Entrevista Flashscore a Roberto Sensini: "Doeu perder com a Arábia Saudita mas a Argentina depende de si"

Publicidade
Publicidade
Publicidade
Mais
Publicidade
Publicidade
Publicidade
Entrevista Flashscore a Roberto Sensini: "Doeu perder com a Arábia Saudita mas a Argentina depende de si"
Sensini apela ao trabalho psicológico de Scaloni, Messi, Otamendi e companhia
Sensini apela ao trabalho psicológico de Scaloni, Messi, Otamendi e companhiaProfimedia
Roberto Nestor Sensini tinha a alcunha de Boquita, e também de Nonno. Somou 60 internacionalizações pela Argentina, onde se estreou em 1987 e despediu-se em 2000, participando em três Mundiais: 1990, 1994 e 1998. Antigo central, representou Udinese, Parma, Lazio e o Newell's Old Boys. Depois, como treinador, orientou Atlético de Rafaela, Colón, Newell's Old Boys, Estudiantes e Udinese. Agora, é ao Flashscore que comenta a derrota surpreendente da sua Argentina na estreia do Mundial, com a Arábia Saudita, e fala da competição no Catar.

- A Argentina perdeu na estreia contra a Arábia Saudita. Nem mesmo o pior dos pesadelos poderia começar assim...

- (risos) Minha nossa! Mas sabes, estas coisas acontecem: muito entusiasmo, a primeira partida do Campeonato do Mundo... Aconteceu o mesmo connosco em 1990, com os Camarões. O estranho é que, depois de 35 jogos sem perder, somos derrotados pela Arábia Saudita... Foi uma surpresa absoluta e agora não se pode errar, também porque da próxima vez que se perde, sai-se. Felizmente, a Polónia e o México empataram, porque se um deles tivesse ganho, ficava tudo bem mais complicado.

- O que não gostou na estreia da Argentina?

Na realidade, na primeira parte parecia que podíamos ter marcado cinco golos, e em vez disso só terminou 1-0. Apesar das alas muito fechadas, tínhamos muitas oportunidades por explorar. Depois, num Campeonato do Mundo, há sempre o risco ao virar da esquina: os sauditas tinham três remates à baliza e dois golos. E nunca conseguimos recuperar disso. 

- Mesmo o assalto final não pareceu muito bem estudado.

- Para mim não havia essa estratégia pensada, sequer. O Di María tentou correr, o Messi na segunda parte nunca conseguiu sequer o espaço que precisava para tentar rematar...

- Foi também um problema do desenho tático no meio-campo? O jogo nunca pareceu harmonioso.

- É evidente que depois de uma derrota surgem muitos problemas mas é preciso lembrar que a ausência de Lo Celso foi fundamental. Sem ele, Scaloni procurou um parceiro de Messi, destacando Papu Gomez para a esquerda, mas falhou na sua intenção. 

- No entanto, foi na defesa que as principais falhas surgiram. Romero parecia mais lento do que o habitual, ainda não totalmente recuperado da lesão.

- Na primeira primeira não me pareceu que a Argentina tivesse sofrido na defesa, pelo contrário. O Martínez não fez uma única defesa, nunca esteve em perigo. Depois, na segunda parte, creio que pagou por alguma falta de atenção. A melhor qualidade de Romero é a velocidade e no primeiro golo ele foi apanhado mesmo a tempo, pelo que talvez não estivesse no seu melhor. 

- No segundo golo, no entanto, todos pareceram estar parados a ver...

- Acho que tinham medo de fazer falta. Acompanharam o avançado e, no final, ele marcou mesmo. Estas são situações que se pagam caro, sobretudo numa competição deste género.

"Falta à Argentina extremos puros"

- O que mais o desagradou na estratégia da Argentina?

- A equipa sabia como a Arábia Saudita ia jogar e não conseguiu impor o seu jogo. Não houve jogadores a jogar na ala, em busca das costas da defesa adversária. O Di Maria, por exemplo, é canhoto e jogou à direita, por isso tentou sempre movimentos interiores. O Nico González, da Fiorentina, podia ter sido muito útil nisso, mas está lesionado. Falta à Argentina extremos puros. Precisávamos de alargar o jogo e nem os laterais conseguiram subir para causar esse desequilíbrio. Para mim foi, sobretudo, isso que faltou.

- A sua Argentina também começou com uma derrota inesperada, em 1990, diante dos Camarões. Nessa altura o selecionador, Carlos Bilardo, disse mesmo que em caso de eliminação na fase de grupos seria melhor que o avião de regresso se despenhasse antes de regressar à Argentina...

- (risos) Que história que isso foi! Na verdade, o primeiro jogo é sempre difícil e se o perdermos a nossa vida complica-sse muito. Também se deve dizer que, na altura, havia a possibilidade de se apurar como o melhor terceiro. Agora isso já não existe. Depois de perdermos contra os Camarões, porém, sabíamos que éramos um grupo forte. Muitos tinham sido campeões em 1986 e chegámos à final, não pelo que jogávamos mas pela coesão do grupo. E depois houve o Diego Maradona... É por isso que espero que a equipa tenha agora a força para reagir.

- O México é um rival que não se desejava neste contexto?

- Olha, a Argentina ganhou sempre ao México. Mas sofreu sempre. E teremos pela frente o Tata Martino, que é um amigo e que conhece bem a equipa da Argentina. Além disso, o México tem de ganhar senão estão fora. Também é verdade que vi o México contra a Polónia e, teoricamente, não é um adversário que faça frente à Argentina, se os nossos jogadores estiveram bem. Mas eles têm de reagir mentalmente à derrota contra a Arábia Saudita. Não tenho dúvidas que Scaloni trabalhou bem esse lado psicológico.

- Nesse aspeto pode o capitão, Lionel Messi, ser mais interventivo? Ou pessoas como Walter Samuel e Ayala, agora na equipa técnica, farão esse papel de líderes?

- Na minha opinião todos têm de ter esse papel. O primeiro tem de ser o treinador. Connosco, depois da derrota com os Camarões, foi o Bilardo que nos chamou para nos fazer compreender que já não tínhamos margem de erro. Primeiro o treinador, depois será a vez dos jogadores mais experientes do grupo, como Messi, Otamendi... Mas eles têm de recuperar mentalmente, porque perderam contra a equipa teoricamente mais fraca do grupo. Teoricamente... porque no futebol nunca se pode confiar em nada (risos).

- Ter do outro lado um treinador chamado Tata Martino torna tudo mais complicado?

- Penso que o Tata sabe qual a equipa que vai enfrentar, quem vai jogar contra Messi, quem tinha em Barcelona. Mas não creio que ele vá colocar um autocarro em frente à baliza e meter as fichas todas no contra-ataque. Ele sempre privilegiou a posse de bola. E pode ser uma desvantagem para nós, sem dúvida.