Luís Santos. É este o nome de um dos principais responsáveis pelo sucesso recente do CJ Almeida Garrett. Aos 42 anos, o treinador natural de Vila Nova de Gaia aceitou o convite para abraçar o primeiro desafio no andebol feminino a nível de clubes e tem sido muito bem-sucedido.
Irreverente na forma de comunicar com as jogadoras e para o grande público, Luís abriu o livro sobre o seu trajeto no andebol e a experiência no novo clube, em entrevista ao Flashscore.
"A mulher andebolista tem a curiosidade de saber mais"
- Como surge o andebol na vida do Luís?
- O andebol surge aos 7 anos de idade no saudoso andebol à roda do círculo que existia nas escolas primárias de Vila Nova de Gaia. Depois, também por influência de amigos que jogavam no FC Gaia e que me levaram a experimentar a modalidade aos 9 anos.
- Como é feita a transição de jogador para o papel de treinador?
- Aos 19 anos e na primeira época de sénior a jogar no Senhora da Hora e já a estudar no segundo ano da licenciatura em desporto e educação física na FCDEF - Universidade do Porto, surgiu a possibilidade de ser treinador do escalão infantis no FC Porto por colocação do treinador no ensino. Aproveitei a oportunidade que me deu o Professor Ireneu da faculdade para iniciar a carreira como treinador, ainda como aluno e sem qualquer experiência de treino.
- Depois de anos ligado à vertente masculina, como surge a possibilidade de integrar o andebol feminino?
- A possibilidade surge por parte da Federação de Andebol de Portugal com o convite para agarrar no projeto de seleção feminina sub-16 com vista à preparação Euro Sub-17 e possível apuramento para o Mundial Sub-18 com a geração 2004-2005. Foi um convite que recebi com a natural surpresa por não ter qualquer experiência no feminino, mas que agarrei com a visão objetiva de poder contribuir para o desenvolvimento da modalidade no feminino.
- Nada arrependido por ter seguido esse caminho?
- Estou muito grato pela oportunidade de entrar no feminino porque me obrigou a desenvolver outras competências como treinador que não tinha ainda desenvolvido nos 19 anos como treinador no género masculino. Fico agradavelmente reconhecido pela forma como a mulher andebolista tem a curiosidade de saber mais e a disponibilidade de trabalho diário que apresenta, mesmo sem terem uma visão de profissionalismo tão risonha como os masculinos.
"Temos a ambição de levantar a Taça FAP"
- O Luís assumiu o comando do CJ Almeida Garrett no início da presente temporada. Que clube é este que regressou à elite do andebol feminino nacional no arranque da presente temporada e que tem sido uma agradável surpresa?
- É um clube familiar, com ambição e uma visão clara de proporcionar o profissionalismo à mulher no desporto nos próximos anos. É um clube com direção e coordenação fortes e coesas na criação de objetivos para que essa meta seja alcançada. Apesar de não ter a experiência de 1.ª divisão, está a adaptar-se com grande seriedade e dando passos sólidos para que se torne uma referência no desporto feminino.
- Neste regresso à principal liga, o clube está na luta pela Europa. Como se explica este sucesso num plantel tão jovem?
- O nosso trajeto resume-se a quatro palavras: visão, plano, operacionalização (leia-se, treino e trabalho diário) e avaliação (constante individual e coletiva). Esse tem sido o segredo do nosso sucesso.
- Quais são as perspetivas para o que falta jogar nesta reta final?
- Ser competitivos em todos os jogos fazendo evoluir as jogadoras e procurando lutar pela vitória em todos os jogos.
- O clube está ainda nas meias da Taça FAP. Como foi o trajeto nesta competição e que significado tem para si estar na discussão deste troféu?
- O trajeto foi vitorioso, naturalmente com a sorte dos sorteios à mistura, mas com muito mérito estamos na final four. A nossa ambição tem que ser a de levantar o troféu, mesmo sabendo que para o fazermos teremos que estar a 100%. Temos que ser nós a provocar o desaire nos favoritos e, se já o fizemos uma vez, podemos repeti-lo! Somos ambiciosos e isso é o nosso motor.
"Partilhar o que faço e como faço é algo que sinto que devo ao andebol"
- Nota-se que tem bastante cuidado com a forma como comunica, não só para fora como para dentro, através de vários vídeos e imagens que partilha nas suas redes sociais. Explique-nos a importância que dá a essa vertente.
- Sempre me preocuparam as questões relacionadas com a comunicação porque é uma das ferramentas que pode ser ponto de inflexão na trajetória de uma equipa/jogador(a). Como tal, procuro a sinceridade, ponderação, apesar de ser um treinador muito franco e frontal. Partilhar o que faço e como faço é algo que sinto que devo ao andebol por tudo o que me deu para o que sou hoje como treinador e como pessoa.
- O que espera alcançar com essa forma de comunicar?
- Ajudar positivamente ao desenvolvimento da modalidade e a centrar o debate no essencial, deixando de lado coisas que em nada contribuem para o desenvolvimento da modalidade. Se conseguir influenciar positivamente alguns(mas) jogadores(as), treinadores(as) e diretores(as) sinto que fiz o meu papel e ficarei realizado.
"Tenho o sonho de treinar uma equipa de Champions League"
- Como imagina o futuro da modalidade em Portugal?
- Imagino o andebol a seguir o caminho do futebol, com o que isso tem de bom e de menos bom. Estamos nos grandes palcos de todas as variantes e géneros da modalidade e isso é algo que aumenta a motivação de quem participa na modalidade, ajuda a angariar mais atletas e agentes e aumenta o poder comercial da modalidade que é fundamental para que haja investimento.
- E o seu próprio futuro?
- Quanto ao meu futuro, claro que tenho o sonho de treinar uma equipa de Champions League ou numa seleção nacional sénior, seja como principal ou como adjunto. No entanto, estou focado no Almeida Garrett, no trabalho diário e presente porque a vida desportiva que tenho de 23 anos como treinador me ensinou que o mérito não é bem aquilo que numa primeira fase determina as portas que se abrem… Portanto, confio que aquilo que vou fazendo diariamente, com todos os que me rodeiam e a quem agradeço o tão decisivos que são, será recompensado no futuro.
- Obrigado, Luís.
- Agradeço a oportunidade de poder partilhar um pouco mais do meu caminho e com isso poder também dar exemplo às atletas que o caminho para o topo é uma maratona e que no final o que fica é aquilo em que nos transformamos e o que deixamos por onde passamos.