionados com a sua extraordinária inteligência e capacidade de dominar todas as facetas do jogo.
"É preciso ser um grande fã do desporto para perceber o que o Joker faz. Os outros vão para os lançamentos de três pontos de longa distância, os afundanços ou os Lakers. Nós sabemos o que Jokic faz, é assim que se faz uma equipa vencedora. Mas a NBA não é sobre isso, é sobre as estrelas", disse o ex-base dos Wizards Gilbert Arenas.
"Ele é especial."
Como peça fundamental do jogo do Nuggets, Jokic está com uma média impressionante de 29,9 pontos, 13,2 ressaltos e 10,1 assistências nos play.offs, além de ter acertado 54,4% dos lançamentos e 47,1% dos arremessos dos triplos.
Indiscutivelmente o melhor passador da história, o sérvio fez triplos duplos em oito jogos dos play-offs, superando o recorde de sete do lendário Wilt Chamberlain nos playoffs de 1967.
"Toda a gente fica obcecada com as estatísticas dele, mas acho que muita gente não fala de outra parte do seu jogo", disse LeBron James depois de os seus Lakers terem sido goleados por 0-4 nas finais do Oeste por Denver: "Ele vê as jogadas antes de elas acontecerem, não há muitos jogadores assim. Consegue marcar, recuperar, passar. Há tipos nesta liga que também jogam como eu gosto de jogar, e ele é um deles (...) Talvez não se fale disso, porque muita gente não percebe, mas eu percebo. Ele é especial."
"Jokic vai entrar para a história como um dos melhores quatros de todos os tempos", profetizou Kevin Durant, líder dos Phoenix Suns, outra das vítimas dos Nuggets nos play-offs.
Todos estes elogios não parecem afectar este homem tranquilo que todos os verões regressa à sua terra natal, Sombor, uma pequena cidade agrícola no norte da Sérvia, onde passa tempo com a família e com os cavalos, a sua outra grande paixão.
Foi assim que, ao chegar ao seu estábulo numa carruagem puxada por cavalos e vestido de jóquei, os dirigentes dos Nuggets o surpreenderam no ano passado para lhe entregar o seu segundo troféu de MVP.
"O sucesso, o dinheiro e a fama nunca mudaram este homem, e isso é raro neste negócio", sublinhou o seu treinador, Michael Malone.